Tive vontade de escrevinhar aqui algo sobre a questão da intenção de venda de uma posição dominante na TVI à espanhola PRISA quando li, não sem alguma surpresa, o desassombrado artigo publicado no Expresso em que João van Zeller explica as razões do seu afastamento.
A coisa não provocou muita agitação ao contrário do que estava à espera.
Uma proclamação pouco audível do lider da oposição e o esperado assobiar para os passarinhos por parte do governo e do PS.
Veio de novo o ex-administrador da Media Capital falar. Agora ao DN.
Insiste em pontos de vista, alguns juízos e afirmações que não podem deixar de fazer pensar, tendo sobretudo em memória o episódio do pretenso afastamento do Prof. Marcelo Rebelo de Sousa da TVI, "facto" que segundo muitos dos omnicientes comentadores e analistas cá da praça fez estremecer perigosamente a independência da comunicação social e quiça a própria democracia. Recordo-me também do alarido então feito pela oposição, em especial aquela que é hoje poder.
Parentêsis: achei, na altura, que tais reacções constituiram um enorme elogio às capacidades do então ministro Rui Gomes da Silva, até áquele momento desconhecidas de muitos dos que com ele alguma vez privaram...
Mas neste concreto caso, o ex-administrador de um dos principais grupos da comunicação social, diz nem mais nem menos do que isto: "Esta operação insere-se num movimento que historicamente se tem vindo a verificar, que é a iberização de Espanha, ou seja, segundo um artigo recente do general Loureiro dos Santos, citando o La Vanguardia, é intenção de Espanha "completar a península inacabada", não hesitando em dizer também esta coisa espantosa: "Saí devido ao desacordo em relação a dois riscos que não posso subscrever, mas que resultam numa operação com vários aspectos positivos. Um risco ligado à vulnerabilidade da independência editorial e outro à vulnerabilidade da nossa identidade nacional. Isto porque, sendo a área da comunicação social estratégica em Portugal, existe a necessidade de afirmação e permanente defesa dos seus valores essenciais".
Perante isto e o demais que se lê no artigo e na entrevista - e nas entrelinhas - é de esperar que se levantem contra esta ameaça, de imediato e em força, os habituais combatentes pelas liberdades, ciclamente ameaçadas por forças estranhas de misteriosas origens. Os sempre prestimosos guardiões da República. Os ciosos defensores dos centros de decisão nacional. Os inimigos declarados da globalização. Os opositores das deslocalizações ou qualquer outra forma de retirada do controlo interno daquilo que é legitimamente português.
Tal mobilização é um imperativo destas privilegiadas consciências, até porque a ameaça está bem identificada e as cumplicidades políticas claramente denunciadas.
Bem sei que o ministro das comunicações já desmentiu qualquer envolvimento do governo e do partido que o sustenta, no assalto à TVI.
Mas é já de si muito preocupante este afirmado alheamento do assunto por parte do governo perante depoimentos de alguém que necessariamente participou no processo de alienação do controlo da TVI e que nos diz que a operação tem uma motivação política mais do que uma razão financeira. Circunstância que não passará despercebida a tais patriotas, estou certo...
- Cínico, eu?!
A coisa não provocou muita agitação ao contrário do que estava à espera.
Uma proclamação pouco audível do lider da oposição e o esperado assobiar para os passarinhos por parte do governo e do PS.
Veio de novo o ex-administrador da Media Capital falar. Agora ao DN.
Insiste em pontos de vista, alguns juízos e afirmações que não podem deixar de fazer pensar, tendo sobretudo em memória o episódio do pretenso afastamento do Prof. Marcelo Rebelo de Sousa da TVI, "facto" que segundo muitos dos omnicientes comentadores e analistas cá da praça fez estremecer perigosamente a independência da comunicação social e quiça a própria democracia. Recordo-me também do alarido então feito pela oposição, em especial aquela que é hoje poder.
Parentêsis: achei, na altura, que tais reacções constituiram um enorme elogio às capacidades do então ministro Rui Gomes da Silva, até áquele momento desconhecidas de muitos dos que com ele alguma vez privaram...
Mas neste concreto caso, o ex-administrador de um dos principais grupos da comunicação social, diz nem mais nem menos do que isto: "Esta operação insere-se num movimento que historicamente se tem vindo a verificar, que é a iberização de Espanha, ou seja, segundo um artigo recente do general Loureiro dos Santos, citando o La Vanguardia, é intenção de Espanha "completar a península inacabada", não hesitando em dizer também esta coisa espantosa: "Saí devido ao desacordo em relação a dois riscos que não posso subscrever, mas que resultam numa operação com vários aspectos positivos. Um risco ligado à vulnerabilidade da independência editorial e outro à vulnerabilidade da nossa identidade nacional. Isto porque, sendo a área da comunicação social estratégica em Portugal, existe a necessidade de afirmação e permanente defesa dos seus valores essenciais".
Perante isto e o demais que se lê no artigo e na entrevista - e nas entrelinhas - é de esperar que se levantem contra esta ameaça, de imediato e em força, os habituais combatentes pelas liberdades, ciclamente ameaçadas por forças estranhas de misteriosas origens. Os sempre prestimosos guardiões da República. Os ciosos defensores dos centros de decisão nacional. Os inimigos declarados da globalização. Os opositores das deslocalizações ou qualquer outra forma de retirada do controlo interno daquilo que é legitimamente português.
Tal mobilização é um imperativo destas privilegiadas consciências, até porque a ameaça está bem identificada e as cumplicidades políticas claramente denunciadas.
Bem sei que o ministro das comunicações já desmentiu qualquer envolvimento do governo e do partido que o sustenta, no assalto à TVI.
Mas é já de si muito preocupante este afirmado alheamento do assunto por parte do governo perante depoimentos de alguém que necessariamente participou no processo de alienação do controlo da TVI e que nos diz que a operação tem uma motivação política mais do que uma razão financeira. Circunstância que não passará despercebida a tais patriotas, estou certo...
- Cínico, eu?!
Quanto à independência editorial estamos com medo de quê? Que a TVI só passe uma versão da rixa de ontem entre os vizinhos de A-dos-Cunhados?
ResponderEliminarNa questão da independência nacional, depois do mercado, depois das fronteiras, depois da moeda, depois de andarmos 20 anos a comer do prato do contribuinte alemão, o problema é uma porcaria de uma estação de televisão que só passa bosta?
Meu caro Tonibler, não estou preocupado nem com a independência editorial que a TVI nunca revelou, nem com a ameaça à independência nacional, desde logo porque estou pouco interessado na nacionalidade da bosta.
ResponderEliminarJá me preocupa que alguém que necessariamente esteve por dentro do processo de alienação de parte do Media Capital diga e rediga sem desmentido convicente, que esta operação tem contornos político-partidários.
E preocupa-me também que, ao contrário do passado, alguns dos "grilos do pinóquio" do nosso regime estejam agora tão estranhamente (ou não) silentes...
Meu caro JM Ferreira d´Almeida, os presidentes dos canais concorrentes, um é nomeado pelo governo, outro é fundador de um partido e referência desse mesmo partido. Não será por aí.
ResponderEliminarA novidade em Portugal era que uma operação financeira deste montante não tivesse 'contornos politico-partidários'. Mas não, não foi nestas últimas semanas que o país mudou.
E, se bem me lembro, o grilo era muito educado. Só falava se não tivesse a boca cheia...
Compreendo a preocupação, mas não vale a pena.
Pronto, meu Caro Tonibler, convenceu-me da inutilidade das minhas preocupações!
ResponderEliminarSó não retiro o post porque um dia voltarei ao tema para glosar uma coisa engraçada que se encontra escrita na Constituição da República.