quarta-feira, 6 de julho de 2005

Uma mão cheia de nada …

Até agora, inibi-me de fazer qualquer comentário ao famoso Programa de Investimentos em Infra-Estruturas Prioritárias (PIIP) dado não ter conhecimento detalhado das várias propostas sectoriais. Agora já o posso fazer, ainda que me faltem as palavras para caracterizar tamanha demagogia.

Este PIIP é precisamente o contrário do tão prometido “choque tecnológico”. Salda-se no retomar da velha mania das obras de regime sem se saber ao certo em que é que contribuem para o desenvolvimento do país. Das que não são obras recupera ideias e programas já previstos, à espera de financiamento.

O investimento no conhecimento e informação – talvez o único invocado que permite “alavancar” o desenvolvimento tecnológico – remete-se para o que a PT e outros operadores já estão a fazer no domínio da banda larga. Com ou sem PIIP, esse investimento estava em curso.

O mais triste é não se detectar qualquer intenção com a educação e a investigação científica. Com uma pequeníssima percentagem dos valores anunciados seria possível renovar, no prazo de dois ou três anos, toda a rede de escolas do primeiro ciclo e pré-escolar. Se assim fosse seria possível já ter o inglês, a matemática, o desporto escolar, o ensino experimental das ciências, … para todos! Com uma pequena percentagem seria possível manter e qualificar a actual rede de escolas profissionais e tecnológicas para formação de quadros médios especializados. Com uma pequena percentagem desses valores seria possível construir três ou quatro grandes parques de I&D onde se concentrassem recursos e massa crítica em domínios fundamentais do desenvolvimento tecnológico.

Mas, não! Preferimos a argamassa betonada da nossa ignorância e atraso cultural.

De cada vez que o espavento governamental se manifesta vêm-me à memória as palavras de Anselmo de Andrade com que iniciámos este blog, precisamente quando nos acenam com uma mão cheia de nada e outra de coisa nenhuma.

1 comentário:

  1. Anónimo15:19

    E o mais extraordinário é que não existe, mesmo no betão, uma só ideia, um só projecto verdadeiramente novo. E sobretudo ninguém no governo se acha no dever de comentar as críticas fundamentadas que têm sido formuladas quanto à sustentabilidade e nalguns casos à utilidade de alguns investimentos.

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