quarta-feira, 17 de janeiro de 2007

Torga


2007 é o ano do centenário do nascimento de Miguel Torga. Faleceu precisamente há 12 anos, a 17 de Janeiro de 1995. Um dos portugueses grandes. É certo que não escreveu telenovelas, jogou futebol ou se dedicou à pequena política. Também não foi rei que se distinguiu pelas glórias obtidas pela glebe. Nem descobridor em terra. Ou prémio Nobel. Leiam-no ou recordem-no e percebam porque é um dos verdadeiros grandes portugueses, que corporiza, como poucos, o ser português.



A vida passa lá fora,
Ou na pressa de uma roda,
Ou na altura de uma asa,
Ou na paz de uma cantiga;
E vem guardar-se num verso,
Que eu talvez amanhã diga.
(Eternidade)

4 comentários:

  1. Torga nunca esqueceu as suas raízes transmontanas.
    Já agora, a abertura do poema Terra

    Também eu quero abrir-te e semear
    Um grão de poesia no teu seio!
    Anda tudo a lavrar,
    Tudo a enterrar centeio,
    E são horas de eu pôr a germinar
    A semente dos versos que granjeio.
    ....

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  2. Mais um Grande Português, de "pra lá do Marão..."
    Pena ter tido a sua presença quando eu era muito pequena, em serões em nossa casa,numa aldeia brigantina, onde Torga aparecia com frequência por ligações de amizade, com meu Avô e Tios, vindas dos velhos tempos académicos de Coimbra.
    Só lembro com irrepreensível perfeição...como os mais velhos eram divertidos e tinham tanta pachorra para nós todos, miúdos,que éramos muitos e insaçiáveis na liberdade que o campo nos proporcionava e como nos estimulava a imaginação...
    Eles estavam sempre prontos a deitar mais "achas prá fogueira" incentivando o nosso incansável "dinamismo"!
    Gente divertida, sem pressas, bem com a Vida, gozando as horas, á mesa, de roda de uma máquina (enorme...) de balão onde nós assoprávamos para que o café descesse mais depressa... não posso continuar, senão não acabo: que saudades!!!!!!

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  3. Perante dias tão cinzentos, como sabe bem regressar aos negrilhos de Torga. Obrigada, caro JM.

    A um Negrilho

    Na terra onde nasci há um só poeta.
    Os meus versos são folhas dos seus ramos.
    Quando chego de longe e conversamos,
    É ele que me revela o mundo visitado.
    Desce a noite do céu, ergue-se a madrugada,
    E a luz do sol aceso ou apagado
    É nos seus olhos que se vê pousada.

    Esse poeta és tu, mestre da inquietação
    Serena!
    Tu, imortal avena
    Que harmonizas o vento e adormeces o imenso
    Redil de estrelas ao luar maninho.
    Tu, gigante a sonhar, bosque suspenso
    Onde os pássaros e o tempo fazem ninho!

    Miguel Torga, Antologia Poética, Círculo de Leitores, 2001

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