segunda-feira, 14 de novembro de 2005

Entre o verbo e a acção

Poderíamos pensar que o confronto entre “gestores do silêncio” e “tribunos da retórica” que tem vindo a dominar este período de campanha eleitoral para as eleições presidenciais, é uma mera expressão de táctica eleitoral.

Permitam-me que discorde.

Para mim, são dois estilos completamente diferentes de fazer política e de entender a actividade política. Mais, são duas opções com que o eleitorado deverá ser confrontado no sentido de escolher o que pretende do desempenho do futuro Presidente da República.

De um lado temos os candidatos de verbo fácil, que têm opinião sobre tudo e sobre todos, analisam, comentam, desafiam, provocam, como se essa fosse a essência do que designam por “combate democrático”. Vivem da abundância da palavra, do “achar que”, do vasculhar de declarações recuperadas de “clippings” amarelecidos, de um suposto e forçado contraditório, ou da interminável e estéril polémica projectada pelos media. A sua principal preocupação é “marcar a agenda”, ter a “iniciativa”, “condicionar” o adversário ou “trazê-lo à liça”.

Do outro lado, o candidato que, pela sua própria formação profissional, privilegia o rigor, a parcimónia da declaração, a simplicidade e a eficácia da mensagem, a escolha meticulosa da oportunidade, a gestão das expectativas. Fala do que quer e não do que os outros querem que ele fale, tem agenda própria, habituou-se a traçar o rumo que pretende trilhar, evitando a passadeira vermelha que os adversários lhe lançam aos pés.

A eficácia de cada um dos estilos pode ser avaliada pelo balanço dos últimos 10 anos.

Enquanto uns nunca saíram do palco, enchendo-o do ruído da sua própria existência política, o outro candidato, soube retirar-se sem se ausentar e de cada vez que emitia uma mensagem provocava maiores efeitos que o muito ruído que os outros produziam.

A lei da oferta e da procura também se aplica à comunicação.

No próximo acto eleitoral os Portugueses vão ter de pronunciar-se sobre que tipo de presidente pretendem: ou um tribuno que faça do verbo e do ruído a razão da sua existência, ou um presidente que privilegie a acção concertada com os restantes órgãos de soberania e a regulação atenta e parcimoniosa da vida política.

3 comentários:

  1. Caro DJustino

    Não creio que seja um estilo de fazer política, mas sim uma correcta leitura do que o eleitor deseja: menos falatório e mais acção. Assim, se poderá compreender porque um vai ganhar e o outroperder: não interpretaram o eleitor, nem identifcaram as suas necessidades, em suma, um é pretérito (perfeito), outro o futuro (mesmo que esse futuro seja presente).

    Cumprimentos
    Adriano Volframista

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  2. Como eu venho a dizer há já algum tempo MA percebeu isso tão bem, que adoptou a mesma táctica de CS. Ele bem percebeu que o que o eleitorado quer é muita acção e poucas palavras... e está a aplicá-lo com uma categoria inesperada. O único problema de MA é a falta do capital político que dispõe CS, senão aí sim teríamos uma verdadeira batalha pela Presidência... assim, bom não cantemos vitória antes do apito final, mas parece-me que já temos Presidente da República.

    E agora pergunto eu, qual tem sido a estratégia utilizada pelo actual Presidente da República Jorge Sampaio nos seus 10 anos de presidência? Tem sido o verbo fácil e o chorrilho de conversas, ou tem-se pautado por um silêncio e serenidade de quem se encontra acima da questiúnculas partidárias? Então digam lá?

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  3. Caro djustino,

    Quando se refere a um candidato que "privilegie a acção concertada com os restantes órgãos de soberania" refere-se a quem propriamente?...

    Áquele que as considerava "forças de bloqueio" noutros tempos?

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