Segundo o DN de sábado, a Siemens Portugal registou 27 patentes em 2005, valor que corresponde ao maior registo de patentes por trabalhador do universo Siemens naquele ano. A Siemens mantém em Portugal cinco Centros de Inovação, um dos quais inaugurado no princípio deste mês, sendo propósito da empresa criar outro em 2007, dedicado à televisão móvel. Os Centros de Inovação da Siemens em Portugal empregam 1.330 engenheiros. No dia 2, assinou um protocolo de colaboração com a Universidade de Aveiro.
Este facto levou-me a pensar novamente nos reflexos da inovação tecnológica no desenvolvimento.
A investigação tecnológica, só por si, não traz desenvolvimento. Traz desenvolvimento, sim, aquela investigação que se traduz na inovação, isto é, na criação de um novo produto, susceptível de ser fabricado e comercializado, ou no aperfeiçoamento de um produto existente, alargando-lhe o mercado. Só nessas circunstâncias a inovação cria emprego e tem valor económico.
O Estado português gasta centenas e centenas de milhões de contos (na moeda antiga, para melhor se perceber) com a investigação levada a cabo nos seus Organismos e Laboratórios. Muita dessa investigação é à vontade do freguês, isto é, versa o que mais prazer pessoal dá a cada cientista, estando completamente afastada da realidade do país, das suas necessidades e das necessidades das empresas.
Como tal, não regista qualquer patente. Creio mesmo que pensa que tal procedimento é aviltar a sua nobre finalidade. Quando fui Deputado, perguntei aos responsáveis quais os objectivos e as metas de alguns organismos de investigação aos quais acabavam de ser afectas largas dezenas de milhões de contos. Ainda me lembro da cara de espanto da pessoa a quem fiz a pergunta: no meio de uma “engrolada” resposta, percebi que o objectivo da distribuição era simplesmente esse, dizer que a investigação tinha mais dinheiro!...
É por tudo isto que eu penso que o Plano Tecnológico devia ter apenas um artigo, que versaria o seguinte:
Os Organismos de Investigação e os Laboratórios Tecnológicos do Estado deverão, no prazo de um ano, estabelecer contratos de investigação aplicada com empresas, privadas ou públicas, que ocupem, no mínimo 80% da sua capacidade instalada. Nesses contratos deverão ser rigorosamente definidos o plano de actividades a desenvolver, os objectivos e meios a utilizar, a contribuição e o financiamento de cada uma das partes e o respectivo orçamento. Deverão fazer parte integrante dos contratos os nomes dos responsáveis de cada projecto. O Ministro da Economia fará deste objectivo a sua principal tarefa. Serão extintos os organismos que não encontrem clientes para os seus serviços.
Este sim, era um verdadeiro choque: era simplex e valia incomensuravelmente mais que a salsada das 300 medidas do Plano, a maioria das quais só serve para fazer número, pois de tecnológicas têm zero.
Este facto levou-me a pensar novamente nos reflexos da inovação tecnológica no desenvolvimento.
A investigação tecnológica, só por si, não traz desenvolvimento. Traz desenvolvimento, sim, aquela investigação que se traduz na inovação, isto é, na criação de um novo produto, susceptível de ser fabricado e comercializado, ou no aperfeiçoamento de um produto existente, alargando-lhe o mercado. Só nessas circunstâncias a inovação cria emprego e tem valor económico.
O Estado português gasta centenas e centenas de milhões de contos (na moeda antiga, para melhor se perceber) com a investigação levada a cabo nos seus Organismos e Laboratórios. Muita dessa investigação é à vontade do freguês, isto é, versa o que mais prazer pessoal dá a cada cientista, estando completamente afastada da realidade do país, das suas necessidades e das necessidades das empresas.
Como tal, não regista qualquer patente. Creio mesmo que pensa que tal procedimento é aviltar a sua nobre finalidade. Quando fui Deputado, perguntei aos responsáveis quais os objectivos e as metas de alguns organismos de investigação aos quais acabavam de ser afectas largas dezenas de milhões de contos. Ainda me lembro da cara de espanto da pessoa a quem fiz a pergunta: no meio de uma “engrolada” resposta, percebi que o objectivo da distribuição era simplesmente esse, dizer que a investigação tinha mais dinheiro!...
É por tudo isto que eu penso que o Plano Tecnológico devia ter apenas um artigo, que versaria o seguinte:
Os Organismos de Investigação e os Laboratórios Tecnológicos do Estado deverão, no prazo de um ano, estabelecer contratos de investigação aplicada com empresas, privadas ou públicas, que ocupem, no mínimo 80% da sua capacidade instalada. Nesses contratos deverão ser rigorosamente definidos o plano de actividades a desenvolver, os objectivos e meios a utilizar, a contribuição e o financiamento de cada uma das partes e o respectivo orçamento. Deverão fazer parte integrante dos contratos os nomes dos responsáveis de cada projecto. O Ministro da Economia fará deste objectivo a sua principal tarefa. Serão extintos os organismos que não encontrem clientes para os seus serviços.
Este sim, era um verdadeiro choque: era simplex e valia incomensuravelmente mais que a salsada das 300 medidas do Plano, a maioria das quais só serve para fazer número, pois de tecnológicas têm zero.
Podem aproveitar, que não registei a patente!...
Caro Pinho CArdão,
ResponderEliminarComentário gigantesco porque o post me diz muito. As minhas desculpas.
O maior nome da matemática pura da actualidade, Greg Chaitin, é quadro da IBM que lhe paga apenas para fazer investigação fundamental. Ao lado deste, existe um exército de cientistas que tentam aplicar as teorias de Chaitin e, ainda, ao lado destes estão aqueles que inventam "máquinas".
Isto tupo para dizer que há um ponto de equilíbrio entre aquilo que é investigação fundamental, aplicada e engenharia de produto. Esse equilíbrio é imposto por racionalidade económica, como todos os equilíbrios sociais.
Não há a mais pequena hipótese de uma empresa privada bem gerida, que não receba do estado de outra forma, perca tempo a estabelecer contratos de investigação, muito menos com toda essa exigência, porque o equilíbrio que é necessário estabelecer entre aquelas três componentes da inovação tem que obedecer a esse equilíbrio económico, que se deve estabelecer à medida da dimensão e resultado da empresa. E as três componentes estão ao alcance de todas as empresas, ao contrário do que a esmagadora maioria das pessoas pensa. Eu já fiz isso com 500 euros.
Acresce a isto uma questão de equidade. Deve o instituto público ser pago pelo seu trabalho uma vez que o contribuinte já o pagou à cabeça e a empresa privada já o pagou via impostos?
Adicionalmente, que é que esses institutos geraram até hoje? Nem falo de patentes, falo de qualquer coisa...
Concluindo, eu, gestor, vou contratar investigação externa a alguém que nunca produziu nada, necessitar de suportar custos de "liason"(enormes!), pagar por aquilo que já paguei e perder o equilíbrio da minha inovação? Só se fosse parvo!
Em resumo, a sua patente não é má, mas a solução é mesmo fechar aquela porcaria toda, colocar as pessoas no mercado de trabalho e entregar o dinheiro às empresas para gerir os seus departamentos de inovação com o equilíbrio devido.
Poderão dizer-me que a PT, o BES, a SONAE, contratam este tipo de investigação. Mas como disse, empresas privadas bem geridas, que não recebem do estado de outra forma...Ah!, a IBM tem dois prémios Nobel da Física.
Caro Pinho Cardão,
ResponderEliminarConcordo com o seu ponto, não concordo com a sua fórmula. E vou colocar as coisas em termos de financeiros, porque é igualzinho.
Em termos de gestão, inovação é um negócio de carteira. A melhor forma de se encarar a inovação é como se encara um fundo. Teoricamente, também poderíamos encontrar uma curva eficiente entre o risco e a rendibilidade.
A primeira consequência é que a carteira não pode ter um activo, senão o risco de fracasso é enorme(este é o paradigma de todas as tentativas nacionais de ligação entre empresas e institutos de investigação). Depois deve distribuir os seus activos de forma racional, x em fundamental, y em aplicada e z em engenharia do produto. A sua gestão é bem sucedida quando os projectos bem sucedidos, financiam os mal sucedidos e ainda vai libertam fundos, sabendo que mal sucedidos vão sempre existir.
Nesta lógica, vê um papel para os institutos públicos que não seja completamente passivo? Eu acredito que os finlandeses consigam. Os portugueses é que não. Porque a questão que se coloca num projecto conjunto é : De que lado fica o risco? Quem paga o atraso? O insucesso? Um instituto público pode gerir uma carteira de projectos com várias empresas, mas os mal sucedidos podem ser únicos para as empresas, isto é, cada empresa contribui com um projecto. Sendo mal sucedido, é 100% de insucesso. A primeira coisa que queremos enquanto contribuintes é que sejam as empresas a gerir essas carteiras porque devem ser elas a inovar, a colocar produtos, a gerar riqueza, a criar emprego.
Nesta lógica, o papel do estado deverá estar na cobertura de algum risco de liquidez que estas carteiras de inovação têm, mas pouco mais que isso. E deve, em tudo quanto tenha importância empresarial, fechar toda a investigação pública para financiar as falhas nessas carteiras.
Caros P.Cardão e Tonibler,
ResponderEliminarO LNEC foi, ao longo de décadas, um bom exemplo de um lab. do Estado que realizou muitos e bons trabalhos de investigação aplicada, com 100% de sucesso em múltiplos projectos de engenharia.
É pois possível conceber investigação por organismos públicos aplicada eficientemente em projectos de investimento de natureza estrutural ou mais directamente produtivos.
Admito, no entanto, que o LNEC seja aquela excepção que toda a regra consente...
Caro Tavares Moreira,
ResponderEliminarEstá-me a dar razão ao avaliar o LNEC em carteira. Posso dizer-lhe que também fez coisas pavorosas, simplesmente conseguiu gerir a carteira de forma a que as boas cobrissem as más. Mas o LNEC tem um papel de certificador e, logo, deve usar os resultados da certificação para financiar a investigação, até porque está no mercado, conhece as oportunidades de investigação. O LNEC é "uma empresa" de certificação, de venda de conhecimento. O estado não deve, de forma alguma, financiar as investigações do LNEC para que esta direccione a sua investigação para onde pode gerar valor(tirando, claro, a questão da cobertura do risco de liquidez).
E tal como o LNEC, temos o INETI e temos outros.
A Siemens consegue gerar 27 patentes e apostar em 1300 engenheiros porque a carteira deles é construída a partir de oportunidades saídas do mercado e os recursos alocados em função do valor produzido. Dessa 27 patentes vaõ conseguir pôr 10 ou 15 a comercializar e 2 delas conseguem pagar as 27 patentes mais todas aquelas que não chegaram a patentes.