O Governo resolveu incentivar o abate de automóveis mais antigos, naturalmente mais poluentes, como forma de contribuir para a diminuição das emissões. Empenhou-se de resto numa campanha destinada a convencer os cidadãos do elevado serviço que prestariam ao planeta se se desfizessem dos seus carritos mais vetustos. Campanha que envolveu até o Secretário de Estado do Ambiente que numa atitude do mais impressionante heroismo, frente às câmaras de televisão, levou pelas suas próprias mãos o carro de família - com uns respeitáveis 9 anos (salvo erro), mas aparentando bom estado -, ao centro de abate. E ali mesmo o País assistiu, quase em directo e ao vivo, ao final daquela vida de lata sob o olhar satisfeito do Secretário de Estado por ter dado para tão nobre peditório. Tocante, a demonstração de dedicação ao serviço público do governante...
Pois o mesmo Governo que em nome da luta contra o aquecimento global convida os cidadãos a livrarem-se de uma companhia por vezes de muitos milhares de quilómetros e ao sacrificio adicional da aquisição de um novo, devidamente equipado de muitos impostos, veio agora vender parte do seu património sobre rodas, constituído por veiculos com muitos e muitos anos. Mas mais: ouvi um dos secretários de estado do ministério das finanças dizer, com o maior dos á-vontades, que as normas que se aplicam ao cidadão e o penalizam por não se desfazer do seu carro velhinho mas fiável, não se aplicam, afinal, ao Estado. E que aqueles automóveis, muitos deles avôs do finado carro de família do secretário de estado do ambiente, estavam ainda ali para as curvas!
Espantam-se? Eu não.
É o mesmo Estado que pela mão do Governo publicita, ameaça, persegue e agride impiedosamente o contribuinte faltoso, não se importando com dramas e justificações. Mas continua, desavergonhadamente, a incumprir com o pagamento nos prazos devidos, com os seus credores.
É o mesmo Estado que, pela mão do Governo, diz combater os "interesses". Mas, como há dias foi revelado, perante - esse sim, espantoso! - silêncio da oposição, desvia o esforço financeiro que deveria ser feito na modernização da rede ferroviária e em especial na linha do norte, para um projecto cujo interesse público todos perceberam que é nenhum e só se percebe numa lógica duvidosa de cedência a lobis.
É o mesmo Estado que penaliza funcionários, ergue a bandeira do PRACE, mas dispende fortunas em aquisição de serviços de consultadoria, cria a eito novos serviços e empresas.
Não vale a pena declinar outros exemplos dignos do breviário de Frei Tomás.
O nosso problema - e são cada vez mais aqueles que o percebem - não é a falta de meios para combater o deficit. Nunca o foi. Esta estória da venda dos automóveis do Estado revela bem que o problema é, ao invés, uma questão de superavit. Um superavit de lata...
Abater um carro com nove anos parece-me um rematado disparate. Dos dois carros da minha família, o mais novo tem oito anos - e vai ter de durar mais uns anitos.
ResponderEliminarE tenho sérias dúvidas do mérito ambiental proceder à destruição de carros com 9 anos...
Excelente post, caro Ferreira de Almeida.De facto, menos ou mais que um governo,já nem sei, parece que temos um bando de tecnocratas, alguns até muito mal preparados, que procura safar-se o melhor que sabe, e pouco sabe, no âmbito da sua corporação. No fim, temos essa política incoerente e descoordenada, ao jeito de tropa fandanga, que o meu amigo tão bem descreve!...
ResponderEliminarCaro Dr. Ferreira de Almeida
ResponderEliminarPor sugestão do Prof. Tavares Moreira solicito, para possivel exposição de assunto a tratar no seu blog 4R, que me enviasse o seu e-mail DE CONTACTO para :
marioribeiro99@clix.pt
Agradeço.