"Creio que foi o sorriso,
o sorriso foi quem abriu a porta.
Era um sorriso com muita luz
lá dentro, apetecia
entrar nele, tirar a roupa, ficar
nu dentro daquele sorriso.
Correr, navegar, morrer naquele sorriso."
Eugénio de Andrade
De regresso a um ano de trabalho "novinho em folha" demorei-me um pouco a pensar como iria encetar esta folha em branco e assim retomar o agradável convívio no Quarta República. Os temas da política nacional estão já comentados de forma imbatível neste blog e voltarão certamente à baila de mil e uma formas sempre espantosas. As catástrofes que se abateram nos vários continentes obrigam-nos a sair da estreiteza dos nossos dissabores mas não queria começar por aí.
Prefiro começar com um sorriso, essa forma de expressão tão abandonada e no entanto tão forte, tão poderosa, capaz de quebrar barreiras, de dar alento, de transmitir afecto, simpatia, compaixão ou alegria.
Também pode significar troça ou desprezo, mas esses são só esgares, não merecem que se lhes chame sorriso, basta ver como surgem facilmente, sem aquele impulso de alma que torna um sorriso inconfundível e substitui as palavras imperfeitas que quer significar.
Mas já podemos chamar à categoria de sorriso a expressão que vi na cara de uns amigos que vivem há muito fora do nosso país e a quem relatei alguns episódios da nossa política nacional.É aquela expressão entre o divertido e o incrédulo, própria de quem não sabe ao certo se estamos a falar a sério ou a pregar uma partida...
É fácil ir esquecendo de sorrir, do mesmo modo que é fácil ir deixando de reparar nos outros ou de ter coragem para manter a vontade de lutar por dias melhores.
Li há pouco tempo no jornal que foi feito um estudo sobre o sorriso - ou a falta dele - em Portugal e parece que as conclusões tiram o sorriso mais tenaz, sobretudo porque o tal estudo se baseou nas fotografias que os jornais publicam dos políticos e aí, compreende-se! nem sombra dele. Diga-se, em abono da verdade, que é uma questão de critério jornalístico, se calhar conluiados para dar um dispensável contributo para a tão mediática falta de auto estima - recentemente elevada à categoria de fundamento para candidaturas presidenciais. Para não referir as vezes em que lá escapa uma expressãomais alegre e logo é essa que é escolhida para ilustrar a notícia de mais uma medida gravosa. Aí deve ser a categoria farta dos sorrisos cruéis!
Seja como for, mesmo que se comece com um sorriso menos atraente, sempre é melhor do que não saber sorrir de maneira nenhuma, ou achar que já nem vale a pena fazer o esforço.
Um sorriso tem um retorno quase certo, não exige qualificações, não custa nada e é comum a todas as classes sociais. Talvez seja a forma mais simples de começar a combater a depressão nacional que nem as férias conseguiram curar.
O Quarta República tem dado um contributo activo para essa terapia, mas não é demais recordar o tema.
Um bom ano de trabalho e um sorriso de muita simpatia.
Um bom ano de trabalho também para si, e mantenha esse sorriso com que sempre nos acolhe.
ResponderEliminarA análise dos diferentes tipos de riso permite-nos “saber” o que está na sua base, na sua génese, qual o seu verdadeiro significado. A este propósito, o post da Suzana, fez-me recordar uma notável obra que recomendo que leiam: “Da essência do riso” de Charles Baudelaire.
ResponderEliminarJá agora não posso deixar de realçar o belo sorriso da Suzana Toscano.
Afastado nos últimos dias e durante os próximos tempos por razões profissionais do convívio da 4R(o meu ano de trabalho começou bem cedo e intensamente...), foi bom espreitar e ver e deparar com o sorriso da Suzana.
ResponderEliminarobrigada pelos vossos comentários bem simpáticos e sorridentes, assim é impossível não manter a boa disposição! Um bom ano para todos.
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