Escrito em Setembro de 2003, no âmbito da sua participação no Clube de Madrid, o texto publicado na última edição do Expresso, tem um propósito que me parece muito claro: afastar, desde já, o fantasma de uma candidatura pró-presidencialista do seu autor. Cavaco Silva parece dizer a alguns analistas da esquerda algo de muito simples: escusam de me demonizar com a deriva autoritária e com o risco de uma usurpação de competências executivas que essa não é a minha orientação. Ou seja, Cavaco Silva responde agora, para não ter que responder depois … da apresentação da sua candidatura.
Mas há mais no texto de Cavaco Silva.
Trata-se de um claro compromisso (quase uma profissão de fé) com o modelo semi-presidencialista que sustenta o actual regime político. A alterar alguma coisa, só a lei eleitoral o justifica, através da viabilização de maiorias a partir de uma expressão eleitoral inferior aos actuais 44%, com alteração dos actuais círculos eleitorais. A forma como alude à ideia é, mesmo assim, equívoca: “Há quem defenda…”
Um outro aspecto a reter desse texto é a expressão social democrata: “distribuição do rendimento socialmente justa”, “o desenvolvimento equitativo exige que os Governos assegurem uma adequada provisão de bens e serviços sociais”, “políticas que impeçam o agravamento das desigualdades no rendimento e no consumo das famílias”. O recado (ainda que expresso em 2003) parece ser uma resposta à tentativa dos estrategos da esquerda de encostar a sua candidatura à direita.
Ainda que escrito em 2003 este texto mantém uma actualidade impressionante. Por isso se justifica a sua publicação num jornal como o Expresso, de forma a chegar ao maior número e a marcar posição numa pré-campanha já iniciada por Mário Soares.
Em termos políticos e em resumo, só tenho um comentário simples a fazer: brilhante pelo conteúdo e pela oportunidade!
Além da definição da forma como interpretará os poderes Preidenciais, aproveita para dizer Presente, sem ter que o dizer formalmente, ainda, e demostrar uma consistência de pensamento, que solidifica a sua posição e esboroa os que andam a agitar espeantalhos, comop bem notou.
ResponderEliminarSó não perecebo a distracção da imprensa ontem, tão entretida com notícias que duram um dia, uma vez que aquele artigo marca como muita probalidade o paradigma dos próximos cinco anos.
É um texto que vindo de quem vem em nada surpreende... Só os que preferem a política espectáculo à política eficácia...
ResponderEliminarCS faz-me lembrar o piloto de F1 francês Alain Prost...bem me lembro quando era miúdo nenhum dos meus amigos gostava dele, nem percebiam como ganhava corridas e campeonatos...era cinzentão... as suas corridas monótonas... sem fulgor e espectáculo... muito frias mesmo... era muito calculista... mas era terrívelmente eficaz... por isso ganhava... é disso que o país precisa eficácia a todos os níveis... o espectáculo é para o circo.
O «Expresso», nos momentos fundamentais, nunca deixa os seus ficar mal...
ResponderEliminar"Sob o nudez forte da verdade, o manto diáfono da fantasia"
Segue o que eu digo e não o que eu faço? Pois...
ResponderEliminarCom este post, fizeram-me lembrar de uma coisa que me aconteceu na sexta-feira passada.
ResponderEliminarFui ao Chafariz do Vinho (ali ao pé da Praça da Alegria, acho eu), também conhecido pelo Clube dos Enólogos (não, não sou grande conhecedor de vinhos, mas é muito agradável lá ir de vez em quando). Para começar fui contrariado, pois preferia ter ficado em casa a ver o "Exorcist - The beginning", depois ia encontrar alguns amigos cuja tendência política colide frontalmente com a minha.
Apesar da ideia inicial não ser conversar sobre política, a verdade é que a conversa foi lá ter sozinha. Aos primeiros toques, resisti estoicamente à ratoeira, mas a conversa degenerou e foi parar ao tema do Prof. CS. A partir daí, foi o pânico generalizado. Um casal de bloquistas convictos a reclamar dizer o CS isto, o CS aquilo. Deixei-os acabar de falar. Quando terminaram só lhes disse o seguinte: "Na história de Portugal do Século XX só existiram dois grandes estadistas; Salazar e Cavaco Silva. E eu recuso-me a debater questões de política interna ou externa, com pessoas cuja cultura política tem origem, única e exclusivamente, nos telejornais."
Foi uma escandaleira, digo-vos. Além disso, ainda ficaram a pensar que eu era fascista (como é normal nas pessoas com tendência à esquerda). Mas se querem saber, por mim até podiam ter entrado em colapso nervoso e/ou sincope cardíaca porque neste assunto, concordo a 100% com o Vírus. Ou bem que é para se ser eficaz, ou então se querem espectáculo vão ao circo.