Sem entrar nos domínios da ciência política ou do direito (por falta de conhecimento ou experiência, deixo-os para uma melhor exploração ao JM Ferreira de Almeida) a noção de responsabilidade política decorre, objectivamente, do exercício das competências inerentes a um determinado cargo, subjectivamente, da observância de valores e princípios que se inscrevem no domínio da ética política.
Sobre este conceito paira uma indefinição pouco saudável para o funcionamento do sistema democrático. Em primeiro lugar, coloca-se o problema da diferenciação entre responsabilidade política de um detentor de um cargo superior da hierarquia do Estado e a responsabilidade do próprio Estado perante os cidadãos e a própria sociedade. Quer num caso quer noutro, a responsabilidade política não exclui a responsabilidade civil ou criminal.
O que se tem observado na história política recente resume-se a uma sobrevalorização da responsabilidade política dos detentores de cargos políticos nos mais elevados níveis da hierarquia do Estado, desvalorizando outros níveis de responsabilidade repartida. A este facto não será estranha a prática de desautorização pública desses detentores como forma privilegiada do exercício de oposição. Há, assim, uma tendência para subsumir toda a responsabilidade repartida (política, técnica, administrativa) na responsabilidade política do mais alto responsável do cargo que tutela o sector. Por exemplo, a um Ministro tende-se a assacar a responsabilidade de todos os actos, não só os decorrentes do exercício directo das suas competências, mas de todos os actos ou omissões consequentes à concretização das suas decisões. Levada ao extremo, esta tendência conduzirá, mais tarde ou mais cedo, à inacção e bloqueio do exercício da governação. A responsabilidade política poderá constituir-se como um dissuasor da decisão, nomeadamente da concretização de opções de elevado risco político.
Para não ser advogado em causa própria, recorro a um dos exemplos mais paradigmáticos da recente história política: a demissão do então ministro Jorge Coelho na sequência da queda da Ponte de Entre-os-rios. Devo confessar que, exercendo então o cargo de deputado, apenas compreendi a sua atitude no âmbito da responsabilidade subjectiva, aquela que tem a ver com princípios e valores, do domínio da ética política. Não havia responsabilidade política objectiva, por acção ou omissão, que justificasse a sua decisão. Só a perspectiva de uma “guerra sem tréguas” à sua continuidade e à sua autoridade ajuda a compreender o seu afastamento.
Como vêem o campo de debate é vasto. Um dos aspectos desse debate é o da “sanção” associada às consequências de uma responsabilidade política apurada, que ficará para um “post” futuro, nomeadamente no caso concreto do “concurso de professores”.
Uma vez esgotado este tema da responsabilidade política, sem dúvida alguma interessante, sugeria-lhe a abordagem futura de um outro, quiçá ainda mais estimulante: a "responsabilidade histórica" da nova geração de políticos em descolar o país de alguns dos paradigmas da Terceira República.
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