terça-feira, 30 de dezembro de 2014

Europa, 2015

Anda por aí muita gente alterada pela forte probabilidade do Syriza vencer as eleições legislativas antecipadas na Grécia. Confesso que não me surpreende a chegada do Syriza ao poder, ou pelo menos a possibilidade de condicionar a governação grega nos próximos tempos. Syriza na Grécia, Podemos em Espanha à esquerda da esquerda; Frente Popular e outros movimentos da extrema direita em França e noutros Estados da UE, são o resultado quase natural da desideologização, da falta de princípios, da inferioridade moral, da mediocridade das lideranças, numa palavra, da falência dos partidos tradicionais. Pode a emergência destes movimentos, uns mais orgânicos que outros, revelar-se profilática de antigos e novos males europeus? Pode. Mas pode também significar a confirmação da secular tradição europeia para a irreparável desunião.

10 comentários:

  1. Eu não diria que a europa t uma tradição de desunião. Desde há seculos que a tendência de longo prazo até é a união. Mas concordo que pode ser muito positivo para todos os outros "povos infelizes" aprenderem que nada é mau o suficiente para não ficar pior.

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  2. Anónimo13:32

    Caro Ferreira de Almeida, uma dúvida que tenho, desde logo quanto a Espanha mas também talvez quanto à Grecia embora este último não conheça tão bem. Em Espanha dificilmente esse horror de partido, Podemos, formará governo. Mesmo tendo que engolir um sapal inteiro cada um, PP e PSOE coligar-se-ão sendo preciso. Mas, assumamos que a aberração formava mesmo governo. As Forças Armadas deixariam? Penso (e espero sinceramente) que não. As Forças Armadas Espanholas ainda têm algum peso na vida institucional do Reino.

    Na Grécia não sei se será muito diferente. As Forças Armadas Gregas são ferocissimamente anti-vermelhuscos.

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  3. Meu caro Zuricher, não estou tão certo que as forças armadas sejam hoje as "guardiãs da ordem estabelecida" como foram outrora. Nem em Espanha, nem em qualquer outro país europeu. Pode ser erro de perceção da minha parte, mas as tradicionais forças internas ao Estado também elas estarão penetradas pelas várias sensibilidades políticas, designadamente pelas sensibilidades que impulsionam as forças emergentes à direita e à esquerda.
    Há meses, por cá e a propósito de uma homenagem a uma das poucas referências militares vivas da nossa democracia - e a quem a democracia muito deve - percebi isso mesmo de entre os muitos militares que ali compareceram. Todos ou quase todos comentavam que essa parte do regime se aproximava do fim. Referiam-se, claro está, ao atual sistema de partidos e à falta de valores seguros em que repousa. Não percebi que estivessem dispostos a contribuir para isso de outra forma que não pelo normal exercício dos seus direitos de cidadania.

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  4. Recuemos à pré-eleição de Lula da Silva no Brasil.
    Que diferenças há entre o que se disse na altura sobre o dilúvio que submergiria o Brasil e o que se diz hoje sobre o dilúvio que submergirá a Grécia.
    Depois da prática lulista, o que se condena mais em Lula foi ter-se convertido com demasiada rapidez e à vontade aos ditames da corrupção endémica do «statu quo». Acabou por ficar demasiado igual ao que combatia, mas o Brasil não submergiu como esperavam (desejavam) as aves agoirentas.
    As mesmas apreciações, o mesmo futurismo político hoje.
    É bom ler o que Tsypras disse no 1.º comício pré-eleitoral, aqui:
    http://www.publico.es/internacional/tsipras-pide-acabar-relatos-terror.html
    E ver a atitude responsável que tomou na eleição de Jan Claude Juncker, atitude, essa sim, respeitadora da Democracia com D maiúsculo.
    Mas quando a realidade atrapalha a narrativa, para certas pessoas o melhor é esquecer-se a realidade.
    Não estou certo de que a chantagem (em vez da luta política legítima, mesmo que dura, não me incomoda a dureza de argumentos, mas incomoda-me a chantagem) não consiga os resultados que pretende, mas preferia mil vezes luta política legítima.
    E que o Tsypras, se ganhar, que fosse realista e que os «democratas encartados» o deixassem governar sem golpes baixos.
    Mas que reforçasse responsavelmente o prato da balança dos que reclamam medidas menos agressivas do que as que têm estado a ser impostas draconianamente aos estados pelo «directório» unipolar alemão. Afinal, o caminho seguido pela Espanha foi igual ao português? Porque? Porque os espanhóis têm muito mais amor-próprio do que nós e muito maior peso negocial na UE. E porque têm violado o Tratado impunemente a França e a Itália? Porque têm peso negocial na EU.
    Não tendo a Grécia o peso negocial dos 3 países anteriores, pode ajudar o prato da balança da moderação austeritária. (É bom ler o artigo do Paul DeGrawe no último Expresso, não sobre a Grécia mas sobre algo de importante que tem estado em causa na política europeia)
    O colete-de-forças a que os estados estão sujeitos não permite a nenhum líder fazer loucuras, seja Tsypras ou outro, mas permite-lhe ajudar a inflectir caminho.
    Veja-se o que o PCP faz nas autarquias portuguesas, em Loures, em Oeiras, no Porto, em 2006, sempre aliado do PSD ou afins. Quanto à política fiscal autárquica, tão inimigo dos munícipes com as piores câmaras dos outros partidos, sim, porque há muito boas câmaras em todos os outros partidos, e más também. Nas do PCP só há más).
    Termino com a lapidar frase de João Pinto, do FCP: prognósticos só depois do jogo.

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  5. Meu caro João Pires da Cruz, discordo com base na mera observação da História da Europa. Desde o feudalismo que as pulmões nacionalistas são bem mais fortes do que os episódios de gregarismo político, quase todos eles feitos por via das uniões reais. A exceção foi este período do pos guerra.

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  6. Meu caro Manuel Silva, agradeço a partilha da sua reflexão. Também eu espero e desejo que os partidos e movimentos, quaisquer que sejam, se comportem razoavelmente. A medida do razoável é que não é consensual...
    Quanto aos prognósticos no fim do jogo, aí é que já não estou de acordo com o meu Amigo. É que este é o jogo do futuro dos europeus, das pessoas concretas e o que se ganha ou se perde não é uma medalha ou uma taça, um lugar no ranking. Quando se trata do presente e do futuro dos povos, diz-nos a História que é conveniente pensar nas consequências dos atos antes que os seus efeitos se tornem irreversíveis. E já agora, afastar os loucos.

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  7. Caro JM Ferreira de Almeida:
    Como facilmente compreenderá, o meu comentário não era dirigido ao seu post, que considero ser uma reflexão de fôlego e muito pertinente.
    Ao contrário do que leituras apressadas do que digo a isso possam levar, não sou adepto de irresponsabilidade política nem de esxperimentalismos, mas há limites profiláticos que não se devem ultrapassar.
    Não se pode recear um tipo de extremismo e apoiar acriticamente outro, considerando-o a única via possível.
    Basta comparar o percurso português com o espanhol para se ver que há mais do que um caminho para se chegar ao mesmo ponto: de preferência sem ir de joelhos.

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  8. Anónimo20:24

    Caro Ferreira de Almeida, olhe que as Forças Armadas Espanholas são muito diferentes das Portuguesas. Aliás, ler as revistas militares do Reino e acompanhar com alguma proximidade o que por lá (na instituição militar) se vai passando é um exercício muito útil.

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  9. Talvez sim Zuricher. Não conheço bem essa realidade. Mas a sentimento não creio que existam condições para sublevações, salvo, claro, se a situação política e econômica se degrada a ponto de por em causa instituições fundamentais do Estado. Creio estarmos longe disso, mas...

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  10. De acordo meu caro Manuel Silva.

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