sábado, 17 de junho de 2006

A lição da Azambuja

Uma vez por outra, alguém com voz num dos principais meios de comunicação, põe a nú algumas cruas realidades. Abordando assuntos dolorosos, não cala a verdade por muito imprópria que possa parecer aos cultores do politicamente correcto.
Bom sinal. Pode ser que esteja finalmente a passar a fase do fascínio de uns tantos pelas patetices bloguistas, e se comece a perceber que só com realismo e inteligência poderemos vencer as dificuldades.
Quem pôs o dedo na ferida foi Nicolau Santos, hoje no ´Expresso´.
Nicolau recordou que em 2003 se anunciou pela primeira vez a hipótese de encerramento da unidade da GM na Azambuja. Já nessa altura porque se revelava pouco competitiva em termos dos custos de produção. A reacção da comissão de trabalhadores foi a reivindicação de aumento salarial generalizado e uma quase imediata paralisação.
Nesse mesmo dia ficou, como é óbvio, traçado um curto futuro para a fábrica da Opel da Azambuja.
Os responsáveis pela desgraça de muitas famílias, neste caso, estão bem identificados. Só não vê quem entende que as comissões de trabalhadores e os sindicatos, mesmo quando contribuem para estes desfechos, são vacas sagradas em que ninguém pode tocar.
Desta feita, por muito que se esforcem os deputados do PCP e do BE sempre presentes, de negro vestidos, nestas ocasiões de estertor (procurando iludir as suas próprias responsabilidades no estímulo à contestação social mesmo em situações de eminente ruptura), dificilmente conseguirão remeter para os do costume - o governo e o capitalismo internacional - as culpas do brutal impacto do encerramento da fábrica.

Falta esperar pelo milagre de um retrocesso na intenção da GM. Se se verificar, apagarei com gosto este post. Mas mesmo que o venha a apagar, não mudarei a minha opinião sobre a irresponsabilidade de alguns sindicatos e comissões de trabalhadores e dos partidos que inspiram uns e outros.

2 comentários:

  1. Apesar de não ter lido o artigo do Nicolau Santos, pessoa sensata e com alguma coragem política revelada já em várias intervenções, observo que a nossa fragilidade como País, que confia demasiado nas Multinacionais para criar o emprego que o Capitalismo nativo não logra inventar, há-de sempre confrontar-se com situações semelhantes a esta. Difícil é promover um crescimento económico autónomo, baseado nas nossas próprias capacidades, em áreas susceptíveis de gerar forte valor acrescentado, em sectores transformativos, na índústria, de preferência, com tecnologia avançada, com métodos de trabalho modernos, que premeiem a competência, o mérito e não o compadrio mais ou menos político. Para isto, valerá a pena trabalhar, fazer sacrifícios... Para apoiar fantasias, choques fiscais e tecnológicos, será esforço baldado, inútil, porque o fogo-fátuo costuma ter curta duração...

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  2. Não li o artigo, mas já me tinha chegado essa mesma informação, embora a responsabilidade do PCP me tenha sido transmitida como bastante maior que um mero incentivo, chegando a ultrapassar a comissão de trabalhadores depois desta ter chegado a acordo com a GM.
    Concordo consigo a 100%, pena que os sindicalistas radicais não ofereçam agora a face para levarem uns bons tabefes, que é só o que merecem.

    Caro Pinho Cardão,

    Salários é só um lado da rendibilidade, por isso a GM vai passar a produção para Saragoça.

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