A viagem fez-se de noite. Confirmei o meu gosto em andar de avião, apesar do formigueiro nas pernas a reclamar das quase 13 horas de imobilidade.
A meio da noite entra-se naquele limbo em que os sonhos se misturam com as vozes dos resistentes ao sono e foi nessa altura que olhei pela janela à espera do escuro de breu que teimava em nos seguir.
Dei com uma paisagem feérica.
Uma faixa vermelho vivo de sol nascente separava o céu e a terra. Em cima, um azul escuro límpido, a querer romper de cor. Em baixo, uma massa de picos irregulares, envolta em bruma densa, estendia-se a perder de vista como se estivesse a flutuar. Não estranharia ver de repente o castelo enfeitiçado pela bruxa má, as serpentes enroscadas nas torres medonhas, os penedos intransponíveis a desafiar a coragem dos deuses.
As montanhas do Irão foram ganhando nitidez aos meus olhos fixos de puro pasmo.
Á medida que o céu clareava surgia uma imagem lunar, mil e mil agulhas viradas para cima, brancas escarpas afiadas numa imensidão de deserto gelado que desafiava a razão. Julguei estar a sonhar, fiz como nos filmes, esfreguei os olhos, procurei nos outros o mesmo assombro. Mas, no aconchego do avião, tudo parecia tranquilo.
Via agora umas luzinhas de quando em quando, uns círculos minúsculos escondidos numa ou outra dobra das lâminas temíveis. Quem poderá viver num sítio destes? Saberão como é aquele mar branco encapelado visto do céu, o infinito com forma e feitio?
O avião parecia imóvel, como que preso pela força daquele abismo. Mas não, ele progredia, as montanhas é que corriam sob as suas asas, desdobrando-se, multiplicando-se como se nunca mais a paisagem pudesse ser outra e o branco, o cinzento e o vermelho se combinassem para sempre.
Fechei os olhos para não ter medo e a paisagem foi-se afastando pela calada.
A meio da noite entra-se naquele limbo em que os sonhos se misturam com as vozes dos resistentes ao sono e foi nessa altura que olhei pela janela à espera do escuro de breu que teimava em nos seguir.
Dei com uma paisagem feérica.
Uma faixa vermelho vivo de sol nascente separava o céu e a terra. Em cima, um azul escuro límpido, a querer romper de cor. Em baixo, uma massa de picos irregulares, envolta em bruma densa, estendia-se a perder de vista como se estivesse a flutuar. Não estranharia ver de repente o castelo enfeitiçado pela bruxa má, as serpentes enroscadas nas torres medonhas, os penedos intransponíveis a desafiar a coragem dos deuses.
As montanhas do Irão foram ganhando nitidez aos meus olhos fixos de puro pasmo.
Á medida que o céu clareava surgia uma imagem lunar, mil e mil agulhas viradas para cima, brancas escarpas afiadas numa imensidão de deserto gelado que desafiava a razão. Julguei estar a sonhar, fiz como nos filmes, esfreguei os olhos, procurei nos outros o mesmo assombro. Mas, no aconchego do avião, tudo parecia tranquilo.
Via agora umas luzinhas de quando em quando, uns círculos minúsculos escondidos numa ou outra dobra das lâminas temíveis. Quem poderá viver num sítio destes? Saberão como é aquele mar branco encapelado visto do céu, o infinito com forma e feitio?
O avião parecia imóvel, como que preso pela força daquele abismo. Mas não, ele progredia, as montanhas é que corriam sob as suas asas, desdobrando-se, multiplicando-se como se nunca mais a paisagem pudesse ser outra e o branco, o cinzento e o vermelho se combinassem para sempre.
Fechei os olhos para não ter medo e a paisagem foi-se afastando pela calada.
Amiga Suzana: (permita-me o tratamento)
ResponderEliminarLi e reli o seu texto!
Julguei que falava de um sonho, quando tudo é sempre mais belo, ou, no extremo oposto, belo horrível! Por isso os sonhos inspiram-nos, facilitando a descrição dos pormenores e a forma da escrita! Por isso de noite temos mais ideias, melhores ideias, tudo é mais fácil!
Porém e afinal, não! Conclui que falava mesmo da sua viagem, do que viu e sentiu, acordada, pensando que sonhava!
Que bela narrativa! (não sou do genero do elogio facil, diplomatico, ou demagogo!)
Emocionou-me e agradeço! E que belo principio de noite de sábado!
E já agora...a viagem continuou! E depois? Diga-nos!
( Que excelente recordação me trouxe da India. Já cá está. Chegou depressa. Obrigado!)
Vou sempre à janela quando ando de avião e sempre me surpreendo com o que vejo. Mas nunca tinha encontrado nada assim, tive que fazer um esforço para continuar a olhar, senti medo, fascínio, puro deslumbramento. Fico contente por ter conseguido ao menos dar uma pálida ideia. Não se esqueça de olhar pela janela quando passar pelo Irão...
ResponderEliminarRelato encantador. A Suzana está cada vez mais expressiva e rica ao descrever as suas emoções e experiências. Há algo de escondido em si que está a emergir para bem de muitos. Claro que o RuiVasco já se apercebeu disso e de que maneira...
ResponderEliminarSuzana, que bom voltar à nossa companhia.
ResponderEliminarMas apesar das "modernices" das comunicações on-line – das Internet e das televisões – saber que já cá está é bem diferente.
E que bonito o azul da sua história, leve, suave, calmo, repousante, um bálsamo para esta vida às vezes bem pesada, veloz e desgastante.
Mas os azuis tão azuis como o seu são verdadeiros tónicos, que vão fazendo muito bem à nossa alma...Pelo menos à minha!
olá Margarida, também quero ouvir as histórias todas que se passaram por cá!A falar da Índia qualquer um pode ser Sherazade, cada passo é inspiração...
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