quinta-feira, 18 de agosto de 2005

Precipitações

Ontem ouvi, incrédula, uma conferência de imprensa de militares que davam conta da sua indignação com as medidas anunciadas pelo Governo e que, a serem concretizadas, atingiriam o seu actual estatuto. Perguntados pelo jornalista até que ponto iriam os seus protestos, um dos militares disse que isso se veria, enfim, ainda não podiam adiantar nada, mas que o Senhor Ministro da Defesa teria dito, à despedida da audiência que lhes tinha dado, qualquer coisa como "Os senhores é que sabem o que hão-de fazer. Os senhores é que têm as armas..." Esta inacreditável frase (que eu saiba, não foi desmentida) foi ionvocada como possível resposta à jornalista, ou seja, se o próprio Ministro admitia que eles tinham as armas, ele lá sabia o que podia acontecer!
Ouvi também a notícia bombástica da "corrida às aposentações" por parte dos funcionários públicos, antes que o Governo ponha em prática a tão anunciada mudança no regime. Supunha eu que isto estivesse previsto. Mais, pensei que fosse desejado, tal o ênfase ameaçador com que as eventuais medidas foram divulgadas.
Enganei-me. O Governo, em pânico, apressou-se a mandar uma cartinha aos serviços para acalmar os ânimos, dizendo que não há motivo para precipitações porque o assunto ainda está a ser negociado com os sindicatos...!
Depois da revoada de medidas que deixaram exausto o ex-ministro das Finanças só de as anunciar, temos o rescaldo - vamos com calma, não levem isto muito a sério, é para conversarmos, logo se vê.
Mas cada um usa as armas que tem...

6 comentários:

  1. Também foi por causa do dito estatuto dos militares e outras regalias que se deu o 25 de Abril.
    De facto, «.. logo se vê.
    Mas cada um usa as armas que tem...»

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  2. "Os senhores é que têm as armas" (sic). Foram com essas armas que se possibilitou que esses mesmos senhores pudessem estar no poder num regime de democracia. Não há respeito. Já era na minha altura e agora não será diferente. Os socialistas sempre invejaram a classe militar. Todos os militares sabem que com um governo de esquerda não se pode estar à espera de outra coisa que uma bofetada na alma castrense. E o Exército a salvar pessoas e bens nestes últimos fogos ...

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  3. Pareceria mais sensato que o governo,remotos já os tempos da brasa e num quadro de pertença à UE, não assumisse como uma impossibilidade real um golpe militar. Era mais elegante e evitava provocar, desnecessariamente, a fúria castrense. Até porque quando se brinca com armas nunca se sabe o que poderá acontecer.

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  4. O que resulta evidente é a falta de gestão política (não confundir com gestão mediática...)da acção do Governo. Como diz o David Justino, disparam com bisnagas e depois retiram-se em boa ordem perante as reacções. Não está em causa a necessidade de algumas medidas que afectam as corporações ou os direitos actuais das pessoas, o que é grave é que se identifiquem as questões, se anunciem cobras e lagartos e depois não se saiba por onde começar, dando espaço à afirmação de contestações ou reacções que não se sabe como gerir ou enfrentar.Pelo menos é o que parece.

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  5. Não sei se já ouviram falar de Gheorghe Paschu. Trata-se, ou melhor, muito provavelmente tratava-se de um cidadão romeno que tinha a particularidade de se lançar para a frente de um carro sempre que via um. Constituía o seu passatempo preferido, devidamente testemunhado pelas inúmeras fracturas e estadias nos hospitais. Além do comportamento obsessivo-compulsivo afirmava que estava também farto da democracia, do totalitarismo, enfim de tudo.
    Lembrei-me deste episódio a propósito das afirmações do Ministro da Defesa, segundo o qual, de acordo com o post da Suzana, terá dito: "Os senhores é que sabem o que hão-de fazer. Os senhores é que têm as armas...".
    Provavelmente deve ser um “George Paschu”. Convém avisar o Senhor Ministro que na Roménia as companhias de seguro acabaram por recusarem pagar as contas ou a fazerem qualquer tipo de seguro…

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  6. Eles andam a brincar com o fogo...qualquer dia queimam-se...

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