terça-feira, 13 de dezembro de 2005
Gincanas
Como trabalho fora de Lisboa e moro mesmo ao pé da autoestrada, é raro ir de carro até ao centro da cidade e, quando não consigo evitar, procuro ir pelas circulares para não desistir a meio do caminho. Por isso mesmo, não há meio de me habituar ao que a maior parte dos lisboetas já acha normal, que é o caos nos sinais de trânsito, as mudanças permanentes de sentidos lógicos por causa das obras, os riscos amarelos meio apagados a dizer que é probido ir por ali quando afinal isso era há 3 anos e agora é mesmo por ali que se deve ir. As marcas do BUS são um exercício de adivinhação, ora duplicadas, ora incompletas, numa baralhação digna de um puzzle. Se o azar nos obriga a ir ali ao coração de Lisboa,pela Av. da República e vias circundantes, só por sorte se chega ao sítio certo sem largar aos gritos. Bem sei que é preciso fazer obras, mas custa muito pôr sinalizações decentes, destinadas a orientar quem não sabe em vez de mostrar uma tabuleta minúscula quando já passou o desvio? A isto podemos sempre acrescentar a habitual agressividade do português ao volante, defendendo o seu quadradinho como quem defende a vida, "então aquele agora é que se lembrou que quer virar à esquerda? Pois que siga em frente, quando chegar à Capararica logo volta para trás..." Pergunto-me vezes sem conta o que pensará um pobre visitante que escolhe fazer turismo em Lisboa e aluga um carro para andar por aí e vai parar a Benfica, ou a Alcântara ou a Sete Rios, ou mesmo às Amoreiras... Nós estamos habituados, é verdade, já nos conformamos com esta carga de nervos, com as voltas disparatadas, com o mau humor dos condutores, com os sinais absurdos cujo objectivo é assinalar um lugar e não orientar o caminho. Mas será assim tão difícil melhorar um pouco? Ao menos pelos turistas, já que nós adoramos gincanas...
É de facto uma enorme e diária irritação deslocarmo-nos para e em Lisboa de automóvel ou mesmo em transporte público. O caos agrava-se dia-a-dia em especial com as obras que não encontram fim (do Metro, do túnel do Marquês, da entrada na Praça de Espanha) na preparação das quais parece que ninguém se preocupou em planear desvios de tráfego. Basta olhar para o estaleiro montado em plena Avenida da República para execução das obras da linha vermelha do Metro para perceber que ninguém se preocupa em demasia em facilitar a circulação.
ResponderEliminarMas o caos maior verifica-se com a indisciplina na ocupação do domínio público. Pela total falta de consideração por parte dos automobilistas pelas pessoas com dificuldades na sua mobilidade (não falo só dos deficientes, mas dos idosos ou das mães e pais que transportam bebés) ao continuarem a estacionar em tudo o que é sítio, e muito em especial em passeios e passadeiras para peões.
Com a inacreditável passividade das autoridades que parecem ter alienado a favor da empresa que gere os parqueamentos de Lisboa toda a função de policiamento.
Com a colocação a esmo de sinalização e mobiliário urbano, que se somam às inúmeras barreiras arquitectónicas que tolhem os movimentos aos mais saudáveis.
Com os buracos, os desníveis, os derrames persistentes das condutas da EPAL que tornam a celebrada calçada à portuguesa numa gigantesca casca de banana.
Enfim, um sem número de factores que fazem com que Lisboa, e a generalidade das cidades portuguesas, se estejam a tornar espaços onde cada vez é mais se nega a liberdade de circular.
Em tempos achei que era boa ideia um Polis para a mobilidade. Mas hoje não deve haver dinheiro para esses luxos!
Haverá porém sempre lugar (e sai barato) ao civismo. Com ele recuperaríamos, pelo menos, os passeios...
Pois é verdade o que escreve, meu Caro Ricardo.
ResponderEliminarClaro que há cidades no mundo em que o caos é maior. Já estive em várias. S.Paulo será uma delas. Nova Deli, que o Pinho Cardão conhece, bom, aí não é o caos, é a mais acabada confusão em que quem não apita é que é o criminoso do volante.
O Cairo. E na Europa, Milão só para exemplificar.
Bom será, no entanto, que não caminhemos para aí! Também faz parte do conceito de liberdade que tanto cultivamos a faculdade que nos tem de ser outorgada por quem manda, de circular sem constrangimentos.
Estão a ver! Por isso é que eu ando de combóio...
ResponderEliminar... tirando isso, não ando de carro porque tenho medo de conduzir... e que ninguém me diga "Se tem medo, compre um cão"! Já experimentei conduzir com um canídeo ao lado e não resultou... e o meu carro tem mudanças automáticas...
Caros,
ResponderEliminarViver ao pé do trabalho é que é bom! No meu caso redescobri os prazeres de andar de autocarro (duas paragens de distância). Hoje o transito está uma verdadeira desgraça porque demorei doze longos minutos na viagem. Um caos...
Ah! Ao fim do dia volta-se a pé para casa. Com a maior calma do mundo.
Felizardo!
ResponderEliminarDe facto, não há como isto. Já conheci a realidade que falam e quando optei por viver ao pé do trabalho notei claramente melhorias na qualidade de vida.
ResponderEliminarAgora, veja lá caro Ferreira d'Almeida como as opiniões mudam, sou um autentico fascista anti-automóveis!
:-)
Do post da Suzana, fiquei a saber quem é que atravancou o trânsito todo ontem....:)
ResponderEliminarCocordo com o JMFA: Cairo, isso sim. 6 carros em 4 faixas a 10 cm uns dos outros a 80 km/h e não se vê um único acidente.
Ora aqui está um assunto muito interessante, e concordo com tudo o que aqui foi dito. Como certamente os colegas conhecerão no norte da Europa (Holanda, Luxemburgo, Dinamarca, Suécia, Noruega, Bélgica-pelo menos no geral, de alguma forma na Alemanha, etc.) não se debatem tão gravosamente com estes problemas, porquê? Além do civismo, natural e inerente ás mentalidades no global destes países, alia-se ainda uma coisa muito importante que é o planeamento de tráfego urbano orientado para a mobilidade dos peões, transportes públicos e sobretudo destinado a induzir uma condução não-agressiva. Passo a explicar:
ResponderEliminara) Rede de transportes correctamente integrada entre os vários meios de transporte públicos (coisa que parece que só descobrimos à uns 3-5 anos);
b) Eliminação de vias de fluídez acrescida (vulgo estradas e avenidas com várias vias no mesmo sentido) no planeamento e reajustamento das actuais - o que é que se quer de um português quando se o põe a circular numa Avenida com 3 ou 4 faixas para cada lado? que ande a 40 Km/h?
c) Integração e coexistência de peões e veículos motorizados nas mesmas vias de circulação, uma vez que as "AE's da cidade" são um meio absolutamente hostil ao peão e convidam a uma atitude agressiva por parte do condutor perante o peão e os outros condutores. Isto consegue-se reduzindo o espaço de circulação, e criando obstáculos naturais que obrigam o condutor a reduzir a velocidade e a redobrar a atenção quando circula nesse tipo de vias, levandopor consequência a uma redução dos acidentes e atropelamentos.
Esta experiência radical tem vindo a ser utilizada em alguns dos países que enumerei e tem sido um sucesso. O nível de acidentes caiu drásticamente, a taxa de atropelamentos caiu para perto de zero e os que há são pouco graves devido à velocidade média a que acontecem.
Ou seja os condutores, tal como os peões (que presumo que sejam todos humanos) ajustam o seu comportamento ao meio ambiente em que se inserem, logo se os põem numa "AE da cidade" a tendência será de acelerar, se os põem num local limitado e com diversos obstáculos naturais obrigam a uma redução da velocidade.
A tudo isto somamos uma natural redução do tráfego, pois não haverá muitos iluminados a quererem sujeitar-se a este tipo de condução, mas tudo isto deverá sempre ser coordenado com um correcto desenvolvimento dos meios de transporte (coisa inédita neste país).
Ao Tonibler,
ResponderEliminarComo estive lá vai para meses a experiência de atravessar uma avenida ainda está bem presente: Espera-se. E fica-se 10 minutos à espera de uma aberta entre dois carros que dê tempo para atravessar. Essa aberta não vai surgir nunca. A solução é juntarem-se umas 10 pessoas que querem atravessar e todas juntas avançarem pela avenida que aí os carros já param. Faixa após faixa consegue-se (são normalmente 4 para cada lado nas avenidas principais, que têm regra geral dezenas de quilómetros - sim, leram bem. Há lá uma com 40 km!).
Ao terceiro dia já se está muito farto disto. Os egipcios são loucos por automóveis, e de entre todos os modelos ficam embasbacados com o Peugeot 406. Não compreendia porquê até saber que são(eram) fabricados lá. Patrióticos. Não há seguros automóveis.
Mas nem tudo é pacífico. Os egipcios dizem que o transito do Cairo é a oitava maravilha do mundo, nunca pára e quem conseguir conduzir ali conduz em qualquer lugar do mundo. Mas efectivamente existem todos os dias muitos casos de mortes por atropelamento devido ao que acima descrevi.
Sendo um fascínio, o transito do Cairo é aquilo que mais detestei lá. Quando se está no Cairo, pensa-se em carros todo o tempo.
Ao comentário do Virus importa acrescentar o pequeno detalhe de que, esteve a trabalhar na C.E, na D.G ligada a estes assuntos, por isso é que ele fala assim... mas dêem-lhe um bocadinho que isto já lhe passa.
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