domingo, 29 de maio de 2005

Áreas Protegidas - VII - Parque Natural da Arrábida



"Os olhos meus dali dependurados,
pergunto ao mar, às plantas, aos penedos,
como, quando, porquê foram criados"
Frei Agostinho da Cruz

É Reserva Biogenética assim classificada pelo Conselho da Europa.
Sítio da Rede Natura 2000.
Nasceu no papel em 28 de Julho de 1976, pelo Decreto-lei nº 622. E tem, como nenhuma outra área protegida, vivido sob o signo da constante polémica. A Arrábida constitui o laboratório de todos os conflitos de interesses que a conservação da natureza e da biodiversidade inevitavelmente suscitam. Mas a Arrábida tem sido o paradigma da hipocrisia. Passaram a "amá-la" subitamente muitos dos que, por razões de pura defesa da fazenda pessoal mas também por razões de conveniência política, têm empunhado as bandeiras do ambientalmente correcto. À sombra dessas bandeiras se têm protegido e defendido interesses que nada têm que ver com os que justificaram a criação do Parque.
Os episódios - alguns recentes - acerca da protecção ambiental da Serra da Arrábida e sobre estes eco-amores subitamente declarados, constituem testemunho do que tem sido o ambientalismo em Portugal. Mote excelente de investigação se alguém seriamente estivesse interessado em fazer a análise da história da conservação da natureza em Portugal nos últimos anos.
A este assunto e a propósito do Parque Natural da Arrábida (que até viu nascer associações ambientalistas para defesa de edificado clandestino!), voltarei - talvez - um dia, embora suspeite que o espaço de um blog não sobrará...
Até à aprovação do Plano de Ordenamento, o Parque continua a abranger uma área de mais de 16500 ha, nos Concelhos de Setubal, Sesimbra e Palmela, dos quais 5700 do domínio marítimo, esperando-se a (já tardia) efectiva criação do Parque Marinho Professor Luiz Saldanha onde está recenseada numerosa flora e fauna marinhas de elevado valor conservacionista.
A parte terrestre do Parque estende-se pelo momumental maçico calcário, coberto por significativas associações floristicas mediterrâneas, com especial relevo para o maquis e a garrigue. Algumas espécies da fauna, igualmente de relevo, marcam ali presença.
Como sempre ali marcou presença o Homem. O Parque é também o resultado da ocupação humana, e a sua importância deriva dos sinais passados e actuais dessa presença. Testemunhos de épocas muito remotas como são os imensos vestígios pré-históricos; ou mais próximas dos nossos dias, como é o caso do misterioso Convento da Arrábida, dependurado numa das encostas sobre o mar.
Mas é também o repositório de culturas, de actividades e de produtos tradicionais como o moscatel de Setúbal ou o queijo de Azeitão.
Do topo da Serra do Risco que abruptamente se precipita 400 metros sobre o mar, olhando a paisagem, entende-se a interrogação de Frei Agostinho da Cruz...

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