terça-feira, 1 de agosto de 2006

Guerra de Números

Assistimos nos últimos dias a uma guerra de números bastante animada.
Tudo começou com a divulgação pela Direcção Geral do Orçamento (DGO), na semana anterior, da informação segundo a qual o número de funcionários públicos da Administração Central teria aumentado 10.166 no 1º semestre do ano.
Esta informação baseava-se na diferença entre o número de novos funcionários inscritos na Seg.Social e o dos que teriam passado à situação de reforma.
Face a este dado, que desmentia da forma mais enfática um dos grandes objectivos da política de gestão de Recursos Humanos do Executivo, incessantemente proclamado, o assunto foi discutido, por iniciativa do PSD, na reunião da Comissão Permanente da A.R. da última 5ª Feira.
Nessa reunião, o Ministro das Finanças (MF) viria a desmentir a informação divulgada pela DGO, esclarecendo que os dados estavam errados, pois não tinham levado em conta que:
- Teriam sido inscritos em duplicado na Seg.Social 8.279 funcionários (!);
- Dos inscritos, 2.458 não seriam funcionários públicos;
- Dos inscritos, 5.084 tinham entretanto desistido dos empregos (!).
Tudo ponderado, em vez de um aumento de 10.166, ter-se-ia verificado uma diminuição de 4.345 funcionários no período em causa.
Estava salva a honra do convento!
Mas o MF foi mais longe e apontou o dedo a 5 Câmaras Municipais que, de acordo com as informações que apresentou, teriam aumentado em mais de 50 os seus efectivos no 1ºsemestre de 2006, ao arrepio das orientações assumidas: Lisboa, Coimbra, Oeiras, Moura e Maia. Selecção curiosa, esta...
Nos dias que se seguiram, todas estas Câmaras Municipais desmentiram os dados divulgados pelo MF.
No caso da Câmara de Lisboa (CML), por exemplo, esta veio esclarecer que em vez do aumento de 50 funcionários referido pelo MF, teria havido uma diminuição de 61.
Com efeito, diz a CML que havia 11.045 funcionários em 31.12.05 e 10.984 em 27.07.06 (parte-se do princípio de que a diminuição não ocorreu só em Julho...).
Uns aos outros, todos se desmentem. Só a DGO não veio desmentir o MF, e percebe-se bem porquê.
E o MF, a partir do momento em que desmentiu a DGO, ficou naturalmente vulnerável aos desmentidos das Câmaras Municipais.
Para agravar a confusão, a imprensa de hoje (DE) levanta muitas dúvidas quanto aos dados avançados pelo MF. Com efeito, parece que, feitas as contas, as novas admissões, quase 11 mil, seriam praticamente iguais às saídas, 11.184. Assim sendo, não teria havido aumento nem diminuição.
Em conclusão, ninguém se entende, mas também se tem a noção de que o público já nem quer saber quem é que tem razão.
Acabamos por perceber que todos estes números são mais ou menos arranjados ao sabor das conveniências políticas, pelo que o crédito que merecem é quase nenhum. É pena.

5 comentários:

  1. Caro Tavares Moreira,

    Talvez se o PSD tivesse tido uma posição responsável, em vez de usar logo o facto como arma de arremesso político, a história nem se tinha iniciado.

    Porque o cerne da questão, o que interessa, é saber se está a haver uma efectiva redução dos funcionários públicos.

    Ou talvez não seja. Em Portugal, talvez não seja...

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  2. Como há já algum tempo comenta Joaquim Aguiar, ou diz-se a verdade ou não se diz.
    Um político tem que mentir para ser eleito, depois...., já vamos na segunda encenação da virgem ofendida, do capuchinho vermelho ou da versão política do programa de Orson Welles.
    Reformar a AP sem saber o número exacto de funcionários, é como tentar calcular os litros de tinta sem saber a área da casa.
    Se não aceitamos que um pintor nos faça um orçamento sem saber qual a área da casa, porque será que temos de aceitar que um político nos venha convençer que a AP tem de ser reformada?
    Sobre o resto, o seu partido e o que está no governo têm, ambos, a honra de partilhar as responsabilidades da autoria/paternidade do "Monstro", pelo que tudo o que não seja propostas concretas é como a história do 9/11 que podia ser evitado: "ská nevasse, fazia-se ská ski".
    Cumprimentos
    Adriano Volframista

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  3. Noutro post anunciei a vontade de estudar a ética da oposição democrática.
    Afinal vou dedicar-me, antes, a estudar a ética democrática actual.

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  4. Mas ainda temos um outro problema.
    Desde quando é que a DGO pia, por sua alta recreação?

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  5. Caros Comentadores,
    As vossas dúvidas e protestos de alguma indignação, mesmo que nalguns pontos se afastem da questão em análise, permitem-me reforçar a conclusão do post: manifestamente, ninguém percebe o que se passa e o crédito das fontes citadas está exaurido.
    Mas estamos com certeza no melhor dos mundos e é de bom aviso partirmos de férias.

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