terça-feira, 29 de novembro de 2005
As unhas
Uma amiga minha contou-me um episódio muito engraçado que se passou há uns dias num serviço de atendimento ao público. Ela precisava de entregar um processo e a senhora que atendia estava muito mal humorada. Cara fechada, carimbo de chumbo, olho no relógio que se arrastava sem pressas.
Quando chegou a sua vez, a minha amiga receou que tão negro estado de espírito não lhe facilitasse as coisas, e tinha razão. A senhora pôs logo mil defeitos, que faltava não sei o quê, que o melhor era voltar amanhã com tudo direitinho.
Eis senão quando, se aproxima outra colega e, sem mais cerimónias, começa a queixar-se de como tinha as unhas fracas, todas lascadas, aquilo era dos detergentes, que maçada, logo agora que tinha uma festa e as unhas naquele estado…! E esticava as mãos de maneira a mostrar a lástima.
A minha amiga resolveu então entrar na conversa, que sim, que era terrível, mas que havia agora um processo muito bom, um gel milagroso e as unhas como novas num instante.
A cara da mal humorada iluminou-se, a outra pediu pormenores, em breve trocaram receitas e moradas da manicure.
O processo foi depois despachado com um grande sorriso, nada de importância, o papel que falta pode mandar amanhã por fax…
Quem é que dizia neste blog que não é preciso entrar à cotovelada e à canelada? Às vezes é só mesmo um pequeno gesto de paciência. Às vezes, claro.
Desatar aos berros a dizer que quer um polícia para o funcionário pôr a recusa por escrito também resulta. E, por vezes, sabe muito melhor....
ResponderEliminarApenas um comentário para demonstrar como a nossa burocracia está ao nível do "cargo cult" da Papua Nova Guiné.
ResponderEliminarEm qualquer país europeu,os procedimentos administrativos possuem uma lógica e uma função definida: serve para qulquer coisa.
Em Portugal, e em Itália, servem para servir. Este episódio e o modo como lidamos com ele, perguntar qual é o gel, ou perorar sobre a "boa educação" que devemos ter para com um funcionário que, teoricamente nos serve e é pago por nós; em vez de nos indignamrmos com a arbitrariedade do funcionário e a estupidez dos procedimentos, revela que não é com reformas de papel que se modifica a Administração Pública.
Tambêm na Papua Nova Guiné, os habitantes, depois de receberem o maná vindo do céu através dos aviões, quando estes desapareceram, erigiram modelos de aviões para chamarem os deuses. Quando se lhes explicava que faltava o motor, por exemplo, retroquiam que os modelos eram cópias fiés dos aviões.
Aqui passa-se o mesmo, se se argumentar que o procedimento é idiota,( para ser simpático,) ou que podia ser aligeirado, a resposta será que sempre foi feito assim e assim será.
Para mim este episódio entristece-me apesar de caricato, porque revela e demonstra que não iremos ter mudança, nem nesta nem na próxima geração.
Cumprimentos
Adriano Volframista
Suponho que toda a gente já terá ouvido falar na lei de Parkinson.
ResponderEliminarNão! Não é a terrível maleita... é apenas um estudo curioso sobre os efeitos da burocracia e uma variação sobre um outro fenómeno curioso que é o "princípio de Peter".
A brurocracia das Repartições de Finanças a mim, exaspera-me.
Uma pessoa vai lá para tratar de impostos que é aquilo que se paga para o Estado funcionar, logo, para que aquelas pessoas possam estar ali.
Pois bem! Não sei se acontece apenas comigo que não conheço nenhum amigalhaço a quem possa ou queira telefonar lá "para o serviço" ou algum daqueles que ajudam até a preencher o IRS. A verdade é que sempre que encosto literalmente a barriga ao balcão, sinto logo azia. Não a minha que é aliás mais parecida com enjoo, mas a dos funcionários entretidos com os seus papeizinhos e os seus pequeninos écrans e deixam uma pessoa dependurada de normas em circulares internas e em exigências de cópias e notificações para moradas erradas só porque não são aquelas que constam do NIF.
Um mundo, o dos tabeliães das Finanças!
Cara Suzana,
ResponderEliminarTem toda a razão. Ás vezes basta um pequeno gesto de paciência. Também já me aconteceu uma coisa parecida e eu resolvi-a da mesma maneira que a sua amiga.
Acima de tudo o respeito e a boa educação funcionam nos dois sentidos. Quando as coisas não funcionam de maneira nenhuma, pede-se o livro de reclamações em vez de armar um circo de todo o tamanho.
Bem,meu caro amigo Pinho Cardão, se fosse um episódio com protagonistas masculinos só por grande sorte é que eram todos do mesmo clube de futebol, de modo que a tentiva de desanuviar o ambiente sairia muito azedada! Já sabe que, com o tema das unhas, pode resolver muitos problemas e ainda fazer algumas amizades (femininas ou masculinas, depende do tema). Sem ser preciso afiá-las, como defendem aqui os nossos comentadores, excepto Anthrax,com quem concordo, claro.
ResponderEliminarQuem tem unhas toca guitarra...
ResponderEliminarÉ isso mesmo!
ResponderEliminarQuanto ao gel, cara(o?) Arid Monk, já me informei entretanto. Trata-se de uma camada de uma espécie de verniz "cerâmico" transparente que cobre as unhas moles mas sem as impedir de se reconstituirem. Dizem-me que seca num forno especial (enfim, acredita-se em tudo!)e depois pode-se pintar com verniz normal e fica óptimo. Já vi ontem numa amiga minha, parece que tem que se escolher quem sabe para não se ficar com unhas de plástico!Se se atrever, conte o resultado...Até breve!