A pergunta será impertinente para muitos porque toca num daqueles assuntos em que não se deve tocar porque constituem consenso nacional. Sacrossanto. Que não pode ser posto em causa. Nem em sussurro...
O apoio de Portugal a Timor em crise é um desses.
Como a minha opinião nada muda - e mesmo que mudasse... - confesso que cada vez que um dos responsáveis governamentais se pronuncia pela presença militar portuguesa em Timor, a pergunta herege apoquenta-me. Faz sentido?
O nosso Ministro de Estado e da Administração Interna acha que sim. Acha mais: se a comunidade internacional pedir (suspeito que não tem sequer que pedir muito...) reforçamos o nosso contingente da GNR. Faz sentido? Tenho profundas dúvidas.
Se é o orgulho que nos obriga a estar porque a Austrália está, creio que a razão é um disparate. A Austrália é a potência regional por aquelas paragens. Tem por isso especiais responsabilidades na manutenção da paz na região, sendo natural que lhe caiba o mandato internacional de coordenação de forças constituídas para o efeito .
Se é por os nossos governantes sentirem uma particular responsabilidade histórica em relação a Timor, uma espécie de insuportável peso na consciência nacional, penso então que o disparate é um tanto maior.
Portugal redimiu-se de uma descolonização desastrosa quando desempenhou um papel corajoso e irrepreensível contra a ocupação Indonésia. Durante um largo período lutámos sozinhos contra tudo e contra todos. Lográmos inverter a opinião pública internacional que anos a fio nos foi desfavorável, ou então nos ignorava olimpicamente. Conseguimos cativar a Europa e os EUA. A maioria do membros do Conselho de Segurança. Fomos determinantes na independência de Timor. Estaremos mesmo assim e para sempre condenados a expiar o pecado da descolonização falhada à custa de um enorme e permamente esforço, mesmo que os timorenses não se esforcem por encontrar o rumo (como é pressuposto da auto-determinação que tantas vidas custou)?
Mas pergunto-me se faz sentido tendo em conta também a conjuntura dificil que o País actualmente vive. Observo o pudor que leva a classe política a não questionar quanto custa ao País mais este acto de solidariedade com Timor Lorosae, agora que passou o tempo da solidariedade emocional. Não, não se deve falar destas coisas materiais quando está em causa uma coisa tão espiritualmente nobre como o futuro de um jovem, pequeno e pobre País que esteve (está?) à beira de uma guerra civil (não porque o povo continua pobre apesar das ajudas, mas porque se degladiam as elites), diz-se em surdina.
Mas faz sentido? Faz sentido que não se questione a intervenção portuguesa também deste ponto de vista? Sobretudo se pensarmos que se pedem sacrifícios enormes aos portugueses porque corremos o risco do empobrecimento acelerado? Quando não há condições para a poupança por mais esforçado que o trabalho seja? Numa situação em que cada vez há mais gente no desemprego ou sofrendo a dor da incerteza sobre se terá ainda emprego, amanhã, daqui a uns meses? Quando os que hoje se vêem privados de uma parte do rendimento para a contrapartida de uma pensão de reforma que ninguém responsavelmente garante que venha a ter no futuro?
Faz sentido que este esforço de muitos milhões, se peça a um Estado na situação financeira delicada como é a nossa?
Podem julgar-me demagogo. Mas tenham santa paciência, em consciência e procurando ser justo, julgo não fazer qualquer sentido.
Sei que turvo o santo consenso que se estabeleceu sobre este assunto. Mas em consciência não vejo razões para que a solução não passe pelo contributo de outros, mais próximos, mais preparados e seguramente noutras condições internas para colaborar numa solução de paz.
O quê?! O petróleo? Ah! Essa é outra conversa. Ou então, se é a mesma, a razão do nosso empenho não é um disparate. É do mais rematado absurdo!
Quantos e quantos não pensarão desta maneira?
ResponderEliminarO meu amigo teve coragem em expor a sua opinião e fez muito bem.
Ninguém põe em causa a solidariedade com o povo timorense, como é óbvio, mas manifestá-la desta forma, já que deverão estar em cima da mesa "interesses", jogos políticos, crises de crescimento, casos de polícia ou neo-comportamentos sociais desajustados à pobre realidade deste país, também não me parece correcto e muito menos solidário com as necessidades de muitos compatriotas nossos.
- EM SENTIDO -
ResponderEliminarCaros:
A reflexão que subscrevo, na totalidade, por baixo e por cima, assinada por JMFA, trouxe-me à mente um outro, diferente e "piqueno" pensamento.(preciso de pensar para afirmar a minha existência).
O que é que o Ministro da Administração INTERNA, tem a ver com a politica EXTERNA? Porque a GNR depende dele? Bom, tá bem. Ok. Entendido. Câmbio.
Mas não precisa, nem deve, andar por aí,a falar do assunto a direito e a torto. Por obrigação, transmite por "walkie talkie" (já que os telemoveis estão todos sob escuta do Bin Laden) ao MNE que tem gente para mandar para Timor, ou diz que não tem. E meios, claro. Se for exército é o M. da Defesa que tem de se aviar e responder!
Graça tambem teve aquela do 1ºM e Compª terem ido despedir-se dos elementos da GNR, 3 dias antes da data de saída. No dia, quando se atrasou a saída do avião, ( por razões "técnicas", como habitual)já me se arreganhava a dentadura a pensar que não iam, e como sairiam do filme. Para que a despedida não saísse frustrada ainda tinham que ir ali a Olivença, com o acordo do Zapatero, e voltar para justificar o aparato!
Pois e aí bate o ponto. No chamado Governo da Nação há uma coisa estranha que se vai passando, regularmente . Todos falam de tudo, e cria-se uma baralhação(embora pouco digam de concreto, valha isso!)! O Min da Agricultura fala de questões de politica externa e do Iberismo, sobre o que, quando muito, só o MNE, para alem do 1º deveriam falar. Não esquecendo o PR.
O Min da Economia fala de ambiente e o M. do Ambiente fala de economia...se não fala devia falar, para equilibrar as coisas. Mas a gente já descobriu que ainda não o descobriu, ao M. do Ambiente!
O das Finanças vem dizer que não vai haver pensões, (pensões de reforma claro e não estalagens ou hospedarias) e no dia seguinte o Min da Seg. Social vem dizer que há dinheiro para pagar, e que não há razões para temer, ou para tremer, não percebi bem!
Podia acrescentar aqui "pinhões" de exemplos, mas não me alongo! Perante isto tudo há que dizer: "EM SENTIDO" meus senhores, porque, assim, não FAZ SENTIDO!
E Timor não sai à regra, com o devido respeito por milhares de inocentes timorenses, joguetes nas mãos dos interesses diversos que ali se jogam! Ai petróleo...ai Timor!
De Portugal para a Indonésia e destes para a Austrália. Quem tem dúvidas?
Ao menos aqui, neste rectangulo europeu que não sejamos a Bracalândia, ou uma nova Feira Popular!
- Desculpem tergiversar um pouco o tema inicial, mas isto é como o coçar. Quando começa, vêm umas atrás das outras! Acabo de chegar (na passada madrugada) de um país de Lingua portuguesa onde estive uma semana. Será que por cá, ninguém distingue o trigo do joio? Ou distinguem? Ou não sabem? Ou a demagogia e o marketing também vão até aí? Um dia destes, se tiver oportunidade, e vier a propósito, falarei do que vi, ouvi e senti, nesta ultima semana.