Temos assistido a debates acesos sobre a questão da insurreição dos jovens nos arredores de Paris e é dominante, ao menos no que vem a público na televisão e jornais, a tese da insuficiência de políticas de integração, os excluídos, as vítimas do racismo, as vantagens para a extrema direita de toda esta situação, etc, etc.
Poucos se atrevem a condenar, abertamente e sem reservas, as acções praticadas, não porque não as achem perigosas e uma ameaça grave, mas porque se sentirão de imediato acusados de racismo, direitismo ou outro ismo qualquer que signifique insensibilidade social, incompreensão e elitismo. Pelo menos.
Não sei quais são, realmente, as causas desta explosão, nem a quem aproveitam, e muito menos percebo que se repita à exaustão o argumento de terem sido chamados de “escumalha” pelo Ministro do Interior para olhar com bondade os actos intoleráveis e “compreender” que miúdos de 14 ou 15 anos “exijam” a demissão do Ministro para pararem a violência. Numa reportagem da televisão, garotos com skate e cara tapada impunham condições ao Governo, mas onde estão os chefes? E quem representam?
É evidente que o termo inaceitável em nada contribuiu para acalmar os ânimos e deu um excelente pretexto, apesar de usado na sequência da violência e não antes; mas, se o Ministro do Interior for demitido para apaziguar os bandos que espalham o medo e a destruição, sempre será de perguntar quem é o interlocutor, quem é que garante que a seguir não vão querer ser eles a indicar (encapuçados) quem é que poderão aceitar como novo Ministro. Ou vai haver diálogo de grupos com a intermediação dos jornalistas?
Estamos a falar da 2ª ou mesmo 3ª geração de imigrantes e não dos que chegam, desamparados e sem falar a língua, a terras da oportunidade. Quanto é que os cidadãos dos países de acolhimento estão dispostos a pagar a mais para reforço das condições que faltam a essas comunidades de descendentes? E que condições lhes devem ser dadas a troco da garantia de que amanhã, por outra carência descoberta, esses ou outros não voltarão a fazer o mesmo ou pior? Este é o reverso da medalha. O que se ouve e vê é o dedo apontado aos Governos, de há 20 anos a esta parte, as suas fraquezas, os erros, o excesso de força, ou a incompreensão, ou a falta de visão…mas a Europa social está em crise, as regalias e os sistemas de garantia com que contávamos têm que ser eliminadas. A falta de perspectivas atinge todos, o desemprego dos jovens (e dos de meia idade) está a crescer e não a diminuir e cada grupo social poderá facilmente encontrar motivos para querer que reparem nele.
Haverá certamente muitas questões a discutir e decidir à volta deste tema, das suas causas e das suas consequências. Mas os que, neste preciso momento, assumem o papel de culpados por omissão e portanto merecedores da justa ira dos revoltosos, deviam saber que não é com ralhetes comprometidos que se impede a violência ou o seu alastrar. Há actos que têm que ser condenados, sem tibiezas nem atenuantes, porque eles são, em si mesmos, independentemente do que os determine, simplesmente intoleráveis. Não o fazer é aceitar a sua propagação e legitimar, daqui para o futuro, actos iguais ou piores, com motivos à escolha. É só a moda pegar.
Hi Suzanna,
ResponderEliminarUnfortunately i don't know Portuguese so i am writing this in english. i was very interested in your blog "the fourth republic", the articles and photographs are very gripping - it's a pity that i am unable to grasp the entire meaning of the content. it seems that this blog is posted by several members (are you a group?) i counted atleast 4 different individuals.... i would really like to know something more about your interests and the activities of your group... if you wish and the spare time you can also have a look at my blog www.adityabee.blogspot.com - though it is not cover such a wider range of interests as yours.
i noticed one of the articles posted back in May mentions the city of my residence - New Delhi.... my poor knowledge of Portuguese left me guessing as to the rest of the content!
do write back if you can.
take care and best wishes
Aditya Bee
New Delhi
Provérbio chinês (para variar dos americanos) que todos nós conhecemos:
ResponderEliminar"Se vires al´guém com fome não lhe dês um peixe, ensina-o a pescar!"
Resumindo, ao contrário do que está a ser feito, do que se quer fazer e daquilo que nós mais depressa sempre pensamos ser a solução apenas posso dizer... mais dinheiro não é a solução! É bastante mais profunda... Dá é muito trabalho...
Poucos se atrevem a condenar abertamente e ser reservas? O que tenho visto mais são condenações abertas e sem reservas! As quais todos subscrevem e eu também! Aliás, em boa verdade não vi ninguém que não condenasse.
ResponderEliminarMas essa é a parte fácil, cara Suzana Toscano!
A parte dificil é perceber que alguma coisa se passa (o que quer que seja) em vez de resolver o problema com teorias como a "moda da cultura de violência" que mais não apazigua senão a consciência dos próprios.
E utilizando as suas palavras "Não o fazer é aceitar a sua propagação e legitimar, daqui para o futuro, actos iguais ou piores, com motivos à escolha. É só a moda pegar."
Mas por cá ainda nos entretemos com exercícios de acusação daqueles que tentam entender o problema em vez de dedicarmos a nossa atenção ao problema em concreto...
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ResponderEliminarA tentativa de a classe que a si se toma por bem pensante, encontrar razões para actos que são criminosos e que não têm qualquer fundamento seja a que luz for, é um dos estímulos, a juntar à repetição ad nauseam das imagens do vandalismo mais selvagem, para que se prolongue e se propaguem estes lamentáveis acontecimentos.
ResponderEliminarNão há explicação, desculpa ou perdão para se incendiarem fábricas, escolas ou igrejas, para se destruir a propriedade, sejam os incendiários brancos, pretos ou amarelos!
É crime, e do mais hediondo.
Há razões sociais para estas condutoas criminosas? Claro que há, como há para a "simples" burla ou para qualquer outro comportamento criminogéneo.
Ver nessas razões, que não discuto que podem ser as que têm sido apontadas relacionadas com a deficiente integração de comunicades de emigrantes, uma circunstância dirimente do carácter criminoso destas condutas favorece, afinal, aqueles que estavam mortinhos por que uma coisa destas acontecesse, como é o caso, em França - mas não só -, dos movimentos de extrema-direita.
A atitude que se pede ao Estado nestes casos, não pode ser de bondosa complacência face à generalização de uma séria ameaça à segurança pública, ainda por cima resultante de factores e de actores internos. É a utilização, dentro da legalidade, do aparelho repressivo, julgando e punindo os responsáveis com a severidade que a gravidade destes comportamentos exigem.
Se assim não for, então o Estado tornará evidente a sua fraqueza. E um Estado fraco, sobretudo quando se pauta pelas regras da democracia e pelos princípios do Estado de Direito, é uma sociedade exposta ao caos e à barbárie.
E é bom não esquecer que foi sempre neste clima que surgiram os mais sangrentos ditadores. Sempre sob o pretexto de por ordem onde a democracia não conseguiu.
Faço aqui um paralelo com o terrorismo, porque em bom rigor de terrorismo se trata. O terrorismo não se tolera nem se compreende. O terrorismo tem de se combater com atitudes firmes se não se quer ser vencido por ele.
Acho que V.Exas. estão entrincheirados no vossos dogmas punitivos sem razão. Não há desculpa. Mas que fazer para parar? Alguém quer fazer essa abordagem, ou é complicado demais?
ResponderEliminarP.S.: O "bem pensantes" é um termo curioso usado periodicamente para diminuir aqueles que abordam os problemas em todas as suas vertentes. Prefeririamos que fossem "mal pensantes"?
Meu caro cmonteiro, diga-me o meu amigo o que faria se alguém, incluído ou excluído, preto ou branco, lhe incendiasse o carro, lhe eliminasse o posto de trabalho, lhe invadisse os locias de culto, destruísse a escola do seu filho ou vandalizasse a sua habitação.
ResponderEliminarEnredava-se em teorias sociológicas sobre a mais profunda razão do fenómeno? Ou chamava a polícia e exigia que cumprisse a sua missão, que detivesse e apresentasse a julgamento que assim lesou os sesu direitos?
E que diria o meu caro se a polícia ali chegasse e lhe dissesse que a bem dizer o problema tem razões profundas, patati, patató..., que não poderia resolver-se com repressão mas sim com mais integração. Que os rapazes que lhe tinham feito aquilo afinal sempre tinham justificação pois andavam desempregados e infelizes. Que a violência é assim como uma manifestação inevitável destas sociedades europeias tão terrivelmente opressivas que ninguém se vê atraído por elas, muito em especial os tais emigrantes de 2ª geração. O que diria se o fogo se lhe pegasse, meiu caro cmonteiro?
Olhe, meu caro, os bem pensantes que encontram sempre na sociedade as explicações para todos os males, só explicam esta violência da forma como a explicam porque nada disto lhes bate à porta. No dia em que não for assim...
Caro Ferreira de Almeida,
ResponderEliminarEstá nitidamente a cair na demagogia, desculpe que lhe diga. Eu não quero que os polícias façam psicanálise, quero que os polícias, policiem. Quero que os crimonosos sejam punidos, e quero que os políticos arranjem maneira de não ser necessária a intervenção policial reduzindo as causas que levam à criminalidade.
É curioso que qualquer tentativa de abordagem das causas do problema seja interpretado por vós como desculpabilização.
E começa a ser irritante, desculpe que lhe diga. O meu portugês pode não ser o melhor, mas creio que é claro!
Caro Pinho Cardão,
ResponderEliminar"Bem pensante" é uma classificação redutora, usualmente usada por aqueles que querem dar a impressão que "agem", reduzindo os primeiros à condição de filósofos. Não alinho nesse tipo de discurso.
São os mesmo que acham que a mera intervenção policial (sublinho: contra a qual eu não estou) é bastante para resolver o assunto, sem se preocuparem que existe um problema latente. Porque meus caros: Se temos milhares de joves dispostos a incendiar um país, há um problema grave.
OU não?
Preferem ficar-se pela intervenção policial?
Não meu caro cmonteiro, não tem razão.
ResponderEliminarTanto quanto me consigo avaliar nas opiniões que aqui expresso, não sou nada dado a demagogias.
Demagógica é a posição dos que seguem a linha do politicamente correcto. Os que se deixam hipnotizar e perseguem os bem pensantes de que falávamos. Esses sim, alinham pela corrente dominante. E, neste caso, basta ler e ouvir o modo como são relatadas as notícias destes acontecimentos e os comentários dos nossos omnicientes analistas para perceber de que lado fica a demagogia.
Mas há um sentido de demagogia, que esse sim, ou muito me engano ou cedo virá a ser aproveitado pelas forças que há muito espreitam por uma oportunidade destas. Nesse sentido demagogia significa excesso de democracia. Não falará em França e por esta Europa fora quem faça apelo à musculação do Estado em nome deste excesso.
Mas pelo menos neste prognóstico oxalá me engane.
As causas do problema, que tanto quer por à frente da resolução das imediatas consequências, já aqui, neste blog, as vi discutidas com alguma profundidade e sem os complexos que surpreendo noutros foros. Não me custa aceitar que entre elas esteja um modelo que se revela agora errado, uma vez que partiu do princípio de que o social melting era uma realidade na Europa do fim do século, partindo da observação da plena integração de sucessivas comunidades de emigrantes desde o pós-guerra. Esta é uma das causas, como outra será a da incontrolada abertura de fronteiras.
Quer que reconheça que os políticos deveriam fazer mais? Sem qualquer problema o reconheço. Deveriam fazer mais e melhor pela integração, como deveriam prosseguir uma política mais realista de controlo das entradas de novos emigrantes.
Mas nada disto afasta o problema actual da sua essência. E por isso reitero que não há desemprego, dificuldade de integração ou qualquer outra causa social que desculpabilize, legitime ou sequer minimize a gravidade dos actos praticados por bandos de verdadeiros delinquentes.
É outro sinal preocupante dos tempos este de tanto se exigir do Estado, dos políticos e muito pouco dos cidadões. Esta ideia de que, contrariamente às instituições e aos dirigentes, os erros dos prevaricadores têm sempre uma explicação e uma desculpa, ainda que para o efeito seja necessário elaborar teorias que quase vêem impresso no código genético de certas categorias de pessoas a predestinação para a violência, assim legitimada.
Quanto ao português, não se preocupe, esse é bom... ;)
Concordo plenamente com o que o Ferreira d'Almeida aqui diz, no seu estilo directo e sem rodeios à questão. Os tais "bem pensantes" a que Pinho Cardão se refere preferem "embrulhar" as questões de maneira a encontrar sempre uma razão que, por um lado, justifique os actos, ainda que implicitamente, de modo a poder apontar o dedo em caso de repressão; e, por outro, poder vir pôr em causa ou as ideias (se não eram as suas) ou a execução deficiente das teorias que teriam defendido. O que nunca fica claro é como é que, em definitivo,se pode acabar com a violência, desculpando-a. E depois encontrar soluções para as suas causas sem o risco de, à mínima razão de queixa, voltar tudo ao mesmo. É verdade que os "assim pensantes" não querem, em geral, assumir cargos executivos e, se o fazem, ficam logo em causa perante os que se mantêm na "pureza" do pensamento.
ResponderEliminarA Suzana acaba de tocar num aspecto pouco focado. Se virmos bem, de facto, de entre as elites bem-pensantes, poucos são os que aceitaram assumir a responsabilidade de decidir sobre aquilo que analisam, quase sempre criticando quem tem o ónus de resolver os problemas. Mais: normalmente procuram as soluções pelo lado das patologias. Isso explica porque nunca serão decisores. E ainda bem.
ResponderEliminarRelido o meu comentário anterior, dou-me conta que, embalado na resposta ao cmonteiro e à sua referência ao português por ele utilizado, escrevi cidadões. Mal, muito mal! Porque se não trata de matéria de opiniães, permitam-me a correcção para cidadãos. ;)
Meus caros,
ResponderEliminarA questão é: Discute-se o assunto, ou discute-se a atitude de quem discute o assunto?
É que, caro Ferreira de Almeida, não o vejo sair do mesmo sítio: Os rapazes são uns deliquentes. Sim, concordo.
E mais?...
Ora meu caro cmonteiro, esse seu último comentário é tipo atirar ao pato e acertar no pardal...
ResponderEliminarDeve o meu Amigo ter-se perdido neste pequeno despique e não ter reparado que os meus comentários vinham na sequência das avisadas palavras da Suzana Toscano no seu post.
Agradeço-lhe, contudo, a sua atenção em responder-me.
Este comentário foi removido por um gestor do blogue.
ResponderEliminarJá falei muito sobre este assunto, a propósito de um tema anterior, e já "arrumei" as ideias bonitas que o nosso colega cmonteiro tem da vida, por isso não vou voltar a entrar no mesmo. Gostaria apenas de deixar mais um provérbio (este até gosto muito... deve ser defeito de fabrico):
ResponderEliminar"THE PRICE OF FREEDOM IS ETERNAL VIGILANCE!"
E numa Democracia que se quer saudável e segura para todos os cidadãos de bem, independentemente de côr, idade, sexo , credo ou clube de futebol isto é um facto inegável. Por mais que os "pensantes intelectuais" de esquerda digam o contrário, assim tem de ser, até porque a ideia de anarquia é muito boa, mas enquanto houver um ser humano que pensa um milimetro diferente de outro, ou que cobiçe um milimetro da "liberdade" do outro, está o caldo entornado e nunca ninguém se entenderá... A única forma de um ser humano não cobiçar o milimetro do outro é se todos pensarem exactamente igual, e aí pergunto eu... onde está a liberdade de pensamento e de expressão? São estas as teorias liberais absolutas que nos querem impingir? O termos todos de pensar uns iguais aos outros, sob pena de não ferir a susceptibilidade e de não "entrar" no milimetro do outro?
Não obrigado... assim eu não jogo... e depois eu é que sou fascista! :)...