sexta-feira, 27 de janeiro de 2006
Ao longo da vida
A formação ao longo da vida está hoje na ordem do dia. Seja como factor de maior produtividade para a empresa, seja como estímulo à motivação pessoal e profissional, seja como oportunidade para encontrar novos caminhos profissionais, a palavra chave vem sempre à baila: formação.
No entanto, nem sempre há uma noção clara do que se procura ou do que se pode, de facto, obter desse esforço adicional que se faz em simultâneo com a vida “normal”.
Há dias, uma pessoa muito inteligente e profissional em quem não se suspeitaria insatisfação, dizia que não tinha encontrado nenhum retorno do MBA que fez, há 3 anos, com óptimas notas. Mais: que já se tinha esquecido do que aí aprendeu, uma vez que a sua vida continuou como dantes, o mesmo trabalho, as mesmas exigências, pouco reconhecimento. Pouco faltou para considerar que dois anos de intenso esforço se saldavam por tempo perdido…
A questão é o que se deve realmente esperar de uma formação digna desse nome, sobretudo se for gente qualificada que não se contenta com mais uma linha no currículo. De facto, o conhecimento é um fenómeno complexo e não se esgota na aprendizagem de novas matérias nem se traduz apenas numa promoção ou num aumento de ordenado (embora esses possam ser bem vindos!). Esse é apenas o primeiro nível da resposta, ou seja, aprender o que já sabíamos que nos faltava.
Mas um programa bem feito deverá também ajudar a revelar que há conhecimentos que a experiência deu, ou que se assimilaram mas estavam esquecidos, e que não eram valorizados –o que não sabíamos que sabíamos. Passar a ter consciência do que se foi aprendendo sem se dar por isso, ou simplesmente passar a ter esses saberes estruturados de modo a serem aplicados, aumenta a auto confiança, ajuda a tomar decisões, potencia a experiência acumulada e pode constituir um valor ainda mais precioso do que o que se conseguiu aprender de novo.
Mas há também o que se julgava saber e afinal não se sabia. Ou o que se pensava não existir ou não ter importância e eis que surge como essencial ou diferente do que se tinha como certo. Esta dimensão da formação é talvez a mais marcante, porque é a que se obtém sem que se procurasse, uma vez que quem julga que sabe não procura saber mais e acha-se suficiente na sua pequenez. Esta dimensão está geralmente associada à arrogância ou à falta de capacidade para ouvir opiniões diferentes, leva as pessoas a isolar-se ou a desprezar quem podia dar um excelente contributo nessas matérias.
Um bom programa de formação deverá tocar estes três factores – aumentar o conhecimento, valorizar a experiência, trazer a humildade de ouvir e estar disposto a corrigir o que se julgava saber.
E estes valores não se perdem com o tempo nem são diminuídos com a falta de reconhecimento – tornam-se num bem que integram a grandeza de cada um. Ao longo da vida.
Grande post, grande tema!
ResponderEliminarTinha tanto para comentar aqui, que não vou comentar grande coisa..:)
Só queria recordar que a esmagadora maioria da oferta de ensino superior nocturno é feita pelo sector privado(!?!?!). Quando o ensino superior público existe para que todos tenham acesso a ele, desde que não precise de trabalhar, o melhor é fechar de vez.
Vossas exas. que são ou foram deputados da república e gente ouvida, vejam se conseguem que TODO o ensino público superior passe a ser nocturno, para que TODA a gente possa trabalhar enquanto estuda (ou dá aulas!).
Isto não sai mais caro e eram mais 20% no PIB, pelo menos!
Caro tonibler, os seus comentários são muito bem vindos, como sabe e este tema bem precisa de reflexão e crítica. Quanto ao ensino superior nocturno ou melhor, ao estudo/formação para quem já trabalha, a tendência é para "facilitar" como se se pudesse ser menos rigoroso com esses estudantes do que com os que se dedicam apenas a estudar. Ora o que se passa é que a formação para quem tem menos tempo e menos paciência para aprender, para ser equivalente, tem que ser muito mais bem preparada, exactamente para que os alunos possam dar o mesmo rendimento. Ser professor à noite ou formador de profissionais no activo devia ser muito elaborado, o problema está em quem forma e não em quem procura a formação. Ou não terei entendido a sua intervenção?
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