terça-feira, 24 de outubro de 2006

O tratador e o monstro III


Mais uma vez hoje ouvi um proeminente membro do Governo dizer que o Orçamento para 2007 não prejudica o investimento público.
Já sabia que não era assim, mas fui confirmar.
E verifiquei que as Despesas de Investimento (Formação Bruta de Capital Fixo) diminuem 112,6 milhões de euros em relação a 2006, equivalente a 3%, em termos nominais e cerca de 1% em termos reais. E as verbas do PIDDAC ficam bastante mais abaixo.
Logo, há uma diminuição efectiva e real do investimento público.
E mesmo se utilizarmos o método de análise tão do agrado do Governo, a comparação com o PIB, como se prevê que este aumente e o investimento diminua, o peso do investimento no PIB desce de forma relevante.
Assim, ao contrário do que dizem os Ministros e do que o Governo e Sócrates vêm proclamando, a despesa pública aumenta, em termos nominais e reais, onde nunca devia aumentar e desce onde precisamente poderia haver justificação para crescer. Tudo ao contrário, pois, já que se drenam recursos do investimento para despesa corrente, o que significa não haver qualquer emagrecimento do Estado nem fortalecimento da economia.
Conhecemos as dificuldades. Independentemente de a terapêutica ser errada, então por que é que o Governo não fala a verdade?
É que o monstro está tão selvagem que até obriga o tratador, sob pena de ser devorado, a dizer que está a emagrecer, quando já abocanha recursos que à partida até lhe estavam interditos!...

5 comentários:

  1. Caro Pinho Cardão,
    Confesso que não me preocuparia com a queda, nominal e/ou real da formação de capital no SPA, se a despesa corrente fosse mesmo contraída e se, principalmente, a tributação directa baixasse.
    Como o meu Amigo bem se recordará, tivemos algumas disputas por vezes acaloradas com os intrépidos defensores do investimento público - os mesmos que agora o reduzem com a mesma convicção com que sustentavam há 2/3 anos a absoluta necessidade de o aumentar - acerca da qualidade do investimento.
    Para mim, menos investimento - se for melhor - ainda bem.
    Só que não nos é dada essa garantia e as outras duas condições também não estão presentes.
    Um problema bicudo este, diria o velho Conselheiro Acácio.

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  2. Caro Pinho Cardão,
    Esqueci falar do MONSTRO da ilustração.
    Fez-me recordar um tal Carlos Xistra, em actuação no Domingo passado, à noite.
    Apenas com uma diferença: os tons de Xistra eram fortemente azulados, e a forma lembrava o dragão...

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  3. Anónimo19:20

    Eh lá, Pinho Cardão! Esta do monstro Xistra azulado foi forte!

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  4. SHHHHHHHHHHHH! Não digam que o investimento está a baixar...Senão vem de lá uma OTA ou coisa do género. Baixinho....

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  5. No texto diz-se que as despesas de investimento "diminuem 112,6 milhões de euros em relação a 2006, equivalente a 3%, em termos nominais e cerca de 1% em termos reais."

    Não deveria ser ao contrário? Isto é, a descida em termos reais não deveria ser maior (em valor absoluto) do que a descida em termos nominais em presença de inflação)?

    Quanto ao resto, inteiramente de acordo com C. Tavares e Tonibler. Interessa mais a qualidade dos investimentos públicos do que a quantidade (que em Portugal até é pródiga). Esta descida deveria, isso sim, ser acompanhada por uma descida ainda maior das despesas correntes - e é este o grande fracasso deste governo.

    Efectivamente, para fazer um brilharete nas despesas de investimento, basta começar a fazer a Ota e o TGV. Tal como no passado recente se fizeram 10 estádios.

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