segunda-feira, 12 de setembro de 2005

Stuart Mill e Flausino Torres

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O que há de comum entre um dos principais fundadores do pensamento liberal, John Stuart Mill (1806-1873) e um dos mais interessantes intelectuais e resistentes comunistas portugueses? A tradução e o prefácio à edição portuguesa da obra Autobiography, publicada entre nós muito provavelmente na década de 40.

A parte interessante da associação dos dois autores não será propriamente o facto de um intelectual comunista se dedicar a traduzir um pensador liberal (não esquecer a particular conjuntura da II Guerra Mundial), mas é o facto de se aproveitar um simples prefácio para debater e discutir o liberalismo numa perspectiva marxista.

Dois ou três excertos bem sintomáticos. Um sobre a classe operária inglesa:

“Conhecendo o extraordinário desenvolvimento da técnica, no seu tempo, e sabendo, como vemos pela autobiografia, da existência duma numerosíssima classe operária, [Stuart Mill] passa, no entanto, ao lado dos verdadeiros problemas sociais do seu tempo e das soluções mais adequadas, sem se dar conta deles.”

“Na verdade, a criação duma numerosa classe operária não podia deixar de saltar aos olhos de quem quer que fosse.”

Um outro em que refere Marx sem escrever o seu nome:

“John Stuart Mill já não pôde ver aonde conduziria o seu regime preferido, porque morreu em 1873. No entanto alguns pensadores, nos quais deve ter ouvido falar, começaram ainda durante a sua vida, a chamar a atenção para soluções mais arrojadas e mais eficazes [de chegar à “organização científica da produção e do consumo].

Por último, Flausino Torres não deixa de mostrar alguma complacência com Stuart Mill: “Esta incapacidade para compreender os problemas sociais deve-se não a má vontade mas à educação [“aristocrática”] que lhe foi ministrada”.

Alguns anos mais tarde, Flausino Torres exilou-se em Praga e foi testemunha da invasão soviética da Checoslováquia. Foi ele que redigiu uma declaração apelando à paz e criticando o imperialismo soviético. Esse acto marcou o seu afastamento do PCP.

Possivelmente, ter-se-á lembrado dos escritos de Stuart Mill e do que representa o valor da liberdade.

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