terça-feira, 29 de agosto de 2006

Fora de carris

A mais recente polémica na cidade de Lisboa é a alteração dos percursos das carreiras da Carris.
Não é uma questão de somenos importância. Por um lado porque das decisões desta empresa, que detém o monopólio dos transportes públicos rodoviários pesados em Lisboa, depende muito da qualidade de vida e de trabalho de milhares de pessoas. Por outro lado porque uma rede de transportes públicos bem estruturada, dotada de meios rápidos e confortáveis, é fundamental para melhorar os elevados índices de poluição (sonora e de emissões) em algumas das zonas de Lisboa, o que só será conseguido se quem demanda a cidade ou nela circula reconheça nos transportes públicos uma alternativa qualitativamente equivalente e mais económica ao transporte individual.
Não tenho, como é óbvio, conhecimentos para saber se a Carris tomou ou não a decisão acertada. Ou se a contestação que a Câmara lhe move tem ou carece de razoabilidade.
Isso não me impede, porém, de ter uma certeza: o problema dos transportes em Lisboa (como nas restantes grandes cidades) não pode continuar a ser visto como uma questão paroquial e sobretudo não pode depender exclusivamente da decisão de uma empresa, ainda por cima detentora de um monopólio. Tem de ser ponderada à escala metropolitana, porque é à escala metropolitana que ocorrem os movimentos das pessoas.
Ainda ontem, na RTP2, a propósito do aniversário da Ponte 25 de Abril, se divulgava que o efeito da introdução do caminho de ferro não tem o impacto que poderia ter na descompressão do tabuleiro rodoviário uma vez que muitas das pessoas que vêm da margem sul, se dirigem à parte ocidental da região de Lisboa onde nos últimos anos foi mais dinâmica a criação de polos de emprego - Amadora, Sintra, Oeiras, Cascais - sendo escassos ou mal integrados os meios de transporte para estas zonas.
Por isso me admiro que estando constituída uma Autoridade Metropolitana de Transportes (AMT) não seja este o foro privilegiado de decisão.
Dizem-me que a senhora Secretária de Estado dos Transportes terá "embargado" a Autoridade e que intenta rever o seu enquadramento jurídico. Está no seu direito e é compreensível que o queira fazer porque no período em que a AMT teve existência formal a capacidade de intervenção que revelou foi nula. O que não faz sentido é que estando o governo em funções há tanto tempo, não se tenha ainda encontrado uma solução. E menos sentido faz - salvo se a anunciada decisão da Carris tenha sido determinada por uma urgência não explicada - que a alteração nos circuitos de transporte rodoviário não aguarde prudentemente por uma discussão participada no seio daquela entidade.

3 comentários:

  1. Caro Ferreira de Almeida,

    Comento apenas a referência à Ponte 25 de Abril que fez: Como antigo morador da margem sul constatei que a partir do momento em que foi anunciado a construções do comboio para a ponto, bem como as obras de alargamento do tabuleiro, a população do concelho de Almada quase duplicou, devido à construção massiva que foi autorizada. Os acessos às estações bem como os parques de estacionamento ficaram então rapidamente esgotados tornando a vida dos que utilizam aquele transporte, bem como dos que passam a ponte de carro, bem pior do que era dantes. Pior.

    É um exemplo paradigmático de como a contruções de novas vias ou infraestruturas de transportes não tem correspondência directa na melhoria das condições de vida dos cidadãos.

    Creio já ter debatido consigo antes este assunto; As autarquias têm excesso de poder na tomada de decisões, nomeadamente na possibilidade de autorizar construções, e em ultima análise têm sido elas os maiores inimigos do ordenamento urbanístico do território.

    Mas se calhar esta capacidade de ordenar construção que as autarquias têm não tenha como objectivo o cidadão, mas outros interesses ocultos que começam nas secções regionais de cada partido...








    Nota: isto foi escrito à pressa. Não ligue se estiver mal escrito. Não vou reler :)

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  2. Não sei se foi da minha longa ausência, se é do tempo, ou do assunto, mas venho a dar comigo cada vez mais de acordo com o cmonteiro, não sei se fique feliz ou preocupado, mas que concordo com ele lá isso concordo...

    Ainda me pergunto se o Presidente da Carris também vai para o seu escritóriozinho nos autocarros da companhia que o puseram a dirigir!

    Não há dúvida que ordenamento de território/construção e taxas e direitos municipais são dois opostos que não se atraem! Ora se as câmaras querem "encaixar" mais impostos e taxas toca de alterar o que for preciso nos PDM's e outros para lá meter mais uns prédiozitos, o que é preciso é "encaixar". Pelo caminho satisfazem-se os interesses ocultos dos envolvidos (desde o Presidente da Câmara, até ao técnico de vistorias) acabando geralmente com umas "compensações" não declaradas (através de heranças ou outras) que satisfazem as necessidades e interesses de muita gente da esquerda à direita!

    Só um exemplo, ali para os lados da Base Aérea de Sintra quem não conhece o caso dos prédios de habitação construídos em terrenos da Força Aérea, sem autorização expressa da Força Aérea, mas com a autorização da Câmara, em zona de aproximação ás pistas (Bem sei que também o é o Aeroporto de Lisboa, mas é diferente! Não é militar!)! E agora? Quem é que vai fazer o quê?

    Como esse caso há centenas por esse país fora... olhem para a Câmara de Cascais no reinado Judas (?!)!

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  3. Anónimo15:13

    Meus caros cmonteiro e virus, estou de acordo, como noutras ocasiões o manifestei, com a perspectiva que reconduz estes problemas da mobilidade das pessoas ao modelo de ocupação do território que adoptámos nos últimos tempos. Estou por isso em sintonia com o que um e outro escreveram.

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