A tragédia que se abateu sobre Nova Orleães abala qualquer um. Tudo o que nos cerca é frágil e passível de destruição pelas forças da natureza. No entanto, não podemos afirmar que a natureza seja cruel, mas sim indiferente à presença e aos valores humanos. Colocando de parte os factores humanos responsáveis pela catástrofe, quer a nível local, quer a nível global, assim como as deficiências graves no auxílio às populações atingidas, considero de uma crueldade sem limites as posições de alguns fundamentalistas que vêem a mão de Deus em todo este processo.
Activistas contra o aborto chegaram a “ver” a imagem de um feto de oito semanas no mapa de satélite do furacão Katrina. Muitos norte-americanos comungam da ideia de castigo divino e afirmam que se não houver mudanças maior castigo irá abater-se sobre aquele povo. Estamos a falar de cristãos que pretendem arregimentar soldados, ou melhor, mercenários para os seus exércitos. Mas, o Deus dos muçulmanos parece, aos olhos de muitos, também como responsável pela calamidade. A ponto de o furacão ser considerado como: “O terrorista Katrina é um soldado de Alá”.
A raiva e o ódio de muitos fundamentalistas muçulmanos revelam satisfação e regozijo pelo acontecimento. Mas, a intolerância de certos movimentos religiosos cristãos que procuram “explicar” certos fenómenos com os quais não se identificam, através da espada de um deus raivoso e vingativo, não é diferente. A intolerância religiosa-política é grave não augurando nada de bom para as nossas sociedades.
Todos estes movimentos exploram comportamentos primários disseminados pela grande maioria da população deste planeta. Estes trágicos acontecimentos são utilizados para recrutar mais adeptos ou para cimentar aqueles comportamentos. Nestas alturas, seria conveniente que os responsáveis saudáveis pelas diversas correntes religiosas – e são muitos, felizmente – viessem a terreiro para desmontar, criticar e repudiar o comportamento dos radicais religiosos e apelar à tolerância de todos, face às tragédias naturais. A natureza não é cruel, é indiferente. O homem consegue ser cruel e não é indiferente, mas a indiferença de muitos não deixa de alimentar a crueldade de outros.
caro Prof. massano, gostei muito do seu post e é realmente impossível não reparar nas espantosas reacções à catástrofe e, sobretudo, na amplificação que os jornais fazem de todo o tipo de disparates que, seja lá por que motivo for, se dizem sobre o assunto. Salvo quanto à mediatização,há pouca novidade nas profecias e leituras ameaçadoras sobre a vontade divina de castigar assim os pecadores- elas sempre se repetiram ao longo da história, fundamentando sacrifícios aos deuses, perseguições religiosas ou de quem se comportava ou pensava de modo diferente. A fúria da natureza pode ter as costas muito largas...
ResponderEliminar