quinta-feira, 17 de novembro de 2005

Quando se fala demais

Há inúmeros responsáveis políticos que se deixam hipnotizar por qualquer câmara de video ou microfone.
E o resultado é que desatam a falar.
Do que sabem e estão informados. Mas também, frequentemente, do que não sabem e lhe foi soprado por um qualquer papagaio de pirata (*).
A utilização sensata e parcimoniosa da palavra (como da imagem) é hoje uma qualidade inegável das lideranças, infelizmente rara e naturalmente pouco apreciada pelos media.
Vem isto a propósito deste acto de contricção do Senhor Ministro da Saúde que confessou (sem risco de penitência) que errou quando ontem declarou que eram um escândalo as resmas de médicos oftalmologistas que existiriam no Hospital dos Capuchos sem que o nível de atendimento dos utentes fosse satisfatório.
Fica sempre bem reconhecer o erro. Mas é perturbadora esta reiterada ligeireza com que os governantes publicitam informações que não conferem com a realidade, quase sempre num tom agressivo para alguém ou alguma classe.
O senhor Ministro pretende dar de si a imagem de um apóstolo predestinado a arrumar a casa da saúde, quiça o País. É verdade que quer o sector da saúde quer o País precisam de arrumação. Mas atitudes destas em nada contribuem para o aliviar do clima de crispação necessário a uma ponderada reforma do que está mal.
E começa por estar mal esta permanente e incompreensível tagarelice, ainda por cima falha de rigor.
(*) Para quem não saiba, papagaio de pirata é aquele personagem que aparece sempre na "cola" do ministro ou do secretário de estado quando entrevistados. A figura "cola-se" ao ombro do entrevistado e acompanho-o nas imagens. Alguns desempenham o papel de "pontos", soprando dicas e informações que o governante por vezes, enrascado, lá utiliza. O mais famoso dos papagaios de pirata foi aquele que apareceu ao lado do então candidato a Primeiro-Ministro António Guterres na célebre gaffe dos números da saúde, aparentemente "soprados". Mais tarde, num gesto de devida compensação, foi feito secretário de estado da saúde. Chamava-se Boquinhas. Ele há pais com um extraordinário dom de prognose na escolha dos nomes dos filhos...

2 comentários:

  1. Ahahahahahahah!

    Desculpe, mas tinha que por aqui a transcrição fonética do riso que me acometeu.
    E isso, porque não é fácil colocar onomatopeias, como se faz na bd!

    Ahahahahahaha!

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  2. Meu caro Ferreira d´Almeida. Não sabia que o meu amigo Boquinhas, colega de profissão e colega na tropa, tinha sido um "papagaio de pirata". Ah, então foi ele que soprou a «gaffe» ao Guterres? Bonito! Mas o que é que se poderia esperar de um médico a debitar números daquela ordem de grandeza?

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