O Boletim Económico de Primavera do Banco de Portugal, hoje divulgado, limitou-se a constatar o óbvio sobre a economia portuguesa, numa análise que, sinceramente, só pode causar espanto a quem tem andado (muito) desatento nos últimos (largos) anos. Como parece ser o caso da nossa comunicação social, neste caso os diferentes sites da internet e a rádio. A avaliar pelas reacções hoje conhecidas, o impacto nas televisões e nos jornais (amanhã) não deve ser muito diferente – e o que parece, como já referi, é que nos foram transmitidas novidades estonteantes. Ora, claramente, isso não sucedeu! Vejamos:
“(…) ausência de uma recuperação sustentada da actividade (…)”. Claro que a recuperação não é sustentada. Mas não é isso visível?! Qual é a novidade?!
«A evolução da economia portuguesa em 2005 foi marcada pelo reduzido crescimento da actividade, a estagnação do emprego e o aumento da taxa de desemprego. Simultaneamente assistiu-se a um aumento do défice estrutural das contas públicas. A situação de 2005 agravou a divergência real face à área do euro». Peço muita desculpa, mas para quem é que isto é original?!...
Ainda de acordo com o Banco de Portugal, o parco crescimento económico em 2005 (0.3%) foi puxado pelo consumo privado e pelo consumo público, e o investimento e as exportações caíram. Também não é novidade, mas é o padrão de crescimento que desejaríamos não ter – por não ser saudável nem sustentável – e que infelizmente temos…
Para além disso, as razões para o mau desempenho em 2005 situaram-se ao nível do aumento do preço das matérias primas e da energia, e do não ajustamento dos salários reais, que afectaram negativamente a produção portuguesa e explicam em parte o mau momento. Isto, claro, para além de outras razões, igualmente bem conhecidas de todos, como a incapacidade de vingar na luta pelos mercados externos (por outras palavras, que a nossa competitividade continua pelas ruas da amargura). E então?! What’s the big news?
O banco central elege ainda o aumento da produtividade como objectivo principal, para o que devem ser realizadas as “reformas que permitam a correcção do desequilíbrio estrutural das contas públicas e que conduzam a melhorias ao nível do funcionamento dos mercados”. Também aqui, a novidade é… nenhuma!
Mas a “cereja no topo do bolo” foi a comunicação social ter dado grande destaque ao facto de o valor do défice público se ter situado em 6% (!) – imagine-se a novidade! – e de a situação orçamental se ter deteriorado de 2004 para 2005, com o défice a subir de 5.3% para 6%, e o aumento de impostos a ser insuficiente para evitar a derrapagem das contas públicas.
Apesar de também aqui não ver qualquer novidade, a originalidade surge pelo facto de, pela primeira vez, a nossa comunicação social ter noticiado que, afinal, a situação das contas públicas se deteriorou de 2004 para 2005. Foi uma pena que não se tivesse dado por isso quando o Ministro das Finanças revelou que o défice apurado em 2005 era de 6%. Se subiu de 5.3% para 6%, não era óbvio que as coisas tinham corrido mal?!
Será que ainda não é desta que fica claro que tudo o que foi montado com os “famosos” 6.83% da Comissão Constâncio mais não foi do que pura ficção e fantasia?!... Espero bem que sim!...
Caro Miguel,
ResponderEliminarmas é claro que sim... isso já ando eu a dizer há meses!
Quando eu andava a dizer que o resultado final foi uma m"#$a, e que na realidade o défice aumentou, andavam por aí uns iluminados a dizer que o Governo teve uma performance excepcional porque não deixou o défice chegar aos 6,83%... O que não disseram foi que estavam a comparar o défice final de 2005 com um fantasma e um estudo sem fundamento racional, lógico e científico, nenhum. Porque se o comparassem com a realidade (o ano de 2004) então veriam que o resultado teria sido francamente mau, sobretudo tendo em atenção o que se "carregou" nos impostos que só veio a sufocar ainda mais os agentes económicos em todas as suas variáveis (investimento e consumo interno), o que óbviamente em nada ajuda ao desenvolvimento económico.
O meu caro sabe, certamente melhor do que eu, que a única saída para a nossa economia e para um combate ao défice passa por um crescimento da Economia. Economia essa que crescendo mais do que as despesas do Estado vai gerar um consequente aumento das receitas dos impostos. Não nos esqueçamos que 10% de 100 é mais que 50% de 10.
Agora sejamos um bocado sérios... Após anos e anos a ver que a nossa Economia não está em condições de produzir e competir para o exterior ainda não perceberam que o crescimento da Economia não pode nunca passar por um aumento das exportações? Se já não o fazíamos com o Escudo, e as suas constantes desvalorizações, como é que esperam fazê-lo agora com Euro?
Uma economia forte deve basear-se no mercado interno (veja-se os alemães, os franceses, os italianos, os espanhóis, os ingleses, os polacos, os americanos, etc. e tal), e para isso o mercado interno tem de ter condições para consumir o necessário para movimentar a produção nacional (seja de qual Sector 1/2/3 fôr)... e isso meus caros não é só uma questão de nº de habitantes, é uma questão de poder de compra, gráficamente
quanto menor fôr o mercado --> menos o mercado desenvolve --> quanto menos o mercado desenvolve --> menos as empresas investem na produção --> quanto menos as empresas investem menos trabalho há --> quanto menos trabalho há:
- Menos rendimento disponível para consumo
- Mais gastos sociais com subsidios e apoios
- Aumento da instabilidade social
- Aumento dos níveis de criminalidade
- Etc.
Aquilo que que os nossos sucessivos Governos têm vindo a fazer ao longo de mais de uma década é a matar a galinha dos ovos de ouro... e qualquer dia ela morre... e depois quero ver como é que vão fazer para combater o défice!
CONTINUEM ASSIM QUE VÃO NO BOM CAMINHO...
Sim, concordo com a maior parte do que é dito, excluíndo a parte "da ausência de uma recuperação sustentada da actividade".
ResponderEliminarÉ parca, mas é nossa! Quero com isto dizer que a habitual estupidez do estado gastar dinheiro na A345, de Brejenjas para Solitarios, para fazer crescer o PIB, já não há.
Se admitirmos que o crescimento foi feito na economia "formal", como dizem os brasileiros, a análise dos indicadores feito pelo Miguel e pelo BoP está correctíssima. Falta só conjugar esses dados catastróficos, da decomposição do crescimento, com o melhor (único de jeito, por sinal...) dos indicadores conjunturais portugueses, a taxa de desemprego.
Pois é, não bate! É incoerente este, com os outros.
Vamos agora deitar abaixo o pressuposto que os indicadores de que o Miguel e o BoP analisam reflectem de facto a economia portuguesa. Vamos assumir que reflectem apenas uma parte da economia e que existe outra parte, em bom crescimento, que não responde a inquéritos, não paga impostos, não passa facturas, não emite recibos, etc...
O crescimento é sustentado. Aliás, é daqueles que nos últimos anos é mais sustentado, porque é o resultado do nosso trabalho. Se tivessemos a percepção de quantas importações são, de facto, passagens de margem, o nosso crescimento deveria estar acima de 1%.
É pouco? É, mas é nosso! E por isso é mais sustentado que todos aqueles que tivemos nos últimos anos. Agora, isto não é mérito de ninguém, não resulta de nenhuma intervenção política estrutural, mas sim da luta pela sobrevivência e APESAR de todas as políticas.
Não deixa de ser curioso que se crucifixe o Banco de Portugal com os dados ... do Banco de Portugal.
ResponderEliminarUma nota adicional: por mais voltas de spin que se deduzam, a diferença imposta pelo actual governo por oposição aos OE's do passado (em que ninguém acreditava logo à partida nos pressupostos e nas metas) foi e é um mérito político que apenas serviu para catalizar a comparação 6,8 versus 6,0. Como já aqui disse, mais do que a relativização que aqui criticam possibilitada pelo relatório Constâncio, o Governo capitalizou credibilidade onde outros a desbarataram à partida.
E isso, qualquer político sabe que também vale alguma coisa.
Daqui a um ano, caso as metas definidas não sejam cumpridas (e mesmo que hipoteticamente o défice fique abaixo do valor de 2005) estou certo que cá estará o caro MFrasquilho para nos recordar isso. Vai uma aposta?
Caro Rui MCB,
ResponderEliminaro Governo não capitalizou credibilidade nenhuma, a única coisa que o Governo fez foi utilizar publicidade enganosa e iludiu todos os "iluminados" que andam mais preocupados com o Campeonato Nacional de Futebol e com o Mundial 2006, do que com as condições em que sobrevivem... porque os que vêem para além do seu próprio nariz bem se aperceberam da manobra de marketing que aqui foi utlizada.
Há leis contra este tipo de publicidade, não há é nenhuma que sirva para meter a direcção do BP atrás das grades por ajudar a enganar o povo...
Como sucede na máxima, ...não podemos enganar todos durante todo o tempo.
ResponderEliminarContra factos pareçe não existirem argumentos, mas este governo, pareçe querer inverter essa máxima e, até ao momento, conseguiu.
Em 2008 será a época das cobranças...difíceis como se verá.
Cumprimentos
Adriano Volframista
Bem vejo que ainda há quem acredite no Pai Natal... De facto também não é nada claro que o Peter Pan não exista...
ResponderEliminarE já agora o relatório da Comissão Constâncio até poderia ter dito que o défice iria ser de 12,83%... tudo não passava do que realmente era... uma hipótese... e não uma verdade absoluta como alguns querem fazer acreditar!!!
O que o Governo poderia ter feito para iniciar o combate ao défice era tão simplesmente dar inicio a medidas que estimulassem o crescimento económico sustentado pelos agentes económicos privados, e com isso ia indirectamente combater a economia paralela (que o Tonibler aqui menciona), só tinha que dar inicio a algumas das medidas já sobejamente conhecidas por todos, extremamente populares, mas que significariam uma quebra imediata e temporária (até ao crescimento sustentado da economia se instalar de forma estável) das receitas dos impostos cuja única forma de combater era uma forçosa redução das despesas do Estado. Isso sim, algo de impensável para a cáfila de egocêntricos que são os nossos políticos.
Eh lá! O Vírus está a esmerar-se! Cáfila de egocêntricos e irresponsáveis também, acrescento eu.
ResponderEliminarCá para mim, era leva-los todos para o campo pequeno que é o sítio apropriado para touradas.
Oh camarada Virus,
ResponderEliminarConsegue-me explicar que necessidade existe de combater a economia paralela? O que é preciso é que a formal funcione como funciona a informal, não o contrário!
Grande Tonibler,
ResponderEliminarnão há necessidade nenhuma de combater a economia paralela, mas se a economia formal funcionar em condições então a paralela deixa de ter o peso que tem no nosso país e acaba por lentamente se integrar na formal...
Atenção, eu falo de economia paralela, e não das actividades económicas ilegais (armas, drogas, prostituição, tráfico de orgãos, etc.).
O relatório do Banco de Portugal sobre as contas públicas, agora publicado, veio provocar um tremendo alarido. O caso não é para menos. Afinal as despesas do Estado aumentaram em 2005 face aos anos anteriores, quando deveriam ter diminuído e, os aumentos de impostos e outras medidas que se diziam de combate ao défice, ao que parece, de nada adiantaram.
ResponderEliminarOs crónicos defensores oficiais do regime e em especial deste governo, vêm-nos agora com o argumento de que” um comboio que está em marcha mesmo que se aplique os travões a fundo não pára instantaneamente”. O argumento tem a sua lógica, mas parte de um falso pressuposto. Na verdade não foram aplicados os travões a fundo quando muito tocou-se ao de leve no travão de mão e não no do pé.
Sem dúvida que, para a qualidade e extensão dos serviços que o Estado presta aos cidadãos, as despesas públicas são mais do que exageradas. Como então anular o crónico défice público sugador das energias do País e causa das dificuldades do seu desenvolvimento económico? (Em posts anteriores temos repetidamente abordado esta questão, ver por ex. O DÉFICE, em 07/02/06).
Ao quadro de funcionários “naturais” necessários e indispensáveis da Função Pública, a classe politica portuguesa, os sucessivos governos pós 25 de Abril, criaram uma nova classe de funcionários públicos, funcionários de topo, nomeados politicamente, sem concursos públicos e sem qualificações ou experiência adequada. Nomeados apenas por favorecimento politico e não por qualquer exigência curricular.
Simultaneamente, para albergar toda esta nova casta de funcionários, criaram-se serviços paralelos aos já existentes na Função Pública, sem qualquer racionalidade ou necessidade objectiva.
Os múltiplos Institutos, Comissões, Entidades, Conselhos, Gabinetes, Centros, Auditorias, Órgãos, Empresas Municipais, etc, nasceram com esta mesma lógica e são disso exemplo.
É este o “esquema”que a nossa classe politica tão bem soube erguer ao longo destes últimos anos. Um mundo de privilégios para várias dezenas ou mesmo centenas de milhares de indivíduos oriundos das clientelas partidárias.
Os custos, (cerca de 3,75% do PIB em termos financeiros), para o País desta irracionalidade funcional dos serviços do Estado, da sua distorcida organização, da incapacidade e falta de preparação destes “gestores” de nomeação politica, agravaram-se de tal modo que se tornaram insustentáveis.
O PRACE ou o SIMPLEX, são apenas simulacros de uma verdadeira vontade e capacidade de alteração, reestruturação, reorganização e racionalidade da Função Pública.
Será uma ilusão acreditar-se que esta mesma classe política venha a alterar o mundo de privilégios que tão sabiamente soube montar ao longo dos últimos anos.