A proposta, abusiva, de recusar emprego a quem fume é um disparate que vem confirmar comportamentos previsíveis há mais de um quarto de século. Defender os direitos dos não fumadores, através de legislação apropriada, é uma coisa, discriminar em função de comportamentos ou estilos de vida é outra, já que raia a iniquidade.
O princípio subjacente a estes disparates assenta na chamada moralização da saúde. Se determinado estilo de vida ou hábito estiver associado a certas patologias, nada melhor do que os combater. Só que o combate tem que respeitar certos pressupostos, nomeadamente o estabelecimento do nexo de causalidade e as liberdades individuais. No primeiro caso, o nexo de causalidade nem sempre é fácil de estabelecer. As doenças não têm uma causa única, mas várias, aquilo a que chamamos pluricausalidade. E só conseguimos estabelecer esse nexo para o grupo, porque quando analisamos a doença num indivíduo as coisas complicam-se. Vejamos alguns exemplos: os que têm colesterol elevado correm mais riscos de sofrer um enfarte, mas tal conclusão não se pode aplicar com a mesma propriedade a um indivíduo, porque o processo que está na base da doença – enfarte – é tão complexo que uma pessoa com hipercolesterolemia pode viver muitos anos sem nunca vir a sofrer da doença. Também é certo que os fumadores correm dez vezes mais risco de morrer com cancro do pulmão dos que não fumam. Mas pode acontecer que, no caso particular de um fumador, este não vir a sofrer de cancro, ou, então, caso venha a sofrer, o factor responsável poder ter sido outro e não o tabaco. Complexo? Não! O que pretendemos dizer é o seguinte: as associações estão razoavelmente bem estabelecidas para muitos factores de risco quando aplicadas a grupos, perdendo muito da associação quando se analisa caso a caso. Significa esta abordagem que se conhecemos muito sobre as causas das doenças, ainda somos ignorantes sobre muitos aspectos das mesmas. O que acontece é que alguns responsáveis querem ser especialistas da moral da saúde, escolhendo, discriminando os doentes em função dos seus estilos de vida. É uma prepotência, uma perfeita arrogância, uma manifestação de pseudo-autoridade escolhendo uns em vez de outros como se fossem infalíveis, conhecedores da verdade absoluta, autênticos deuses! Tudo isto na base de que os melhores comportados deverão ter mais direitos, nas mesmas doenças, do que os "pecadores", já que os recursos são escassos e ficam muito caros.
Não sei se no mundo ocidental, civilizado, há o risco de implementação de regimes totalitários. Não sou perito nestas matérias, o que eu sei é que a área da saúde é muito propensa a ideias que fizeram, infelizmente, má história, em épocas recentes. Mesmo entre nós, a par do que podemos observar noutros povos, caso do Reino Unido, começam a aparecer as tais vozes moralistas que face a certos estilos de vida afirmam não merecerem ser tratados, pois ficam caros à sociedade, logo prioridade aos puros.
Convém não esquecer três coisas: podemos saber muito, mas ainda somos ignorantes; o que se aplica a um conjunto de pessoas pode não ser aplicável a um indivíduo e por último é preciso ter cuidado com certos fazedores de opinião que, não respeitando certos princípios, ainda poderão incendiar outras áreas da sociedade, acabando por fazer mais mal do que bem.
Cuidado com os moralistas da saúde. Eles andam por aí, e mordem mesmo...
O princípio subjacente a estes disparates assenta na chamada moralização da saúde. Se determinado estilo de vida ou hábito estiver associado a certas patologias, nada melhor do que os combater. Só que o combate tem que respeitar certos pressupostos, nomeadamente o estabelecimento do nexo de causalidade e as liberdades individuais. No primeiro caso, o nexo de causalidade nem sempre é fácil de estabelecer. As doenças não têm uma causa única, mas várias, aquilo a que chamamos pluricausalidade. E só conseguimos estabelecer esse nexo para o grupo, porque quando analisamos a doença num indivíduo as coisas complicam-se. Vejamos alguns exemplos: os que têm colesterol elevado correm mais riscos de sofrer um enfarte, mas tal conclusão não se pode aplicar com a mesma propriedade a um indivíduo, porque o processo que está na base da doença – enfarte – é tão complexo que uma pessoa com hipercolesterolemia pode viver muitos anos sem nunca vir a sofrer da doença. Também é certo que os fumadores correm dez vezes mais risco de morrer com cancro do pulmão dos que não fumam. Mas pode acontecer que, no caso particular de um fumador, este não vir a sofrer de cancro, ou, então, caso venha a sofrer, o factor responsável poder ter sido outro e não o tabaco. Complexo? Não! O que pretendemos dizer é o seguinte: as associações estão razoavelmente bem estabelecidas para muitos factores de risco quando aplicadas a grupos, perdendo muito da associação quando se analisa caso a caso. Significa esta abordagem que se conhecemos muito sobre as causas das doenças, ainda somos ignorantes sobre muitos aspectos das mesmas. O que acontece é que alguns responsáveis querem ser especialistas da moral da saúde, escolhendo, discriminando os doentes em função dos seus estilos de vida. É uma prepotência, uma perfeita arrogância, uma manifestação de pseudo-autoridade escolhendo uns em vez de outros como se fossem infalíveis, conhecedores da verdade absoluta, autênticos deuses! Tudo isto na base de que os melhores comportados deverão ter mais direitos, nas mesmas doenças, do que os "pecadores", já que os recursos são escassos e ficam muito caros.
Não sei se no mundo ocidental, civilizado, há o risco de implementação de regimes totalitários. Não sou perito nestas matérias, o que eu sei é que a área da saúde é muito propensa a ideias que fizeram, infelizmente, má história, em épocas recentes. Mesmo entre nós, a par do que podemos observar noutros povos, caso do Reino Unido, começam a aparecer as tais vozes moralistas que face a certos estilos de vida afirmam não merecerem ser tratados, pois ficam caros à sociedade, logo prioridade aos puros.
Convém não esquecer três coisas: podemos saber muito, mas ainda somos ignorantes; o que se aplica a um conjunto de pessoas pode não ser aplicável a um indivíduo e por último é preciso ter cuidado com certos fazedores de opinião que, não respeitando certos princípios, ainda poderão incendiar outras áreas da sociedade, acabando por fazer mais mal do que bem.
Cuidado com os moralistas da saúde. Eles andam por aí, e mordem mesmo...
Concordo.
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