quinta-feira, 24 de novembro de 2005

Alimentos e genes

Quando foi anunciada a descoberta do genoma humano, pensou-se que, rapidamente, ficaríamos a conhecer o nosso “futuro”, e, deste modo, seria possível prevenir muitas doenças. Claro que as coisas não estão a correr como o previsto. Para já, não temos tantos genes como diziam. Dos 100.000 inicialmente previstos passamos apenas a 25.000. Além do mais, parece que não é o número que conta já que há animais com muito mais genes, e, quanto a outros, por exemplo, chimpanzés, as diferenças genéticas até nem são muitas.
As semelhanças comportamentais entre filhos e pais são, por vezes, muito evidentes, originando a velha afirmação de “quem sai aos seus não degenera”. Mas, também há o oposto, ou seja, ausência de quaisquer semelhanças. Tudo leva a crer que não são só os aspectos genéticos a ditar estes aspectos. A descoberta de que certos genes podem ser “ligados” ou “desligados” pela acção de certos suplementos alimentares ou nutrientes ingeridos pela mãe, durante, ou mesmo antes, da gravidez, abre novas perspectivas. Os estudos acabaram igualmente por revelar que os ratinhos podem continuar a sofrer os efeitos de “fechar” e “abrir” os interruptores a nível dos genes mesmo quando são já crescidinhos. Um dos tais suplementos leva os animais, por exemplo, a ficarem mais stressados e incapazes de explorarem o ambiente. Claro que ainda é cedo para tirar conclusões nos seres humanos. Mas não estranhemos que, um dia destes, seja possível verificar quais os efeitos futuros da alimentação praticada durante a gravidez, ou mesmo durante a infância, e quem sabe se mesmo em adulto. As modificações não se restringem apenas a alterações do comportamento, mas também a outras doenças. No caso das primeiras começo a imaginar o que se poderia fazer para desligar certos “genes” que fossem responsáveis, por exemplo, por obstinação ou teimosia intrínsecas. Deveriam ser estudados os diversos suplementos e se encontrássemos algum capaz de ter esse efeito seria muito bom. O pior é se o mesmo existisse apenas em quantidades apreciáveis em alguns alimentos exóticos ou raros, tais como caviar ou trufas. Acabaria por ficar muito dispendioso e, além disso, seria muito monótono, correndo o risco de regressar à primeira forma. Mas, se em contrapartida ocorressem no bacalhau, então as coisas melhorariam substancialmente, porque existem mil e uma formas de o preparar.
Não basta ter bons genes. É preciso que os mesmos possam exteriorizar as suas funções, que sejam “ligados”, ou que se impeça o seu “desligar”. Espero que nenhuma mãe corra o risco de ser importunada por um filho interpelando-a por que carga de água andou comer sardinhas assadas durante a gravidez ou ter-lhe enfiado pelas goelas abaixo o raio dos espinafres quando era pequeno!
E quanto às ementas do futuro? Á frente do prato, as respectivas indicações para “ligar” ou “desligar” os humores…
É caso para perguntar: - O que andam a comer os nossos candidatos e comentadores?

4 comentários:

  1. Deixe-me adivinhar, vão chegar à conclusão que o que faz falta é mesmo um cigarrinho e uma coca-cola logo pela manhã...

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  2. Boa! Não digo tanto, mas quem sabe? um cigarrito para "desligar" uma coca-cola para "ligar"...

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  3. Meu Caro Professor :

    Perante o brilhantismo deste seu escrito bem como de todos os outros que tenho tido o privilégio de acompanhar,não resisto à tentação de lhe deixar aqui um abraço de amizade e gratidão.
    E já agora dizer-se que os Seus comentários poderão ser de extrema utilidade na formação geral dos Médicos,particularmente dos mais jovens e não só.
    É que a excessiva dependência tecnológica da medicina actual, nos tem afastado daquilo a que tenho maior respeito na vida - as leis da natureza.
    Acho que a leitura das Suas reflexões deve ser aconselhada a todas as pessoas e particularmente àquelas ligadas à saúde.
    Assim farei.

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  4. Caro amigo e colega "cardealdealpedrinha"


    É gentileza a mais. De qualquer modo agradeço a sua atenção e amizade.
    Um abraço

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