quinta-feira, 1 de setembro de 2005

Zapoï

Um dos divertimentos que está em crescendo por esse mundo prende-se com a ingestão rápida de fortes bebidas alcoólicas: “Binge drinking”. Já tive oportunidade de o observar e, de facto, acho que estamos perante uma atitude estranha. Emborcar de uma forma rápida para sentir os efeitos agudos do álcool. Ainda não acabaram de beber e já o organismo está a refilar.
Na Rússia também se observa este comportamento. Mas, apresenta uma particularidade que é beber o mais rapidamente possível para atingir o grau de inconsciência e permanecer bêbado durante dias e, nalguns casos, semanas. Designa-se este fenómeno por zapoï. A situação é muito grave, atinge sobretudo os homens na sua fase mais produtiva, está na base de muitas mortes, começa a ter impacto na produtividade, é um sério sinal de alcoolismo, que pode ser um dos factores responsáveis pela redução da esperança de vida que, entre 1989 a 1994, se reduziu em seis anos nos homens e em três nas mulheres, colocando este país na cauda dos países industrializados com valores idênticos aos do Senegal.
É certo que a falta de esperança aliada à tradicional alma russa explique este comportamento.
Recordo-me que há cerca de 13 anos, numa estadia em Moscovo, um colega do Azerbeijão disponibilizou-se para me ajudar a comprar duas garrafas de vodka especial. Após a compra, convidou-me a beber um cálice à boa maneira dos locais. "Em Roma sê romano"e vai daí bebi o cálice de uma só vez. O que senti foi: “acabei de beber a alma do Rasputine”! A mucosa bucal e da língua desapareceram num ápice. O meu olhar devia estar tão transtornado que o azerbaijanês perguntou se eu me sentia bem. Quando me explicou que o vodka especial tinha só 75 graus ia desmaiando.
Escusado será dizer como passei o resto do tempo.
Quem analisar o comportamento político de alguns portugueses poderá concluir que muitos bebem à zapoï embriagando-se o mais rapidamente possível, tentando manter-se inebriados durante o máximo tempo possível. Se a situação continuar ainda nos arriscamos, não propriamente a uma redução da esperança de vida, mas, a uma redução na esperança em viver. É evidente a sensação de tristeza e de desânimo na nossa sociedade, testemunhados por muitos, sobretudo nos mais jovens, facto que poderá explicar algum do seu comportamento, nomeadamente o consumo das bebidas. É preciso evitar o zapoï (alcoólico) dos jovens e, sobretudo, o zapoï (político) de alguns responsáveis do nosso país.

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