terça-feira, 9 de maio de 2006

Previsões da CE: Contrariar por contrariar…

As previsões de Primavera da Comissão Europeia (CE) , ontem divulgadas, e cujos números já são conhecidos de todos, não transportam, em si mesmo, grandes novidades. A linha do relatório, no que toca a Portugal, vai na mesma onda dos recentes documentos da OCDE, do FMI e do Banco de Portugal. Assim, de acordo com a CE, teremos um crescimento económico que, em 2006 e 2007, se situará abaixo de metade da média europeia, o défice externo continuará elevadíssimo, as exportações não arrancam, o desemprego aumentará e o défice público “prometido” pelo Governo não será cumprido em cada um destes anos (a não ser se novas medidas foram anunciadas e implementadas).
No meio de tudo isto, o que me causou maior perplexidade foi a reacção do Primeiro-Ministro e do Ministro das Finanças a este número. Não porque reacções deste género já não tenham acontecido no passado, mas porque elas são cada vez mais extraordinárias, tentando, perante tanta evidência e unanimidade, negar o inegável e contrariar o inevitável.
Quanto ao Primeiro-Ministro, refere, de forma superior, que tem outros números para o desemprego e que acha que até já vamos ter um desemprego menos este ano. Deus o ouça, mas parece-me que o Primeiro-Ministro está bem enganado. Não sei que números terá, mas se se refere aos do IEFP, que mostraram, em Março, uma queda quer em termos mensais, quer homólogos devido a uma mudança de metodologia e a limpeza de ficheiros, creio que faz mal. Só se o Primeiro-Ministro julgará que é possível estar a fazer alterações metodológicas todos os meses… porque de outro modo, no “estado” em que as coisas estão, só mesmo por milagre uma tendência de queda poderia ser registada em meses vindouros.
Quanto ao Ministro das Finanças, refere que “Bruxelas não contemplou nas suas projecções para o défice público as medidas já anunciadas pelo Governo”. E que medidas são essas? Segundo Teixeira dos Santos, trata-se de combater o desperdício, forçando os serviços a cumprir o orçamento. Ora, que medida é esta que ainda não tinha sido anunciada pelo Governo? As auditorias aos Ministérios já estão concluídas? Se sim, ninguém deu por nada!... O Ministro já sabe se há funcionários públicos excedentários e em que serviços é que eles se encontram? Já há uma estimativa para a poupança a que a implementação do PRACE conduzirá? Não me parece, embora possa estar mal informado… A verdade é que, em pleno Maio, começa a escassear o tempo – porque estas coisas têm a sua inércia – para que o Governo possa actuar sobre a despesa pública...
E, assim, as projecções de Bruxelas sobre o défice – tal como sobre as outras variáveis - parecem fazer todo o sentido. Agora, contrariar por contrariar, sem trazer quaisquer novos elementos ao debate… mais valia que o Primeiro-Ministro e o Ministro das Finanças nada tivessem dito…

4 comentários:

  1. Ás segundas, terças e quartas a preocupação é o desemprego, ás quintas sextas e sábados a preocupação é a produtividade.

    Quem subsidia o emprego, estiola o esforço para aumentar a produtividade!

    Só um aumento da produtividade, aumentará o posicionamento competitivo das empresas nacionais e criará a riqueza para sustentar um aumento da economia capaz de gerar mais empresas e mais postos de trabalho.

    ResponderEliminar
  2. Anónimo10:33

    Embora compreenda que o discurso do senhor Ministro das Finanças (e por maioria de razão o do Primeiro-Ministro) não pode ser catastrofista, ampliando a preocupação que causam estes relatórios e previsões, também eu fiquei surpreendido com a linha de argumentação do ministro. De facto, dizer que as previsões não merecem crédito (ainda que não por estas palavras) porque não entraram em linha de conta com as medidas tomadas por este governo, espanta. Que medidas tomou para inverter a tendência para o aumento do desemprego com repercursões a curto prazo, capazes de fazer com que os números no fim do ano desmintam as previsões? E que concretas políticas de promoção do crescimento acima dos 0.9% previstos, de que depende, de resto a criação de emprego e o aumento da base global de incidência dos impostos de modo a gerar mais receita? Ou que efectivas medidas de redução da despesa?
    Discurso do "Oásis", parte II?

    ResponderEliminar
  3. CAro JMFA,

    O desemprego já não depende das medidas do governo, razão pela qual está a baixar. Os números do primeiro trimestre vão ser publicados para a semana. Vamos ver.

    Já o defice orçamental, claro que vai descambar. Mas isso...

    ResponderEliminar
  4. Se há uma coisa que eu aprendi nestes anos todos que trabalho com a CE é que eles, normalmente, não se enganam nestas coisas.

    Nós aqui, temos a manía de pôr florzinhas em tudo para as coisas nunca parecerem tão mal e fazemos isso em tudo na onda do «ah e tal, dê-lá um jeitinho», ou então tipo aquela do cartão vermelho a um jogador qualquer que era suposto acabar carreira «ah o árbitro podia ter sido mais flexível», ou ainda tipo aqueles que quando se candidatam a qualquer coisa e é preciso entregar os documentos conforme, ficam muito chocados quando se lhes diz que a candidatura foi rejeitada porque faltavam elementos obrigatórios.

    Na minha opinião, por muito básica que possa ser, é assim: há regras que têm de ser cumpridas, se não forem cumpridas não há nenhum projecto que chegue a bom porto e os principais interessados somos nós. Ora se nós somos os principais interessados em que um projecto - seja ele qual for - seja bem sucedido, logo para começar não podemos andar a contar histórinhas de fantasia uns aos outros (caso contrário vamos continuar a cometer sempre os mesmos erros) e depois há que reformular o projecto de modo a cumprir as regras «the end».

    Como é que vão fazer isso? Pois, não sei. De qualquer maneira estou muito contente porque não sou pago para pensar nessas coisas (bom... não a esse nível pelo menos).

    Agora o que ouvi hoje de manhã nas notícias da rádio é que foi, francamente, desanimador. Continuando assim, dizem que seremos o país mais pobre da Europa, é que até a Roménia nos passa à frente... se ao menos deixassem entrar a Albânia também!...

    E a Turquia «sinhores»! Já viram se a Turquia nos passa à frente também?! Não há nada pior que sermos ultrapassados pelos Turcos... excepto, talvez, sermos ultrapassados pelos Albaneses. A sério, é um cenário desolador. Um dia destes, dá-me a macaca e vou abrir uma loja de pasteis de nata na Nova Zelândia.

    A sério, não consigo perceber como é que esta gente não tem espírito de competição. Não consigo perceber porque é que são tão «bananas». É que não há glória nenhuma em ser «banana».

    Falando em bananas... vou comer. Tenho fome.

    ResponderEliminar