terça-feira, 27 de setembro de 2005

“A Fuga de Sharpe”

Faz hoje 195 anos que se travou a batalha do Buçaco. Na madrugada de 27 de Setembro, as tropas anglo-lusas bloquearam a progressão do marechal Massena, infligindo a sua primeira derrota, no seu aparente passeio até Lisboa.
Os relatos pormenorizados da batalha são de arrepiar, acabando por provocar muitas vítimas. Mais de 5.000 pereceram naquelas encostas, a grande maioria francesa.
O acontecimento faz parte da nossa memória colectiva.
Conhecendo, e tendo calcorreado, na região Centro, as vias seguidas pelo “L´Armée du Portugal”, fruto do facto de, desde muito cedo, ter ouvido - antes de ler a história oficial - muitas histórias sobre as invasões contadas pelos mais velhos, lembrei-me de escrevinhar esta nota.
Muitas histórias focavam a destruição praticada pela população de tudo quanto pudesse beneficiar os invasores, numa política de terra queimada, da fuga das populações, das escaramuças, da bravura e traição dos portugueses. O relato da traição de um português que ensinou ao invasor como contornar a serra, indo alcançar directamente a estrada bairradina, permitindo o avanço fácil sobre Coimbra e Lisboa, era contada amiúde pelos avós e tios, os quais conseguiam romancear os acontecimentos prendendo a atenção dos mais novos.
A tradição oral ainda funcionava. As histórias de pessoas e tesouros escondidos, a fuga de muitos, os ataques dos guerrilheiros, os cortes das pontes, os achados de material de guerra nos campos, a pilhagem que faziam aos franceses que, nas refregas, feridos e perdidos, eram apanhados pelo povo, acabando por serem mortos e espoliados de luíses de ouro, eram deliciosas.
Os meus avós paternos sabiam contar histórias maravilhosas. Nas noites de verão, na varanda, com as cigarras a servirem de coro, ouvíamos atentos romances históricos. A fim de reforçar a veracidade de alguns episódios ligados às invasões, fui presenteado, numa noite, por duas bolas de ferro meio avermelhadas e pesadas, uma pequena e outra maior, encontradas pelos avós dos meus ao longo da velha via percorrida pelo “Filho dilecto da vitória”, designação dada por Napoleão a Massena. Os meus olhos ficaram regalados, mal conseguindo dormir nessa noite, acariciando as duas esferas das bocas de fogo francesas, imaginando as lutas daquele tempo.
Hoje, dia 27 de Setembro terminei a leitura de um belo romance do escritor britânico Bernard Cornwell, sob o título “A Fuga de Sharpe” (Campanha do Buçaco – Portugal 1810).
Uma bela história que me fez recordar outras velhas histórias…

6 comentários:

  1. O quê! O Professor também?!!

    Bom, então se quiser ver umas fotografias das Comemorações de hoje (são só duas que elas são um bocado pesaditas), passe pelo meu blog (http://www.diariodoanthrax.blogspot.com)

    Isto há com cada coincidência... e já agora, o livro é um espectáculo (tenho todos em inglês que sai mais barato e afinal sempre são 20).

    Já agora, o "L'Armée du Portugal" pode-se encontrar facilmente numa livraria em Portugal ou tem de se mandar vir de algum lado? ... Sei que é antigo, mas os alfarrabistas existem é para estas coisas.

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  2. Já dei uma espreitadela. Lindas fotografias. Estamos perante inicativas que não podemos esquecer e ignorar. No entanto, a comunicação social, dá mais enfâse aquilo que todos já sabemos.
    Já agora podíamos combinar um encontro em beleza daqui a cinco anos para comemorar os 200 anos. Se estiver vivo vou lá estar logo de madrugada...

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  3. Caro Antrax

    Neste site tem a possibilidade de pesquisar mais de 45 milhões de livros de todos os alfarrabistas existentes no mundo (que se registaram obviamente)

    http://www.abebooks.com/?AID=9836638&PID=1256069

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  4. A Comissão Portuguesa de História Militar já está a organizar iniciativas para a comemoração dos 200 anos das invasões Napoleónicas. E se não estou em erro, as celebrações começam já no próximo ano.

    Quanto às reconstituições históricas, a Associação Napoleónica Portuguesa já tem uma peça de artilharia (pequenina, mas tem), e pelo que o ouvi falar, Regimento de Artilharia anti-aérea do Porto (da Serra do Pilar) tenciona formar uma bateria de artilharia tal como manda o figurino.

    No que respeita ao dia de hoje, as comemorações foram bastante engraçadas. Houve uma missa campal e uma cerimónia militar em honra dos soldados que caíram. Mas tal como o Prof. muito bem referiu, a comunicação social não tem grande interesse por estes eventos.

    Quanto ao encontro em beleza, pois daqui a 5 anos lá estarei. Por acaso tenho andado a pensar em organizar uma Conferência Internacional, exactamente, sobre o tema que referiu no meu blogue. A importância da guerra peninsular no futuro da europa. Estava a pensar em trazer os "estrangeiros" cá para dentro e levá-los aos locais, mas por enquanto são ideias em "post its" que ando a colar por aqui e por ali, nos cantos da minha fabulosa mansão de 55 m2.

    A abebooks é boa. Também gosto de mandar vir livros daí e tem preços muito competitivos, mas por acaso ainda não me tinha lembrado de ir aí procurar, por isso muito obrigado pela recomendação. Ainda a propósito de livros, descobri um senhor - ali no Chiado - que arranja livros a um preço muito interessante e bate os 30% de desconto das Editoras, logo agora ando um bocado apatetado a fazer listas de livros para comprar (e.g. títulos recentes cujo preço anda na casa dos 25,00€, ando a comprá-los a 10,00€).

    Bom, enfim! Vou parar por aqui para não ser maçador e para além disso, o comentário já vai longo.

    Boa Noite Prof. foi bom conversar consigo.

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  5. Eventos???... Que eventos???... Guerras Napoleónicas???... Que é isso???... Por acaso tem alguma coisa a ver com Napoleão???... Nas houve uma guerra?...

    Eu quero é saber da Fátima Felgueiras e do Carrilho, e do nosso futuro Presidente da República Dr. Mário Soares e o seu périplo de sono...(ooops... peço perdão) de pré-campanha pelo Brasil...

    E vivó Benfica... vá lá... e o Sporting também... e viram aquela entrevista do R.Koeman? O tipo nem seuqer sabe falar...e...

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  6. Caro Virus, esse realismo todo é quase chocante, escusava de se esmerar tanto! Mas foi uma boa ideia para se ver o contraste entre "conversar" e "dizer coisas",ainda bem que o Prof. Massano Cardoso e Anthrax nos avivaram a memória. Foi muito agradável ouvi-los conversar...

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