quinta-feira, 10 de agosto de 2006

O Líbano e a falência das Nações Unidas


Ontem foi a Rússia que bloqueou a resolução do Conselho de Segurança das Nações Unidas sobre a situação de guerra no Líbano. Hoje é a vez da França se opor à proposta dos EUA.
Descobre-se cada dia que passa a fraqueza do Secretário-Geral da ONU que para além dos apelos de boa vontade pouco diz e menos faz pelo termo de um horrível conflito com inimagináveis consequências humanitárias a somar aos prejuízos em vidas humanas e aos incalculáveis prejuizos materiais no Afeganistão e no Iraque. Com reflexos em todo o mundo.
Tempos houve em que, não reflectindo a composição do Conselho de Segurança (como hoje não reflecte) a real relação de forças no mundo, os bons-ofícios e a influência de Secretários-Gerais permitiram compensar as as dificuldades na obtenção de consensos e ultrapassar as clivagens surgidas no Conselho de Segurança. O mundo estava dividido em blocos e todavia foi possível suster conflitos, negociar soluções ou minorar os efeitos de guerras.
Pensava-se então que, apesar da reforma necessária da ONU, era esta a única instituição internacional com capacidade para garantir a paz e a segurança internacionais, congregando esforços para a gestão de interesses nacionais colidentes. Apesar de todas as limitações, da falta de autoridade e de dinheiro, quando o Conselho o não conseguia, a habilidade e a autoridade do Secretário-Geral sempre contribuiram para resultados que fizeram acreditar no papel fundamental da ONU.
A absoluta incapacidade que as Nações Unidas têm demonstrado em especial nos conflitos do médio-oriente (mas também as dificuldades com que têm lidado com conflitos menores, como é exemplo o recente caso de Timor) põem a nú a profunda crise das instituições internacionais de carácter universal.
É algo que a alguns, porém, não surpreende. É consequência das concepções que acreditam que a efectividade das políticas internacionais de segurança deve apoiar-se exclusivamente num só Estado, arrogado da função de polícia do mundo.
Com os resultados que estão à vista.

8 comentários:

  1. Ai, ai! O amigo quer «cumbersinha», quer, quer. :))

    Mas já agora, estamos a falar de falência em que sentido? Financeira ou política? É que as duas são verdade.

    Eh eh eh, estou a brincar consigo :). É claro que estamos a falar da vertente política, de qualquer forma, isso já se sabe há muito tempo não é algo que só tivesse aparecido agora.

    Isto é como tudo na vida, quando não acontece nada parece que funciona tudo às mil maravilhas, quando há uma convulsão parece que vai tudo de cangalhas (e calhando vai mesmo). O problema, é que só é possível saber se as coisas funcionam quando há convulsões. É um bocado como testar a sustentabilidade de determinadas teorias, só é possível saber que são sustentáveis se as submetermos à crítica. E mesmo que elas [teorias] se aguentem, só se aguentarão até serem substituídas por outras.

    Nada é universal. E não vai passar a ser só porque, as pessoas pensam que é. A ONU só serve para que os Estados que não têm poder, pensem que o têm e mesmo assim, têm lá os membros do Conselho de segurança para os lembrar que não o têm.

    Além disso, a ideia de: «É consequência das concepções que acreditam que a efectividade das políticas internacionais de segurança deve apoiar-se exclusivamente num só Estado, arrogado da função de polícia do mundo.» - É uma falsa questão, normalmente, levantada por Estados ressabiados que não têm qualquer capacidade de intervenção mas que têm pretensões a.

    Enquanto o mundo esteve dividido, era substâncialmente mais simples porque se sabia perfeitamentamente quem é que mandava de um lado e do outro e qual era o poder de cada um. Agora não.

    Agora, como somos todos «bué» democráticos «'tamos todos assentadinhos na AG», e cada um é livre de almejar o que quiser. Se alcança ou não o objectivo, isso agora dependerá da capacidade que tem para jogar mas, sabendo de antemão que, há sempre alguém acima na cadeia alimentar.

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  2. Desculpe lá, mas quer o sistema ensaiado por Bush filho de um mundo com uma potência dominante?
    Pode ser, mas o modelo é mais instável.
    Sugiro-lhe que leia um livrinho que, felizmente, não existe em português de um dos maiores pensadores de relações internacionais, infelizmente já falecido. Hedley Bull, o livro acho que se chama, Organized Anarchy.
    Vem lá o essencial e serve para pensar e reflectir, como deviam ser os livros e não para responder, como se pretende.
    Cumprimentos
    Adriano Volframista

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  3. Livra!

    Que visão aterradora!

    Quanto ao livro, já tentei comprá-lo mas na altura não consegui. Então tive de adiar a compra.

    De qualquer maneira, caro Adriano, não tenho uma visão nem lírica, nem idealista do que são as relações internacionais. Acredito no regresso a uma coexistência pacífica, com base no que é possível e não no que seria desejável. Mas para isso há que reconhecer as coisas tal como elas são e não tal como nós gostaríamos que fossem.

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  4. Ps- Ah, sim! E o livro chama-se "The Anarchical Society". Pessoalmente, sinto mais afinidades com o livro "The open Society and Its enemies" de Karl Popper. Mas as ideias de Hedley Bull também não são de deitar fora.

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  5. No passado a UN fazia o seu papel porque os motivos das tensões e das guerras eram puramente políticos, e eventualmente por causa de recursos naturais.

    Hoje a UN nada pode fazer porque os motivos são meramente religiosos e culturais (ou falta dela), e nesse aspecto toca no mais intímo ser daquelas civilizações que nunca desenvolveram uma sociedade baseada na "procura da felicidade e do bem estar das populações e do indíviduo". Ou seja de uma sociedade fechada que se recusa determinantemente a aceitar outra realidade que não a sua.

    Aqui não há qualquer Instituição, que não seja religiosa, que possa contribuir de uma forma positiva... Apenas pela via militar, mas essa é causadora de muito sofrimento e a longo prazo é sempre negativa.

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  6. Já agora eu também não quereria certamente um mundo com os EUA (sobretudo com a actual direcção), como único polícia do mundo.

    No entanto, eles são dos poucos dispostos a fazer alguma coisa para impedir os fanáticos de matarem milhares de pessoas apenas pelo prazer de matar (não sei se o facto de terem tido mais de 3.000 mortos no 11/09 tem alguma coisa a ver), e têm a capacidade para tal.

    De quem é a culpa? É dos muçulmanos fanáticos, que não têm nada melhor para fazer do que matar gente inocente (sejam árabes, ocidentais ou indianos), e sobretudo é nossa, dos Europeus, que são uma cáfila de ignorantes que julgam que é por mandar dinheiro para os palestinianos que eles súbitamente vão sair da mentalidade de "idade-da-pedra" que têm e se vão juntar à corrente de pensamento que nos rege (essa baseada no Noddy, nos "Morangos com Açucar" e nas vitórias futebolísticas do clube local ou da selecção nacional de cada um).

    Enquanto a EU continuar a financiar um Estado-ou tentativa de..., e outros, muçulmano cujos programas escolares incluem disciplinas do género "Mártir 101", "Educação Explosiva", "Física Bombista", etc. e tal, nunca seremos uma alternativa credível aos EUA. Estamos a financiá-los para nos matarem, e depois dizemos que a culpa é dos judeus...aqueles que desterrámos para lá nas alturas da 2ª Guerra... que nada mais fazem do que tentar sobreviver na terra onde os colocámos!

    O nosso problema é que contínuamos a dar-lhes de comer, em vez de pô-los a trabalhar...já dizia Confúcio:
    "Se vires um homem com fome não lhe dês um peixe, ensina-o a pescar!"

    Alguma objecção?...

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  7. Mmmmmmm... Não querendo desfazer o comentário do mano Vírus, os conflitos de hoje em dia também continuam a ser por recursos.

    Há que tentar não generalizar demais porque, apesar do cariz civilizacional existem, também, outros motivos estratégicos.

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  8. Caro Anthrax,

    para nós é pelos recursos naturais, para os muçulmanos é pela religião e pela cultura... ou já ouviu algum deles falar que lhes estamos a roubar o petróleo e a areia?

    Se alguém rouba alguém aqui são eles que nos roubam a nós com o petróleo a 75USD por barril.

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