Prestes a concluir 2 anos, este Governo está a tornar muito claro qual o projecto socialista para o País. Neste período comentou-se muito a opção quase obsessiva pelos mega-projectos e a concentração do essencial do investimento público, em especial no TGV e na Ota a despeito das muitas dúvidas sobre a necessidade, utilidade e contributo sinérgico destas opções para o desenvolvimento. Comentaram-se as políticas ditas de racionalização de sistemas públicos, em especial o da saúde. A reorganização das forças de segurança. As mudanças do mapa judiciário.
A observação global de todas estas medidas no quadro mais geral da reestruturação da Administração Pública, permitem surpreender-lhes um denominador comum. Evidenciam a opção por um modelo claramente dirigista, deliberadamente centralizado, que na vertente da organização administrativa do território assenta em duas áreas metropolitanas e numa dúzia de cidades de média dimensão.
Sempre tive dúvidas sobre a bondade deste modelo que poucos abertamente dizem ser o seu, mas muitos intimamente nele acreditam apesar da propaganda em contrário. E hoje, observando os efeitos desta política, tenho a certeza que ela é errada.
Vejam-se os casos da saúde e da administração interna (para não falar já da orientação que marca as alterações de que se fala a introduzir no regime jurídico dos intrumentos de gestão territorial, de que o formato da proposta de novo Plano Regional de Ordenamento do Território do Algarve é já um claro prenúncio). O fecho de maternidades e urgências, a transferência de serviços médicos de cidades de menor dimensão para cidades com maior expressão populacional, mesmo justificada por estudos técnicos, são factos reveladores. Reveladores da técnica usada como desculpa para a ausência da política. Mas é a política, e não a técnica, que deve ponderar o que é de interesse público. É pela política e não pela técnica que se dirime o conflito entre interesses públicos eventualmente colidentes. É a política e não a técnica que revela o que corresponde ao bem comum.
A observação global de todas estas medidas no quadro mais geral da reestruturação da Administração Pública, permitem surpreender-lhes um denominador comum. Evidenciam a opção por um modelo claramente dirigista, deliberadamente centralizado, que na vertente da organização administrativa do território assenta em duas áreas metropolitanas e numa dúzia de cidades de média dimensão.
Sempre tive dúvidas sobre a bondade deste modelo que poucos abertamente dizem ser o seu, mas muitos intimamente nele acreditam apesar da propaganda em contrário. E hoje, observando os efeitos desta política, tenho a certeza que ela é errada.
Vejam-se os casos da saúde e da administração interna (para não falar já da orientação que marca as alterações de que se fala a introduzir no regime jurídico dos intrumentos de gestão territorial, de que o formato da proposta de novo Plano Regional de Ordenamento do Território do Algarve é já um claro prenúncio). O fecho de maternidades e urgências, a transferência de serviços médicos de cidades de menor dimensão para cidades com maior expressão populacional, mesmo justificada por estudos técnicos, são factos reveladores. Reveladores da técnica usada como desculpa para a ausência da política. Mas é a política, e não a técnica, que deve ponderar o que é de interesse público. É pela política e não pela técnica que se dirime o conflito entre interesses públicos eventualmente colidentes. É a política e não a técnica que revela o que corresponde ao bem comum.
Sei bem que técnicos reputados dizem que o sistema de saúde, tal como está organizado, não é tecnicamente racional. Mas sê-lo-á no plano político? Pelos vistos, para o Governo, também o é à luz do seu modelo de País no qual o desenvolvimento das cidades se faz à custa da sucção sistemática dos cómodos que ao longo dos tempos as populações das cidades e vilas de menor dimensão foram conquistando.
O mesmo se diga da opção de retirar de algumas destas cidades e vilas, a PSP substituindo-a pela GNR. Não questiono, do ponto de vista da racionalidade técnica, a medida. Mas ela tem uma carga a que o Governo não poderia ficar indiferente, se, repito, fosse outro o seu modelo de País. Para quem nelas ainda vive, estuda ou trabalha, a substituição da PSP pela GNR tem o significado da ruralização do que tinha já conquistado o estatuto de urbano.
Tem o Governo dito, com o apoio e aplauso do PS, que o que pretende é melhorar a prestação de serviços públicos. Mas será que é politicamente racional a medida que, constatando que uma urgência hospitalar funciona mal, encontra como solução não o reforço de meios ou a modernização de instalações e equipamentos para que passe a funcionar bem, mas antes o seu encerramento, condenando os utentes, especialmente fragilizados pela doença, à deslocação de dezenas de quilómetros? Não, não é. A não ser para quem a desertificação do interior mais interior seja uma inevitabilidade que a política não contraria, antes aproveita para modelar um País empurrado para o litoral e para uma duzia de médias urbes, onde de dia para dia se perde qualidade de vida, por muitos serviços e investimentos que sejam feitos para compensar os problemas trazidos pela concentração urbana resultante da deslocação do interior.
Sem poderes locais com capacidade de gerir uma fracção desigual do orçamento de estado, mais vale evacuar todo o interior para o litoral e esquecer que existe.
ResponderEliminarContinuar a deitar dinheiro no interior conforme os critérios e vontades que vão aparecendo num qualquer instituto da 5 de Outubro é dinheiro deitado ao mar.
Substitua-se a GNR pela legião estrangeira, que é mais adequado.
Excelente relexão, Ferreira d'Almeida.Há pouco tempo a conferência da Gukbenkian "Que valores para o nosso tempo?" focava exactamente a importância desta distinção entre política e técnica e do papel que cada uma deve desempenhar.
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