quinta-feira, 27 de abril de 2006

Maio, mês do coração…


As doenças cardiovasculares (DCV) constituem a principal causa de morte nos países ocidentalizados.
Em Portugal, o comportamento das DCV tem sofrido alterações de nota devido a várias circunstâncias. De facto, nas últimas duas décadas e meia observámos uma redução significativa da mortalidade.
Habitualmente, há uma tentação, perfeitamente legítima, para justificar tais mudanças com base nas modificações dos estilos de vida e do comportamento. Não pondo de parte as suas influências, podemos, no entanto, afirmar que, entre nós, não são suficientes para justificar as variações observadas.
Não deixa de ser curioso que, nos últimos anos, tenham ocorrido fenómenos que estão, aparentemente, em contradição com a evolução das DCV. De facto, a percentagem de diabéticos aumentou, assim como os que sofrem de hipercolesterolemia; os portugueses estão cada vez mais obesos, consomem mais gorduras e calorias, cada vez fazem menos exercício, além de não termos, infelizmente, observado reduções significativas da prevalência da hipertensão, nem do consumo do tabaco (à excepção dos homens).
A fim de demonstrar o impacto destas doenças na nossa sociedade, podemos afirmar que, anualmente, se perdem qualquer coisa, em média, como 69.000 anos de vida antes de atingirem os 70 anos. Destes, 30.500 são da responsabilidade das doenças isquémicas do coração e 38.500 da responsabilidade dos acidentes vasculares cerebrais.
Tal como já foi afirmado, Portugal apresenta em termos cardiovasculares uma evolução positiva da mortalidade nas últimas duas décadas, nomeadamente para os acidentes vasculares cerebrais, mas também para as doenças isquémicas do coração.

Um melhor controlo dos principais factores de risco deverá explicar esta tendência. Sendo assim, é de salientar que a classe médica tem intervindo de uma forma positiva no fenómeno, quer através de aconselhamento, quer através de terapêuticas instituídas.
Se a tendência na redução da mortalidade é um facto, o mesmo não se pode dizer da morbilidade, para a qual não dispomos de informação credível, mas tudo aponta para que esteja a aumentar.
Em trabalhos já realizados, tivemos oportunidade de explicar que a prevenção secundária constitui, muito provavelmente, a razão para a melhoria entretanto observada, apesar de não terem ocorrido grandes variações na prevalência dos principais factores. A proporção de hipercolesterolémicos, de hipertensos e de diabéticos não sofreram grande redução, mas é muito provável que, entretanto, os hipertensos tornaram-se “menos hipertensos”, os hipercolesterolémicos “menos hipercolesterolémicos” e os diabéticos “menos diabéticos”. Importa, face a esta análise, afirmar que existe de momento um elevado potencial susceptível de reduzir, ainda mais, a mortalidade cardiovascular. Para o efeito, a adesão à terapêutica tem que aumentar, assim como um efectivo controlo dos principais factores de risco, os quais estão, perfeitamente, ao nosso alcance. Bastaria “só”, por exemplo, um efectivo controlo da hipertensão arterial para evitar que mais de 140.000 portugueses com idades compreendidas entre os 55 e os 84 anos viessem a sofrer um AVC nos próximos dez anos. Números que só por si justificam uma forte intervenção na prevenção secundária, cujo potencial está muito subaproveitado.
Aproveitando o mês de Maio, mês do coração, aconselhamos que vigiem e controlem os principais factores de risco cardiovascular, que obedeçam às “ordens” médicas, que tomem, escrupulosamente, ou se preferirem, religiosamente, os medicamentos prescritos, que façam exercício, que deixem de fumar, que tenham mais cuidados com os hábitos alimentares e, não se esqueçam, “façam o favor de serem felizes”, porque a felicidade é um poderoso factor de protecção cardiovascular…

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