sábado, 30 de abril de 2005
Áreas Protegidas - V - Reserva Natural das Lagoas de Santo André e da Sancha
Ao sul, um dos pontos mais importantes de passagem e nidificação para diversas aves migratórias, uma reserva natural criada em 2000 que integra dois sistemas lagunares: Santo André e Sancha no concelho de Santiago do Cacém, entre a Costa de Santo André e o sopé da Serra de Grândola.
A logoa de Santo André, de características eutróficas com água salobra e separada do mar, tem uma superfície variável, tendo atingido das extensões menores do espelho lagunar este ano, por via da seca. A área média é de 170 ha. Mas no Inverno pode chegar aos 360 ha.
Zona húmida classificada como ZPE - Zona de Protecção Especial e um dos 12 sítios nacionais da rede Ramsar (zonas húmdas de importância internacional, inscritos na Convenção de Ramsar), constitui quase toda ela e a área envolvente, património do Estado, gerido pelo Instituto da Conservação da Natureza, o que obviamente facilita a promoção de medidas activas de protecção de espécies e habitats, mas também actividades de educação ambiental e investigação científica.
Este sistema lagunar é um importante "reservatório" de diversidade biológica, dado que resulta da confluência de meios marinhos, e das influências dulçaquícola e terrestre.
É um exemplo de área importante para as políticas de conservação da natureza onde a "ajuda" do Homem à natureza é essencial para a continuidade deste espaço. É que, quase todos os anos desde o século XVI, se torna indispensável abrir a Lagoa de Santo André ao mar, permitindo a renovação dos stocks biológicos e continuar a desempenhar a sua função de nursery de muitas espécies, algumas delas com importância ecónomica para a região, como é o caso da enguia. Há, porém, quem garanta o seu inevitável desaparecimento nos próximos 200 anos.
Só na Lagoa de Santo André encontram-se inventariadas 106 espécies de aves aquáticas e 112 espécies de aves terrestres. O Galeirão é das espécies mais vistas. No corpo central da Lagoa não se fazem sentir os efeitos das marés, constituindo o habitat ideal para um elevado número de patos mergulhadores como são os casos do Pato-de-bico-vermelhoe dos Zarros.
Nas margens desenvolvem-se outras espécies como os patos de superfície e as aves limícolas que estão presentes quase todo o ano.
A importância da preservação destes habitats decorre ainda de aqui terem sido observadas 4 espécies de aves consideradas "em perigo" no Livro Vermelho dos Vertebrados de Portugal: a Cegonha-negra, o Abetouro, o Caimão e a Águia-pesqueira.
Numa altura em que se diz mal de tudo quanto se refere ao ordenamento do território, ao ambiente e à conservação da natureza e da biodiversidade, importa afirmar que existem exemplos de sucesso. É o caso, para mim, desta Reserva Natural. Pese embora a escassez de meios que atinge toda a rede nacional de áreas protegidas, consegue-se aqui realizar um trabalho notável designadamente no capítulo da educação ambiental. É claro que para os sucessos contam muito as pessoas e desconfio que parte deles se devem à Directora, Ana Vidal, que conheci um dia e em quem reconheci aquele entusiasmo e aquele brilhozinho nos olhos muito próprios de quem, com generosidade, se dedica à causa do ambiente. Apesar dos detratores, mas felizmente acima deles...
Para os interessados ou simplesmente curiosos destas coisas, dois bons guias. O primeiro, é uma obra colectiva, editada pelo ICN, dedicada aos sítios Ramsar em Portugal. Títula-se Zonas Húmidas Portuguesas de Importância Internacional. O outro é um livrinho de Miguel Lecoq e de José Projecto, com excelentes ilustrações deste último, editado pela extinta Direcção Regional do Ambiente do Alentejo sob título Aves da Costa Alentejana.
Dois estudantes de engenharia do ambiente da EST/IPS (Setúbal), agradecem do fundo do coração esta pequena informação sobre esta reserva natural
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