Educação – Como sintetizar em poucas linhas trinta anos de tão complexas mudanças? Tentemos através de três ideias: massificação, desregulação, frustração. O processo real de massificação do ensino acelerou a “abertura controlada” que já vinha da década de 60: maior acesso ao sistema educativo, mais alunos, maior escolarização relativa e absoluta através de um crescimento “a reboque” da pressão demográfica. Nos últimos dez anos a tendência inverteu-se sem que se tenha repensado o “investimento na educação”. A consequência imediata desse crescimento e da fragilidade política do ME conduziu a uma maior desregulação. À velha regulação burocrática e autoritária do Estado Novo, sucedeu-se um misto de burocracia iluminada, mas sem eficácia, e uma progressiva afirmação da autogestão das “comunidades educativas”. As transformações operadas nas estruturas familiares e nos sistemas de comunicação fizeram o resto: as famílias desresponsabilizaram-se do processo educativo, os sistemas de comunicação diversificaram-se e passaram a concorrer directamente com a escola na produção e difusão de valores, quantas vezes contraditórios. Frustração é o sentimento instalado, resultado de expectativas muito elevadas, mas também muito desfasadas da realidade social, cultural e educativa da sociedade portuguesa. Pensou-se que era possível ter mais e melhor educação abdicando de princípios tão elementares como o valor do trabalho, do treino, da exigência, da disciplina e da formação do carácter. Consequência: ao sistema educativo socialmente restritivo do Estado Novo, sucedeu-se um novo sistema que criou a ilusão do acesso generalizado, mas que é marcado pelo insucesso e o abandono escolar desqualificado. O mecanismo de reprodução das desigualdades sociais alterou-se, não as atenuou.
Formação Profissional – Não foi propriamente uma consequência directa da Revolução. Deve-se, neste aspecto, muito mais à integração europeia. Porém, é um dos maiores insucessos da sociedade portuguesa da era democrática. Os muitos milhões de euros investidos em mais de vinte anos deram como resultado uns dos mais baixos indicadores de produtividade do trabalho e de qualificação da mão-de-obra. A formação profissional acabou por ser uma forma de injectar o consumo e de esconder as taxas de desemprego. Sempre foi perspectivada no quadro das políticas de emprego e raramente no da qualificação dos activos.
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