sábado, 13 de janeiro de 2007

O autor moral

O senhor Ministro da Justiça, desde que assumiu funções, nunca chamou particularmente a atenção. É, para muitos, o ministro Omega: não adianta nem atrasa. As suas intervenções, floreadas, falhas de clareza, circulares, nunca foram momentos altos na política caseira. Tenho a sensação que as medidas que tem anunciado se devem mais às doses de criatividade mas também de inexperiência dos seus secretários de estado, e às opiniões de uns tantos novos gurus da justiça, do que à sua própria capacidade política.
Mas o senhor Ministro deu uma entrevista sob vários pontos de vista extraordinária, publicada hoje num dos semanários. E nela revela, entre outras coisas, que o rematado disparate que foi a redução das férias judiciais, que se confirma ter sido um acto falhado na tentativa de diminuição das pendências nos tribunais, foi, afinal, de inspiração cavaquista!
Cavaco terá sido, então, o inspirador, o autor moral da medida. O senhor Dr. Alberto Costa limitou-se a decretá-la.
Mas há mais. O Ministro compreende que o Presidente da República reclame resultados na área da justiça. Pois não haveria de compreender?! Afinal é Cavaco a sua musa! Quem diria...
E quem diria aqui há uns tempos atrás, que seria possível ao Dr. Alberto Costa, ilustre Ministro da Justiça e não menos ilustre membro do Partido Socialista, expressar com grande ênfase um louvor ao impulso reformista dos governos do Professor Cavaco Silva!

Descarada a tentativa de o Ministro cavalgar a onda da popularidade do senhor Presidente da República, explorando a ideia da solidariedade presidencial com os propósitos reformistas do Governo. De "chutar para canto" face à chamada de atenção do Professor Cavaco Silva quanto à necessidade de resultados neste sector.
Observa-se também que aqueles que durante os governos de Cavaco Silva, e mais recentemente durante a campanha eleitoral, disseram do professor o que Maomé não disse do toucinho, revelam ter uma lata do tamanho do mundo!

3 comentários:

  1. Hoje por razões várias, ( a familia lá do norte "prantou-se" aí com a filharada, do comer ao dar mimos aos sobrinhos que raramente vemos, das conversas alongadas e animadas por um "artista-encartado" e politico encarniçado, que alguns dos colegas bloguistas conhecem) só ao principio da noite comecei a ler os jornais. E venho aqui só deixar uma palavra sobre a expressão que fez manchete no Expresso, "Inspirei-me no Cavaquismo", que me surgiu ao olhar, quase me ferindo a pupila, quando li, nas letras "miúdas", o nome do autor da afirmação.
    Sobre o conteudo e a lata do autor já o amigo JMFA disse tudo. Subscrevo! E vou beber mais uma garrafa de aguas das Pedras!
    Eles pensam que nós somos, todos, mesmo estúpidos!

    23:20:00

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  2. Confesso que quando olhei para a manchete pensei que era uma "brincadeira". Mas achei estranho!
    Mas não, no interior o título ainda é mais extraordinário: "Inspirámo-nos no ímpeto reformista de Cavaco Silva".
    Cada vez compreendo menos estes políticos. Porque se isto é fazer "boa" política, então estamos mesmo perdidos...

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  3. Caro Ferreira de Almeida:
    Apesar de tudo, não sou tão drástico, dado que o homem teve o talento de, finalmente, encontrar boa fonte de inspiração...
    Se tem peito para os ímpetos de que fala, isso é o que suscita todas as dúvidas...

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