domingo, 2 de janeiro de 2005

2005 Ano de eleições. Que opções?


Em menos de um ano, realizar-se-ão três actos eleitorais com importância redobrada, ficando ainda para esclarecer a realização do referendo sobre o Tratado Constitucional da União Europeia. A proximidade desses actos e sua sequência exigirão visão estratégica e uma mobilização de recursos políticos que sai fora do curso normal do tradicional calendário político. Para cada uma das principais forças em presença as perspectivas são claramente divergentes, senão mesmo antagónicas. Vejamos por partes:
1. O PSD terá a tarefa mais difícil. Para além de ter de suportar o principal ónus da governação e da crise económica e social, terá uma dificuldade acrescida: optar entre reafirmar a herança reformista do projecto do Governo de Durão Barroso ou distanciar-se, não tendo em alternativa qualquer projecto estruturado para o futuro do país. Como forma de fugir a essa opção, tentará centrar na imagem do seu líder o esforço de campanha, dramatizando e se possível reforçando a componente emotiva da escolha eleitoral. Esta solução dificultará a já de si difícil campanha autárquica. Com o actual número de câmaras é difícil ao PSD fazer melhor, a probabilidade de perder é claramente superior à de ganhar, a fortiori nas três ou quatro grandes cidades. Nesta eleição os candidatos falarão por si, à falta de um referencial a que se agarrar. Restam as presidenciais, onde o PSD corre o risco de se distanciar – ainda mais do já está - do seu candidato natural, em qualquer dos cenários saídos das eleições anteriores.
2. Ao PS corre-lhe o vento de feição. A liderança saída do seu último Congresso bem como a estratégia sufragada são simples e transparentes: regresso ao guterrismo puro e duro com a reafirmação do programa político que o caracterizaram e, agora, com o seu candidato natural à Presidência da República: António Guterres. Por analogia com a prática editorial, diríamos que se trata de uma reimpressão, muito longe de qualquer edição revista e aumentada. O PS assume em pleno a sua própria herança, fazendo crer que o seu peso é bem mais positivo que o deixado pelo PSD. O seu êxito depende da memória dos eleitores portugueses, de quem a faça avivar ou adormecer.
3. O desafio para o CDS/PP e para o PCP é o de defender o respectivo limiar de representatividade e, entre os dois, lutar por conquistar o estatuto de terceira força política. Tarefa aparentemente mais facilitada para o CDS/PP que tentará capitalizar alguns feitos da governação, transferir o ónus para o PSD e credibilizar-se junto de algum eleitorado independente do centro-direita. Para o PCP, o desafio, bem mais difícil, será o de contrariar a tendência para o voto útil no PS, a fuga do voto radical para o BE e o já estrutural declínio demográfico e político do seu eleitorado tradicional.

Resta saber, no meio de tudo isto, que benefício tirará o país, confrontado pelo agudizar dos seus problemas estruturais e pela tradicional contenção reformista de um ano de eleições. Para agravar as perspectivas lembre-se o que geralmente acontece à despesa pública nestas conjunturas políticas: a factura aparece sempre depois, no final do “almoço”. Mesmo que a queiram mandar para Belém, o chefe já lá não está.

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