terça-feira, 31 de janeiro de 2006

Poderes efectivos


Alan Greenspan deixa o leme da Reserva Federal ao cabo de 18 anos.
Leio as referências ao imenso poder que este homem teve nas suas mãos. Poder que exorbitou em muito da influência sobre a economia dos Estados Unidos para se situar no plano dos condicionamentos à economia global. Que sobreviveu a umas largas dezenas de líderes mundiais e a uns tantos do seu próprio país.
Dá que pensar. Greenspan, à semelhança dos governadores dos bancos centrais dos Estados Europeus, nunca se sujeitou ao sufrágio dos seus cidadãos. Mas condicionou-lhes a vida mais do que qualquer governante eleito, sobretudo em momentos em que teve de tomar decisões que no imediato se refletiam na vida das empresas e das famílias! E fê-lo, como nenhum outro poder, de forma insindicada e, em boa verdade, quase insindicável.
Observando o fenómeno, salta à vista este evidente paradoxo. Quantas disputas, quantas querelas sobre cargos e funções cujo poder é meramente simbólico. E, em contaponto, quanta liberdade concedida a centros às vezes unipessoais de poder, nos quais se confia cega e inquestionavelmente, que jogam um papel decisivo no nosso futuro colectivo.
As loas que se ouvem, de toda a parte, sobre Greenspan, serão um hino a alguns dogmas da democracia, sobretudo o que romanticamente crê que todo o poder radica no Povo?
E entre nós?
Não é necessário pensar muito para perceber que também é assim no nosso cantinho à beira-mar plantado. Também entre nós existe quem exerce o poder efectivo com discrição; e quem se dedique a manifestações fantasiosas de poder que não tem. A estas últimas deu-se em Portugal a curiosa designação de ´magistraturas´. A que alguém, bem avisado, acrescentou ´de influência´...

1 comentário:

  1. Greenspan não é eleito, directamente, e o seu poder nunca foi independente. Toda a gente olha para ele como o sujeito que diz +50 bps e o mundo cai aos seus pés. Mas na realidade o que ele faz é adaptar a política monetária à política económica dos governos, esse eleitos democraticamente. A baixa ou a subida das taxas é uma consequência, não é uma causa. A causa, essa, sempre esteve nas mãos do povo.

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