No meio da praça veio aquela revoada de vento. Ficou atrapalhada, ali parada no meio, as abas do casaco comprido vermelho a enrodilharem-se nas pernas, travando o passo, tirando o ritmo, logo agora que ele já devia estar vê-la, ali tão perto e ela no meio da praça, atrapalhada, é o termo, atrapalhada.
Mas o vento abrandou – ou seria a vontade de prosseguir, apesar do aviso, apesar do vento?, o vento queria pará-la, o casaco era vermelho de perigo ou vermelho de desafio?, mas continuou. O encontro era mesmo ali, no café da esquina, a montra rasgava-se para a rua, para o cinzento do dia e para as faces afogueadas da cor do casaco. Lá dentro ele devia estar a olhá-la, rindo divertido da silhueta pequena, do ar infantil, sem deixar de ver com espanto como o passo curto e decidido se opunha à tempestade.
No meio da praça fixou o momento. Foi ali que começou, foi ali. Havia de se lembrar deste segundo, desta decisão de caminhar para lá da montra que não deixava ver quem estava a vê-la. Havia de se lembrar sempre que se lembrava dele, sempre que o ia buscar ao cantinho da memória onde o guardou, juntamente com o rancor, com a desilusão, com o carinho, com a desistência. Com o amor inútil, como diz o poema.
Mas o vento abrandou – ou seria a vontade de prosseguir, apesar do aviso, apesar do vento?, o vento queria pará-la, o casaco era vermelho de perigo ou vermelho de desafio?, mas continuou. O encontro era mesmo ali, no café da esquina, a montra rasgava-se para a rua, para o cinzento do dia e para as faces afogueadas da cor do casaco. Lá dentro ele devia estar a olhá-la, rindo divertido da silhueta pequena, do ar infantil, sem deixar de ver com espanto como o passo curto e decidido se opunha à tempestade.
No meio da praça fixou o momento. Foi ali que começou, foi ali. Havia de se lembrar deste segundo, desta decisão de caminhar para lá da montra que não deixava ver quem estava a vê-la. Havia de se lembrar sempre que se lembrava dele, sempre que o ia buscar ao cantinho da memória onde o guardou, juntamente com o rancor, com a desilusão, com o carinho, com a desistência. Com o amor inútil, como diz o poema.
belo post nest regresso..
ResponderEliminarPois é, o 4R é um vício incontornável!Aí estão as 300 000 visitas a demonstrá-lo...com os nossos simpáticos comentadores sempre atentos!
ResponderEliminarObrigada Menino Mau a Jardimdas Margaridas pelos cumprimentos generosos. Jardim, a escrita é antes do mais um exercício de imaginação, se soubermos quem é a rapariga de vermelho perde a graça!E a história pode ser só uma construção a pretexto de uma imagem. Uma adivinhação, em suma. E pode acabar assim ou ao contrário, é a intuição que nos guia ao dar movimento e vida a um breve instante. Espero não ter estragado a primeira impressão...
Gosto desta escrita.
ResponderEliminarClara!
ResponderEliminarMasculinizou-se?! Não acredito! O mundo está a feminizar-se a uma velocidade estonteante. E a senhora também é responsável…
Quanto ao escrito da Suzana, o que já não imaginei hoje…
Realmente,Clara, entre deixar de passar receitas de pudim e "masculinizar-se" vai um abismo!Por mim, prefiro os seus textos, sempre tão oportunos e interessantes, a uma receita que acabamos por não usar à conta dos riscos da obesidade para que o Prof.Massano nos alerta!Sem falar nos almocinhos opíparos ali para os lados da Serra de Sintra...
ResponderEliminarConfirma-se que o Prof. Massano tem uma imaginação perigosa, com aquela capacidade quase mágica de "ler" as pessoas.Mas vá lá, neste caso não exagere, é só mesmo o que lá está escrito! E o Pinho Cardão, imbatível no humor, na ironia, no rigor da pena quando fala de política (já não digo de futebol :))até com incursões no verso rimado, que eu bem vi, (essa do dicionário de rimas não convenceu ninguém) E vem aqui envergonhar-me com comparações? Ora, meu amigo,haja clemência!:)
Sem que isso constitua a mínima sugestão de menos apreço pelos restantes republicanos, passar por aqui e encontrar este magnífico texto de Suzana Toscano é uma gratificante surpresa. Foi um prazer revê-la neste blog, e um privilégio lê-la, num texto de tanta beleza.
ResponderEliminarolá Crack, é um prazer revê-lo a si também!! ;)
ResponderEliminarA conversa vai de tal forma animada, os piropos saltitam de post em post, o espírito poético que vagueia por aí, confissões inconfessáveis, eventos ali para os lados de Sintra, que me ocorreu: será que ainda estão de ressaca da comemoração?
ResponderEliminarEspero que a revoada de vento que surgiu no meio da bela praça da Suzana Toscano, chegue até vós, e ajude a aliviar os suores que, normalmente, as ressacas transportam! Li por aí algo que julguei nunca encontrar num blog de rigor como este: "Opíparos", "masculinizações", "mentira", "imaginação perigosa"... e refreio-me!
Mais refrescados regressai a casa, com cuidado, descansai, e voltai às vossas riquissimas e normais intervenções bloguistas e cordatos, sensatos...
ora, ora, RuiVasco, o Prof. Massano saberia ler aí nas entrelinhas uns laivos de ressentimento...(já que a inveja, esse sentimento menor, não entra neste blogue!) Como é que julga que se alimenta a inspiração? Com ares de Sintra, pois claro!
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