Nos últimos dois dias têm surgido comentários contraditórios sobre a evolução do desemprego em Abril.
O IEFP divulgou em Abril uma descida de 2% do número de desempregados inscritos em relação a Abril de 2005.
Para essa descida concorreu uma eliminação administrativa (“limpeza”) de 4.192 supostos desempregados que, de acordo com dados da Segurança Social, estariam a descontar - o que quer dizer que estariam a trabalhar não podendo ser desempregados.
Esses “falsos” desempregados foram abatidos ao total, só por si fazendo baixar a taxa de desemprego em quase 1%.
Assim, a redução do nº de desempregados teria sido de mais ou menos 1% e não de 2%.
Acontece todavia que esta limpeza dos ficheiros do desemprego, através do cruzamento de dados com a Segurança Social – que parece de todo conveniente, numa óptica de rigor estatístico – tinha começado em Março, justificando então uma primeira “limpeza” dos tais falsos desempregados.
Então, para termos uma ideia da efectiva variação dos desempregados em Abril, seria necessário somar os dados das duas “limpezas”, de Março e de Abril, adicionar esse número ao de desempregados reportado pelo IEFP e depois comparar com o número de Abril/2005.
Se o número de falsos desempregados objecto de limpeza em Março foi sensivelmente igual ao de Abril, a conclusão a tirar será de que a taxa de desemprego terá estagnado em Abril; nem baixou – como as estatísticas oficiais parecem sugerir - nem aumentou.
Mas se a “limpeza” de Março foi superior à de Abril, então, em termos efectivos, o desemprego terá mesmo aumentado em Abril de 2006 em relação a Abril/2005, como parece sugerir a UGT pela voz do seu Presidente.
Em suma uma confusão que me parece lamentável pois retira credibilidade a dados estatísticos que são da maior importância para avaliar o estado global da economia.
Poderia ter-se evitado isto, trabalhando durante 12 meses com duas séries, uma com dados corrigidos e outra com os dados segundo a antiga metodologia.
Julgo que o próprio Governo, ao contrário do que alguns próximos possam pensar, não sai nada beneficiado com esta “trapalhada”. É mais um factor de descrédito, bem dispensável.
Esta situação fez-me recordar uma notícia recente do Financial Times sobre a manipulação dos dados do desemprego na Venezuela. O regime de Chavez, através do controlo político do organismo responsável pelas estatísticas, conseguiu reduzir a taxa de desemprego em 50% sem que ninguém perceba bem como foi possível uma tal redução.
Há, com certeza, uma grande distância entre as duas realidades.
Mas, pese embora essa distância, esta prática de alteração estatística pouco transparente não me parece nada recomendável.
Caro T Moreira,
ResponderEliminar4000 desempregados não é nada, é bem menos de 1% do total de desempregados e 0,05% da população activa, não é isso que altera a série substancialmente, o erro de medida deve ser maior que isso. Posso dizer-lhe que tenho que trabalhar com séries correlacionadas e os dados que tenho indicavam esta descida.
O desemprego está a baixar de facto, só que desce devido à economia paralela, porque trabalho há sempre, dinheiro é que não.
Caro Tonibler,
ResponderEliminarO nº que indiquei, 4192, é precisamente 0,9% do nº oficial de desempregados.
Eu disse "quase 1%". Onde é que está o equívoco?
E quantos foram os falsos desempregados eliminados em Março?
Confesso alguma surpresa face ao seu comentário...
Caro T Moreira,
ResponderEliminar1% do numero de desempregados é 0,077% da população activa, de acordo com o que diz o INE hoje. Como o que interessa é o número de desempregados sobre o número de possíveis empregados, essa limpeza de ficheiros corresponde a um efeito de 0,07% no número da taxa de desemprego e não "Esses “falsos” desempregados foram abatidos ao total, só por si fazendo baixar a taxa de desemprego em quase 1%". Admitindo que a essa "limpeza" corresponde a uma alteração de metodologia, como a afirma, a taxa de desemprego hoje anunciada seria de 7,8% e não de 7,7%, que é irrelevante em termos práticos.
Ou seja, classificar isto de uma trapalhada à Sul-Americana como faz, parece-me injusto. Injusto para nós portugueses, que cá nos vamos safando independentemente de conjunturas....;)
Caro Tonibler,
ResponderEliminarTem toda a razão na observação que faz,reconheço desde já que cometi um erro grosseiro de avaliação do efeito relativo da "limpeza" dos ficheiros de desempregados.
Creio que está aí uma boa razão para que este tema tivesse sido objecto de uma esclarecedora nota metodológica, desde o início, para que não restassem dúvidas quanto aos efectivos números do desemprego.
E para que não se instalasse esta confusão em torno do efeito da alteração.
Quanto a "nos irmos safando", é que já me parece uma conclusão que extravasa bastante das premissas...
Caro T Moreira,
ResponderEliminarO erro é perfeitamente natural uma vez que quase todos os indicadores conjunturais que são publicados são uma nódoa. A tx de desemprego é o único de jeito - que eu conheça - e que reflecte de uma forma quase fiel o estado global da economia e não apenas da economia que responde a inquéritos.
O "safando" foi inspirado pelas declarações do Ministro do Trabalho que resolveu achar que era mérito do governo. Não é, é "nosso", de nos conseguirmos defender como podemos.
PS: Há outro indicador do estado da economia muito bom, mas é privado. É o prazo de pagamento médio dos cartões de crédito que alguns bancos conseguem saber mas não divulgam, infelizmente.
Caro Tonibler,
ResponderEliminarAtentando melhor, o meu erro consistiu em usar, no 4º parágrafo, por desatenção, a expressão "taxa de desemprego" quando deveria ter referido apenas, como na parte restante do post, o nº de desempregados.
Toda a discussão se tem centrado na variação do nº de desempregados Abril/2006 sobre Abril/2005.
Mantêm-se assim plenamente válidas as conclusões que extraí, com excepção do 4º parágrafo, onde aparece o tal erro que eu próprio chamei de grosseiro.
Insisto em dizer que uma nota metodológica, em Março, esclarecendo as alterações verificadas e seus efeitos sobre o nº de desempregados teria sido o procedimento correcto.
Mas agradeço o seu contributo para este esclarecimento.
Bem eu penso ter encontrado a solução para tal descida de desemprego na Venezuela. Da mesma maneira que o nosso primeiro ministro se deslumbrar com meia duzia de aparelhos tecnológicos na Finlândia, penso que Hugo Chavez se terá informada como Portugal trabalha e deve ter aumentado o nº de fúncionários públicos Venezuelanos. Ou até quem sabe, mobilizou-os para as forças armadas para fazer frente ao , e faço minhas as palavras de Hugo Chavez, "Sr. Peligro".
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