Ontem, dia 14 de Novembro comemorou-se o "Dia Mundial da Diabetes". Muitas iniciativas tiveram lugar por esse mundo fora e, também, entre nós.
A Assembleia da República, conjuntamente com várias organizações nacionais que se dedicam à diabetes, organizou um evento de cariz técnico-científico-politico sobre esta temática. Em boa hora o fez, porque estamos a lidar com uma doença, em cuja génese estão vários factores, entre os quais alguns de cariz político.
Os dados apontam para o facto de estarmos a lidar com uma das doenças mais prevalentes do mundo que atinge os países mais desenvolvidos, assim como os que estão em desenvolvimento. Nunca a humanidade viu duplicar a prevalência de uma doença em apenas vinte e cinco anos ou, mesmo, menos. Estima-se em 230 milhões o número de pessoas que sofrem desta maleita responsável por complicações que vão desde a cegueira, insuficiência renal, amputações dos membros inferiores e morte por doenças cardiovasculares. Portugal está a sofrer uma epidemia de diabetes fruto de alterações de estilos vida – cada vez mais os portugueses fazem menos exercício – e de alterações dos seus hábitos alimentares – comem cada vez mais e mal.
No debate que se seguiu à apresentação das conferências, foram colocadas algumas perguntas destinadas a esclarecer alguns pontos ou conceitos. Uma senhora deputada quis aprofundar a problemática da obesidade, nomeadamente o facto das crianças serem cada vez mais obesas. Talvez esta pergunta tenha sido uma consequência da afirmação, segundo a qual as crianças e jovens começarem a sofrer do mesmo tipo de diabetes que os adultos, a denominada diabetes tipo 2. Aproveitei a deixa para explicar que se tratava de um fenómeno muito recente. No início da década de sessenta, a alimentação dos portugueses era muito deficiente, de tal modo que não cresciam convenientemente. O fenómeno emigratório entretanto verificado permitiu que os proventos dos pais fossem canalizados para melhorar a qualidade de vida dos seus filhos. Deste modo, e a título de exemplo, jovens do sexo masculino do Distrito de Vila Real, com 17 anos, cresceram em média 10 cm no espaço de dez anos! Fenómeno positivo resultante de melhorias substanciais na alimentação. Com o tempo, a melhoria do poder de compra traduziu-se num maior aporte energético.
As modificações operadas na forma de brincar também se alteraram. E de que maneira! Televisão de manhã à noite, com múltiplos canais - a publicitar bolachinhas, chocolates, hambúrgueres estereotipados - vídeos, jogos electrónicos, computadores e brinquedos eléctricos a substituírem os brinquedos de "pedais" ou os que exigiam esforço "manual", aliados a uma inexplicável desvalorização do desporto amador e actividades associativas, poderão explicar o fenómeno crescente da obesidade infantil e da diabetes do tipo 2 nos jovens, para não falar do compromisso grave de saúde quando chegarem a adultos.
A situação está a ser de tal modo incómoda que já se equacionou a hipótese de redução da esperança de vida nas próximas gerações, facto que não abona nada a favor da actual geração de responsáveis.
No final da sessão a senhora presidente da Comissão Parlamentar de Saúde foi, particularmente, esclarecedora por vários motivos, dos quais destaco dois: a necessidade dos parlamentares saírem da Assembleia "procurando" certos assuntos que têm sido descurados e disponibilizando-se para iniciativas legislativas propostas por cidadãos e, neste caso, cientistas, tendo ido ao ponto de dizer que é o momento de ajudarmos os parlamentares a construir os normativos necessários de forma a mudar muitos dos problemas de saúde, numa perspectiva preventiva.
Valeu a pena ter passado mais uma tarde no Parlamento, agora como cientista. Confesso que estou mais optimista. E como todos nós necessitamos de uma boa dose de optimismo, não resisti a escrever esta pequena nota.
Penso que seria interessante que os médicos que também ocupam ou ocuparam cargos políticos fizessem ver ao ministério da educação que exercício é tão importante, ou mais, que o inglês e precisa de muito menos recursos.
ResponderEliminarEm tempos foi importante o leite na escola. Hoje é a corridinha.
Professor Massano Cardoso,
ResponderEliminarPrecisamos mesmo de optimismo. Afinal também há coisas boas. Se está optimista, eu confio...