quarta-feira, 11 de maio de 2005

António Ramos Rosa



Nascimento último

Como se não tivesse substância e de membros apagados.
Desejaria enrolar-me numa folha e dormir na sombra.
E germinar no sono,germinar na árvore.
Tudo acabaria na noite, lentamente, sob uma chuva densa.
Tudo acabaria pelo mais alto desejo num sorriso de nada.
No encontro e no abandono, na última nudez,
respiraria ao ritmo do vento, na relação mais viva.
Seria de novo o gérmen que fui, o rosto indivisível.
E ébrias as palavras diriam o vinho e a argila
e o repouso do ser no ser,os seus obscuros terraços.
Entre rumores e rios a morte perder-se-ia.

No Calcanhar do Vento (1987)

4 comentários:

  1. Belissimo poema. No limiar da utopia, o desejo de renascer sem sentir a morte ou o anseio de nos libertarmos do que nos tolhe os movimentos e nos distrai da essência do ser.

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  2. Anónimo09:55

    Marga, agradeço-lhe a simpatia. O poema é de Ramos Rosa.
    Algumas notas sobre o Autor em http://www.citi.pt/cultura/literatura/poesia/ramos_rosa/

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