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segunda-feira, 22 de maio de 2006

Insondáveis caminhos

A italiana ENI é parceira da portuguesa GALP em Portugal, detendo uma fatia importante do seu capital social.
Aconteceu que no concurso internacional aberto pelo Estado timorense para a exploração de petróleo no mar de Timor, a GALP não escolheu como parceiro o seu accionista, aliás durante algum tempo considerado seu "parceiro estratégico". Ou então aconteceu que a sua ex-parceira estratégica ENI - mas ainda accionista de referência - não a escolheu a ela, GALP, como parceira de consórcio naquele concurso.
Resultado: o consórcio liderado pela ENI passou a perna ao grupo que a GALP integrava, afastando a empresa nacional da hipótese de explorar petróleo em Timor.
Consta que a ENI, accionista da GALP, ofereceu 4,5 vezes mais a Timor do que o consórcio que a portuguesa, na qual tem interesses a italiana, integrava.
Podemos assim inferir:
(a) Que ganhou a ENI, porque se abriram novas áreas de exploração de um recurso cada vez mais valioso;
(b) Mas também perdeu a ENI porque uma das suas participadas - a GALP - não logrou obter o direito de exploração, não valorizando por isso as participações que nela detém;
(c) Decerto perdeu a GALP, não só a hipótese de celebrar um contrato com o Estado irmão de Timor, mas uns largos milhões de euros que, ao que consta, foi quanto teve de desembolsar só para adquirir o processo de concurso;
(d) E lá perdemos todos nós, contribuintes portugueses, que continuaremos a financiar com o pouco que há o desenvolvimento de Timor, porque pelos vistos ainda não será desta que a ccoperação com a jovem Nação se transformará numa via de duplo sentido.

Vem-me a despropósito à memória (às vezes ocorrem-me despropósitos destes, que fazer?) o esforço que aqui há uns bons anos - com Timor ainda ocupado pela Indonésia - , Portugal fez para defender junto do Tribunal Internacional de Justiça os direitos de exploração do petróleo no Mar de Timor daquele hoje Estado independente, perante a gula da Austrália. Mobilizámos nessa altura um dos melhores juristas, o Doutor Sérvulo Correia. Sem resultados no processo que a tarefa era ciclópica, mas valendo o gesto generoso de uma pátria que sentia ser seu o indeclinável dever de defender os recursos de que dependia o futuro dos timorenses.

Mas é como diz o poeta: não existe diplomacia económica, mas tudo vale a pena porque a nossa alma nacional, de tão generosa, nunca é pequena!

5 comentários:

Hugo disse...

Como sempre os interesses portugueses são completamente desprezados pelos governantes destes paises.
Será que se justifica continuarmos a enviar professores, policias, militares etc..., para Timor?

Tonibler disse...

Espero que o meu camarada Monteiro leia este post para entender uma coisa que discutimos há anos.

E camaradas, estamos nós preparados para a verdadeira diplomacia económica? Se calhar faltam mais uns detalhes na história, se calhar os heróis da independência estão a precisar de mais uns trocos, se calhar é preciso ensaboar umas mãos, se calhar é preciso atropelar alguém, ...

Isto é, se não estamos preparados para a diplomacia mais baixa, então não critiquemos e continuemos a mandar os professores que trará mais resultados no futuro.

Carlos Monteiro disse...

O teu camarada Monteiro não retira uma vírgula ao que o camarada Ferreira de Almeida transmite no post, Toni.

Mas o que andamos a discutir há anos é estilo "politica Kissinger", não são estes piquinhices de nação recém-nascida.

Adriano Volframista disse...

Mas então essa história dos centros de decisão nacionais não é uma treta? Não devemos deixar o mercado seguir os seus (sábios) caminhos?

Cumprimentos
Adriano Volframista

JPG disse...

"...afastando a empresa nacional da hipótese de explorar petróleo em Timor"

Ao que julgo saber, não é bem assim; ainda "sobram" 5 blocos para concessionar.

"... mas uns largos milhões de euros que, ao que consta, foi quanto teve de desembolsar só para adquirir o processo de concurso"

O Estado timorense já arrecadou, apenas na fase de concurso, cerca de dois milhões de euros devido às taxas de inscrição e ao levantamento de cadernos de encargos. (SIC)

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