Foram hoje divulgados pelo Eurostat dados relativos ao desempenho (performance, na linguagem agora mais em uso) das economias da zona Euro e da União Europeia (EU) para o 2º trimestre deste ano, francamente positivos.
Assim, em relação ao 1ºtrimestre (crescimento em cadeia), a variação foi de 0,9% em ambos os casos.
Em termos de variação anual – 2ºtrim.2006/2ºtrim.2005 – a variação foi de 2,4% na zona euro e de 2,6% na EU.
No caso da Alemanha, também com variação de 0,9% em cadeia, este foi o ritmo mais elevado dos últimos 5 anos, levando a admitir que a economia possa crescer 2% este ano.
Em Espanha o crescimento continua mais elevado, com 0,9% em cadeia e 3,6% em termos anuais.
Na última 6ª Feira tinha sido antecipada informação sobre o forte desempenho da economia francesa no mesmo período, cerca de 1,1 a 1,2% em cadeia e 3% em termos anuais. O melhor resultado nos últimos 6 anos (Boost for France as growth hits 6-year high, era o título do F.Times do fim de semana).
Já no seu boletim de Junho, o Banco Central Europeu tinha antecipado este bom desempenho das economias do euro no 2ºtrimestre.
Esta evolução deve-se ao crescimento robusto das economias dos principais parceiros comerciais da zona euro, bem como à gradual recuperação do consumo privado.
Curioso notar que o consumo privado, especialmente em Junho, beneficiou bastante do clima gerado pelo Mundial de futebol na Alemanha.
E também é interessante observar que este desempenho se dá à revelia do forte agravamento dos preços do petróleo que, como se sabe, se encontram a níveis historicamente altos.
Algumas questões se podem colocar nesta altura.
A primeira é a de saber se os países do euro com dificuldades orçamentais – França e Alemanha, em especial - vão aproveitar esta fase mais favorável do ciclo para colocarem as suas finanças públicas em ordem.
Têm uma boa oportunidade, se souberem tirar partido do crescimento das receitas fiscais e controlarem o aumento da despesa, adoptando uma política orçamental anti-cíclica ou neutra.
A segunda, qual será o efeito destas notícias nas decisões do BCE. Irá este continuar a subir a sua taxa principal, pelo menos até aos 3,5% como antecipam muitos analistas?
À primeira vista dir-se-á que sim, pois a partir do momento em que a economia ganha maior ritmo de crescimento o BCE não terá necessidade de manter um estímulo monetário.
Mas esse não será o único factor a considerar. Muito importante também será a evolução do câmbio Euro/USD. Se por exemplo o Euro vier a valorizar bastante em relação ao USD, o BCE poderá sentir-se menos inclinado a subir as taxas de juro.
Quanto a Portugal, só lá para o início de Setembro deverá ser divulgada a variação do PIB no 2ºtrimestre. Mas tudo indica que a EU/zona euro nos vai dar uma pequena ajuda, apesar da fraqueza evidente da procura interna.
Camarada Pinho Cardão,
ResponderEliminarIsso é que é visão ;)
Camarada Tavares Moreira,
Um efeito que este crescimento económico poderia ter era que os países do euro mandassem os monetaristas do BCE de volta às cadeirinhas da escola. Aqueles bananas passam a vida levar bigodes dos americanos porque os americanos preocupam-se apenas com uma coisa - a economia DELES.
Sexta Feira saiem os números da taxa de desemprego do 2ºT. Se forem tão bons como os rumores indicam, o crescimento português em 2006 vai ser um número surpreendente, mesmo para os mais optimistas. E viva nós, porque o governo e o estado não têm nada a ver com isso.
Ao camarada Toni,
ResponderEliminarOnde estavam esses "noses" há dois ou três ou quatro anos atrás?... Acordaram agora?
Caros Comentadores,
ResponderEliminarPinho Cardão evidencia aqui o seu talento neo-realista, ao descortinar o que mais nenhum analista tinha sido capaz: a visão avançadíssima das nossas autoridades que, tendo percebido a dificuldadeda tarefa de recuperar a economia portuguesa, optaram por estimular a economia europeia.
Conseguiram assim o feito assinalável de por toda a Europa - zona Euro em especial - a ritmo trepidante... e nós lá vamos por arrasto.
E ainda há quem diga que o Plano Tecnológico não passa de um "power-point"...Não é isso o que este resultado nos mostra e de forma exuberante.
Quanto a Tonibler, não deixo de assinalar que a sua observação se encaixa mal com o objectivo actualmente prosseguido pelo FED: o abrandamento da economia americana. E o FED consegue ser tão persuasivo que os mercados de capitais receberam, como excelente notícia, a significativa redução da taxa de crescimento americana no 2º trimestre.
Caro Tavares Moreira,
ResponderEliminarO BCE, por outro lado, persegue o mesmo objectivo - a economia americana...Esse é o meu ponto. Enquanto os FED se rege pelos indicadores da sua economia, o BCE rege-se pelo EUR/USD. E, para isso, não precisavamos de moeda única para nada.
Caro Tonibler,
ResponderEliminarConfesso que, desta vez, não chego lá.
O ilustre comentador entende que as 17 subidas de taxas de juro do FED, ao longo de dois anos, são menos agressivas que as 4 subidas de taxas do BCE, nos últimos 9 meses? É esse o seu ponto?
Como interpretar " o BCE prossegue o mesmo objectivo- a economia americana..."?
Caro Tavares Moreira,
ResponderEliminarO meu ponto é que numa economia forte, como aquela que é suposto ser a razão de ser da união monetária, essa comparação não faz o menor sentido. Euro é euro e dólar é dólar. O que o BCE faz é gerir pontos swap e não valorizar no absoluto a moeda que é suposto gerir. Para a primeira ando a subir taxas de juro para ir mantendo a valorização relativa da minha moeda, para a segunda deixo a taxa de juro como está para que a valorização se faça pelo crescimento económico.
Como a economia americana anda com crescimentos ao triplo daquilo que são os crescimentos da economia europeia, quem é agressivo e quem não é?