É de uma grande monotonia a nossa história financeira. Nas suas linhas gerais cifra-se em gastar mais do que se tem, fazer deficit e pagar mais tarde com empréstimos. Tal é o seu lacónico sumário.
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Causas de ordem económica, e causas de ordem política, explicam esta desagradável situação. As guerras, as aventuras marítimas, o estímulo das grandezas alheias, a paixão do fomento, o progressivo alargamento da acção do Estado, a diminuição do poder comprador da moeda, foram causas económicas de aumento das despesas, e da consequente acumulação de dívida. Acrescentem-se as causas de ordem política, como são as tendências a considerar cousa alheia o dinheiro do Estado - como se o Estado não fôssemos nós todos - e a geral ambição de melhorar as condições de vida, tão própria do nosso país como de outros, sem distinção de território, de clima, de população ou de forma de governo, e está explicada a persistência do deficit orçamental, e a grandeza da nossa dívida pública.
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Não é Portugal, na estreiteza do seu território europeu, menos difícil de governar do que outras nações de maior quinhão na carta do mundo, sendo deveras complicado o seu organismo nacional. Na sua composição entraram tão variados e opostos elementos, sem nenhum preponderante a dominá-los e a dirigi-los, que logo desde o seu princípio lhe faltaram a coesão e a unidade, que o absolutismo lhe emprestava, mas que nunca veio propriamente a adquirir, e portanto o espírito de associação e solidariedade, que são as suas consequências. Da falta destas qualidades, indispensáveis para que uma nação seja um todo bem composto, resultou uma anarquia mansa, que neste meio de impulsivos meridionais se manifesta muitas vezes pela indisciplina em baixo, e pela desunião em cima.
Anselmo de Andrade, Relatório e Propostas de Fazenda, 1911.
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