Na semana passada realizou-se em Lisboa a Conferência The Economist, organizada pela prestigiada revista com este nome, e centrada nos problemas e perspectivas da economia portuguesa.
O destaque maior da nossa comunicação social foi, como não podia deixar de ser, para a interpelação do ex-coordenador do Plano Tecnológico, José Tavares, ao Primeiro-Ministro, sobre o eventual desinteresse de um Ministro do actual Governo relativamente a uma parceria do MIT (o Massachusetts Institute of Technology, uma das mais prestigiadas universidades do mundo) com universidades portuguesas; no entanto, não poderia deixar de chamar a atenção para a excelente entrevista que o “Diário Económico” fez a Ania Thiemann, a analista do The Economist Intelligence Unit para Portugal.
Da análise extremamente lúcida que A. Thiemann fez sobre a evolução recente da economia portuguesa, em particular por que nos encontramos na actual situação, e quais as perspectivas, não posso deixar de transcrever alguns parágrafos:
“(...) Portugal fez erros horríveis no final dos anos 90. O que está a acontecer agora é que Portugal está a pagar o preço dos excessos cometidos nessa altura. Quando as taxas de juro começaram a descer e a liquidez inundou o país, as pessoas começaram a gastar como loucas. E numa situação destas, o Governo deveria ter pago dívida pública e consolidado as finanças públicas. Em vez disso, o problema é que temos, em Portugal, uma política pró-cíclica. O Governo deveria ter deixado que os estabilizadores automáticos funcionassem. Tudo correu muito bem até termos o grande abrandamento em 2000/2001, quando o país se apercebeu que o défice orçamental era de 4.4% (...).
Depois, A. Thiemann “culpa” o Governo PSD/CDS-PP por não ter atacado de forma estrutural o problema do défice público (o que, em parte, é, de facto, verdade...), referindo que o país perdeu, assim, dois anos nesta matéria. Finalmente, diz que o Governo de José Sócrates vai no bom caminho (se, acrescento eu, as boas intenções até agora reveladas forem, de facto, passadas à prática...).
Finalmente, refere que “(...) não creio que seja um grande problema se Cavaco Silva vencer as eleições, porque se há uma área na qual Sócrates e Cavaco Silva concordam é na necessidade de reformas estruturais. Estaria muito mais preocupada se Soares fosse eleito (...). Agora é tempo de levar a cabo reformas estruturais muito profundas, primeiro no sector público, depois no mercado de trabalho. É claro que se tivermos um Presidente como Soares duvido muito que Portugal consiga levar por diante este tipo de reformas. Por isso, estou bastante optimista se for Cavaco Silva a ganhar as eleições (...)”.
Voilà. Como se sabe – e ainda bem, não posso deixar de o referir –, Cavaco Silva ganhou mesmo as eleições presidenciais de domingo passado. E, portanto, temos realmente reunidas as condições para fazer o que tem que ser feito. Para fazer “Portugal Maior”. As reformas na administração pública, no mercado de trabalho, como A. Thiemann referiu – e, acrescento eu, também na justiça, na segurança social e na fiscalidade. Estas são essenciais. Cavaco Silva não impedirá, certamente, que elas se façam. Mas não é ele que tem o poder de as fazer. É ao Governo que cabe essa tarefa. Subir os impostos já foi errado e mau, muito mau – como aliás se está a ver (e a sentir...). Esperemos que não haja mais desilusões.
Caro miguel
ResponderEliminarCompletamente de acordo. Agora deixa de haver desculpas e distrações é tempo de dizer "deixem-os trabalhar". Bem. De preferência.
Caro Miguel Frasquilho,
ResponderEliminarAcerca do Portugal Maior:
Reformados famosos do Banco de Portugal - 5 anos chegam...
"Várias dezenas de ex-governantes e deputados, para além do Presidente da República eleito (Cavaco Silva), recebem reformas do Banco de Portugal.
ALGUNS DOS REFORMADOS DO BANCO CENTRAL
Nome: Campos e Cunha
Cargo que ocupava: Vice-governador
Início da reforma: 2002, por cessação de funções
Valor da reforma: 8000 euros
Nome: Tavares Moreira
Cargo que ocupava: Técnico consultor de nível 18c
Início da reforma: 1 de Junho de 1999 – negociada
Valor da reforma: 3062 euros
Nome: Miguel Beleza
Cargo que ocupava: Técnico consultor de nível 18c
Início da reforma: 1 de Novembro de 1995 – negociada
Valor da reforma: 3062 euros
Nome: Cavaco Silva
Cargo que ocupava: Técnico consultor de nível 18b
Início da reforma: 15 de Julho de 2004 – por limite de idade
Valor da reforma: 2679 euros
Nome: Octávio Teixeira
Cargo que ocupava: Técnico consultor de nível 18a
Início da reforma: 1 de Dezembro de 2001 – negociada
Valor da reforma: 2385 euros
Nome: Ernâni Lopes
Cargo que ocupava: Técnico consultor de nível 18
Início da reforma: 1 de Setembro de 1989 – negociada
Valor da reforma: 2115 euros
Cumprimentos,
Antonio Felizes
Obs - o Banco de Portugal é um dos bancos centrais que mais gasta com pessoal na OCDE.
Posso fazer uma pergunta a propósito das reformas?
ResponderEliminarEsses senhores que ganham essas reformas invejáveis, por acaso não terão descontado para isso?
É só uma mera dúvida existêncial que tenho.
Caro Anthrax,
ResponderEliminarNaturalmente que as pessoas enumeradas nesta lista, em cada vencimento auferido descontaram 11% para o fundo de pensões.
Mas a questão que se coloca aqui não é essa. A gravidade desta situação é que muitos deles, tiveram apenas uma passagem episódica pelo Banco (alguns bem menos que 5 anos..)
Faça as contas e tire conclusões.
Cumprimentos,
Antonio Felizes
Que eu saiba, os empregados do Banco de Portugal recebem reformas do Fundo de Pensões do Banco de Portugal. Problema dos empregados do Banco de Portugal. Desde que não venham cá chatear depois.
ResponderEliminarExcelente post, Miguel! Essa entrevista bem merecia este destaque e esta análise com que concordo inteiramente.
ResponderEliminarCaro Felizes,
ResponderEliminarObrigado pelo esclarecimento. Por essa perspectiva, já percebi.
No entanto - e não querendo justificar nada - também não se pode pretender que um administrador do Banco de Portugal tenha uma reforma igual à de um simples bancário. O desempenho de funções é outro, as competências académicas e profissionais são outras. As comparações, para terem alguma validade, são sempre estabelecidas entre coisas semelhantes e nunca entre coisas diferentes.