quarta-feira, 20 de julho de 2005
Ainda as Castas: um brâmane a pedir esmola?
O comentário do Prof. Massano a um post anterior sobre as castas, leva-me a contar a seguinte história, que ilustra como a ideia de casta ainda está arreigada na sociedade indiana.
Passeava, a pé, conversando com o guia, na cidade de Jaipur.
Ao virar de uma esquina, vejo um indiano, montado num enorme elefante, em atitude que me pareceu de pedir esmola aos turistas que passavam.
Parei um pouco, a apreciar a cena.
O guia também parara dois passos à frente.
Quando lhe ia perguntar se o sujeito estava mesmo a pedir esmola, ouvi o guia exclamar, de forma expontânea e em alta voz: um brâmane a pedir esmola?
Para mim, a curiosidade era alguém pedir esmola montado num elefante; para o meu guia indiano a estupefacção era ver um brâmane, membro da classe mais elevada, a pedir esmola!...
Este simples episódio do comentário do guia ilustra como, de facto, a ideia de casta ainda está presente nas mentalidades: um brâmane nunca poderia pedir esmola!..
Perguntei ao guia se já ia havendo casamentos entre brâmanes e párias, a classe mais baixa.
O guia explicou-me que um verdadeiro brâmane, mesmo muito, muito pobre, nunca daria o seu consentimento para um filho ou filha casar com um pária, mesmo muito, muito rico.
E sem consentimento dos pais, dificilmente há casamento entre os hindús.
Embora os membros das diversas castas já não sejam distinguíveis pelo aspecto exterior, todavia são perfeitamente distinguíveis pelo nome.
No entanto, mercê da quota de 30% para párias introduzidas no acesso às Universidades, tem havido progresso no que respeita à igualdade entre indianos e à ocupação de lugares públicos.
Por exemplo, o actual Presidente da República é um pária.
Uma curiosidade no que respeita às quotas dos párias para entrada nas Universidades: como tudo na Índia, também podem ser transaccionadas!... Basta acertar o preço!...
Que história tão interessante, Pinho Cardão, creio que a sua viagem à Índia vai aumentar o turismo dos portugueses por lá. Realmente é muito difícil mudar uma organização social milenar, já é um avanço fantástico quando se consegue disfarçar os preconceitos ou introduzir medidas para ir mudando a pouco e pouco as condições de vida que os alimentam. Mas que eles estão lá e se maifestam na primeira oportunidade, é um facto que a sua história tão bem contada ilustra na perfeição. Parabéns e uma vez mais muito obrigada pelo seu diário de viagem na Índia.
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