segunda-feira, 12 de dezembro de 2005

A ler...

... e a saborear, este post do josé na GLQL. De se tirar o chapéu.

O meu está tirado.

7 comentários:

  1. Aquilo é uma brincadeira. Um jogo de palavras. Uma tentativa algo pífia de escrever à Eco, com semioses escondidas.

    A menção ao Pedro Arroja é verdadeira. A menção às 400 páginas que lançou ao pobre Virgílio Ferreira, também. A do alçapão, idem. E ainda há mais outras.
    O EPC, antes de 25 de Abril era considerado um expoente da modernidade do que viria, ou seja, um pós-moderno avant la lettre.
    Respeitado nos círculos académicos apesar de ainda ser um jovem leitor de modernidades francesas.
    Por outro lado, sempre admirei a sua particular capacidade em escrever longos textos de suposta crítica literária ( será?!)que publica no Público e que -aposto- não deve haver meia dúzia de pessoas que aguentem a leitura para além dos primeiros parágrafos.

    Por outro lado, as crónicas, por vezes - raras vezes- são cómicas, malgré lui.
    Estas sobre o tal constipated cat, não têm piada porque carecem de autenticidade humorística. São forçadas.

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  2. Mas já que referem uma vacuidade intrínseca de quem procura os conceitos teóricos da moda, apenas para debitar em conferências e artigos de jornal,permito-me retomar a discussão anterior a propósito das Letras e tretas versus Ciências e aplicações.

    Sempre que EPC escreve sobre as correntes teóricas, literárias e algumas até sociológicas, estruturadas pelos franceses dos sessenta, dá cartas. Sabe. Estudou-os e brilhava nos fora da época.
    Até merecia o crédito de um António José Saraiva que o achava promissor como intelectual, embora à francesa.

    Sempre que sai dessa rede de conhecimento de tretas, espalha-se ao comprido da ignorância específica.
    Não respeito teoricamente, quem chama de "juizes do ministério público", aos magistrados do MP. Denota uma ignorância muito grande do sistema, para que lhe seja possível escrever sobre o assunto.
    Não é que não o possa fazer, mas a validade fica ao nível de qualquer pessoa que tenha opinião e a exprima em nome da indignação que sente e experimenta. Aí, é legítimo escutar, mas não se podem esperar propostas coerentes e profícuas, porque elas supõem conhecimentos mais aprofundados.

    E este exemplo pode alargar-se a outros sectores do conhecimento.

    Sobre sistema de educação, posso dar o meu palpite e tenho-o feito, por entender que é uma das peças chave da nossa recuperação como país. Se já fomos respeitados pelo saber, poderemos voltar a sê-lo, nem que seja daqui a 50 anos.
    E, para começar, nada melhor do que pensar nas formas de o conseguir.
    A minha metodologia é simples: observar o passado e recolher as lições que nos podem dar. Observar os outros, com olhos e ouvidos muito atentos e espírito crítico para não adoptarmos medidas que se revelam fracassos, quando se nos
    afiguravam como sendo as verdadeiras panaceias.

    E isto reconduz ao espírito deste comentário: as letras e a leitura de clássicos deveria funcionar como uma plus, depois de uma formação inicial, no ensino básico, com a exigência que dantes existia.
    Saber de cor a estrutura da rede ferroviária nacional, com as linhas de comboio existentes ou saber de cor todos os rios e alguns afluentes do país; ou saber de cor as preposições e demais conjunções, pode parecer um exercício inútil e perverso.
    Mas não é. A exercitação da memorização e a ideia de disciplina mental e treino da agilidade, não são ideias para deitar fora, parece-me.
    Eram e continuam a ser válidas.

    Pode haver outros meios de lá chegar aos mesmos objectivos, mas há um que é essencial e indispensável: é preciso esforço a estudar, para quem não tem a faculdade de memorizar imediatamente tudo o que aparece.

    É preciso esforço a estudar Matemática; a estudar Português; a estudar Física.
    Nada existe de importante em termos de conhecimento que não tenha sido obtido com esforço e disciplina.
    Esta ideia tão básica, tem sido abandonada, até por alguns que sabem que assim é e tal vez se esqueçam que não há alternativas.

    Mas talvez se consiga alternar esse esforço, não castigando demasiado os alunos.
    Parece-me que os indivíduos em geral, se inclinam naturalmente para as tretas ou para as ciências.
    Obrigar quem sente inclinação para tretas a decorar e compreender o teorema de Fermat, logo no início da aprendizagem, pode não ser boa ideia.
    Mas...e se for?!
    Quem poderá responder com saber a esta questão?!
    Eu não sei.

    Também nem sei se a leitura de Dante, Shakespeare ou Camões, no secundário, conduz a uma melhor formação intelectual.
    Mas sei que dantes se fazia isso, com bons resultados. Logo, haverá que saber se esse método, hoje em dia, também frutificaria da mesma forma.
    Ler o Eça com 15 anos, é um desperdício a não ser que seja como referência da escrita ortográfica ou de estudo de regras gramaticais, como se fazia com os Lusíadas.
    Mas porque é que não se faz como as bibliotecas itinerantes da Gulbenkian faziam?
    Havia um condutor e um ajudante.
    Sempre que as crianças de 8,9,10 anos e por aí fora, iam buscar livros, no que eram aconselhadas pelas professoras ( havia mais mulheres na profissão), o ajudante propunha títulos adquados, segundo critérios de formação que lhes eram ensinados.
    Adolfo Simões Muller era obrigatório. Julgo saber que hoje esse autor se torna lido no básico-secundário. Mas então ,era facultativo...e pelo método indicado.
    Sabe-se que as crianças adoram as telenovelas da TVI porque lhes contam histórias. Os livros também contam histórias. E é preciso que as crianças o descubram por si.
    Não se pode impor essa decoberta, sob pena de aborrecerem quem o faz.
    Quem o descobre por si ou através de outrém que o saiba fazer, pode um dia chegar ao estatudo de EPC e ultrapassá-lo, tornando-se sabedor e professor admirado.
    Com uns milhares deles( de professores, entenda-se- que não de horrorosos epczinhos), já fazíamos um país como eu gostaria.
    Aliás, o pai do EPC era um desses professores...e talvez seja um mistério porque é que os filhos nem sempre saiem aos pais.
    Mas isso dava outra discussão.

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  3. Bolas, oh josé, fazendo uso da sua metodologia, se tudo isso é bom, porque é que não o somos? Estava a dar a entender que aquilo que já se passou neste país em termos educativos era bom????

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  4. Não. Estava a colocar questões que não vejo resolvidas e a tentar perceber como é que se evolui competitivamente, com a ignorância e o laxismo como paradigmas, mesmo que o sejam negados, mas ainda assim evidentes.

    E estava a fazer o paralelo entre o sistema educativo que dantes existia e que promovia uma melhor educação do que aquele que temos hoje.
    E para que não haja equívocos, não tenho nenhuma nostalgia dos tempos de Salazar/Caetanismo, excepto a lembrança de que havia alguma ética pessoal, rigorosa até, na condução dos assuntos de Estado.

    Definitivamente, esse período não foi um período de devoristas.

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  5. V. conheceu a revista Observador?

    Em 1971-72 trouxe um estudo sobre as novas perspectivas de desenvolvimento rodoviário.
    Seria curioso publicar esse estudo e ver o que seria Portugal, mesmo sem 25A e com um terço do Orçamento de então, entregue ao esforço da guerra colonial.
    Tenho o artigo guardado.

    Seria ainda muito curioso ler o modo como estes assuntos eram tratados na comunicação social desse tempo. A Eurominas já existia e era um dos consórcios concorrentes a obras públicas. Já nesse tempo se dizia que as obras públicas eram para dar dinheiro sem muito controlo, mas não era nada do que hoje é.
    Estou convencido que o núcleo da corrpução autêntica que perpassa no país assenta aí os arraiais. Discretamente e até sem se tornar possível qualificar os actos como crimes. São "negócios", como sempre foram. A diferença está no custo para o erário público que talvez tenha multiplicado por 10 ou mais, em relação ao que era dante. E é uma estimativa empírica...

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  6. Talvez um exemplo concreto seja mais expressivo daquilo que quero dizer, sobre a aurea mediocritas actual:

    "a distorção morfológica. Talvez por isso encontre dificuldade em anotar uma boa exemplificação. Mas acaba de me entrar pela cabeça adentro um caso que serve de ilustração. Exemplo: o «implemento» no latim tardio implementum significava «enchimento» e um dia navegou para a Grã-Bretanha; por cá caiu em desuso, enquanto por lá se disseminou em implementation; e eis que daí veio a «implementação», agora tão notável na execução de qualquer planeamento. São bizarros estes termos viajantes em vaivém e que se desfiguram na forma, como reflexo dos conteúdos alterados. Umas vezes as coisas implementam-se bem, mas noutras a harmonia desafina completamente. Na verdade, alguns caixeiros-viajantes provincianos vão além-fronteiras visitar feiras estranjas e regressam inchados de ares, a impar de saberes mal digeridos. Teremos depois que engolir o seu peixe salgado, mesmo com cheiro a ranço?"

    E quem quiser seguir o fio à meada, pode continuar a ler por aqui

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