Saiba o estimado leitor que foi há poucos dias conhecido um relatório técnico, em poder da NAER (entidade responsável pelo projecto do aeroporto da Ota/Robert Mugabe) desde 2004, mas que parece ter sido muito bem guardado até data recente.
Desse relatório consta um dado que só por si é suficiente para considerar este projecto um verdadeiro delírio despesista.
Com efeito, a circunstância de o novo aeroporto da Ota/Robert Mugabe ficar assente sobre um terreno que é considerado um leito de cheias, um terreno alagadiço e muito pouco consistente, vai obrigar à implantação de uma autêntica floresta de estacas de brita, como base fundacional para a edificação das pistas e demais infra-estruturas aeroportuárias.
Trata-se, nada mais nada menos, de 265.000 estacas de brita, com uma secção de 2x2 metros, com profundidades variáveis mas que em milhares dessas estacas vão até aos 20 metros.
265.000 estacas com tal dimensão é uma verdadeira barbaridade!...
Têm de ser em brita, não podem ser em betão - explicam-me - para melhor poderem absorver as humidades...
Para isso, algumas centenas de camiões pesados/dia terão de fazer, durante N meses, o transporte da brita para a Ota.
Sobre essa estacaria terão então de ser feitos aterros e será sobre esses aterros que serão construídas as diversas camadas das pistas de aterragem.
E já nem falo da destruição parcial de montanhas que ladeiam o terreno onde se projectam as infra-estruturas.
Quanto aos custos do projecto, que tanto poderão atingir os 3,1 milhões que têm sido citados com os 4, os 5 ou os 6 milhões – a final tanto faz, nós é que teremos de os pagar – não havendo ainda tampouco uma ideia dos custos das acessibilidades, o pouco que se sabe é que a contribuição de fundos comunitários não está garantida para além de € 170 milhões.
Estamos assim a falar de uma verba que não chegará a 5% dos custos globais, podendo até quedar-se por 2%.
Perante tais perspectivas e sabendo que o problema do congestionamento da Portela – problema real, que demanda uma solução – se resolvia com um investimento modesto no Montijo, em muito menos tempo, para receber os voos “low fare” , esta insistência na Ota /Robert Mugabe não será mesmo um delírio despesista?...
Caro Tavares Moreira,
ResponderEliminarEstá a partir do princípio(errado!) que o projecto da OTA se destina a fazer um aeroporto. Se partir do princípio que se destina simplesmente a gastar dinheiro, percebe que essas estacas todas não chegam...
Três apontamentos sobre este assunto:
ResponderEliminara) Face à intermodalidade necessária para o novo aeroporto, que sentido faz o aeroporto ser na Ota, Tancos ou Montijo? Fará sentido promover os centros logísticos associados para uma região do litoral?
b) Face ao crescimento do tráfego aéreo, fundamentalmente nas áreas de grande rotatividade (low cost) e mercadorias, qual a justificação para a construção de um aeroporto de elevado investimento?
c) Qual a expectativa do impacto da desactivação da Portela no Turismo de negócios? Alguém acredita que Lisboa será escolhida para encontros das multinacionais, quando o aeroporto da capital fica a mais de 30 minutos da cidade?
A OTA é uma decisão irracional e irresponsável que tem que ser combatida em nome da competitividade da economia: Ironicamente o argumento utilizado para quem a defende!
3,1 milhões ou 3,1 mil milhões?
ResponderEliminarCada cavadela sua minhoca. Quanto mais se desenrola este novelo maiores são as “surpresas” que nos angustiam e interpelam. A verdade é que este tipo de obras movimenta tais interesses que só com muita coragem e determinação se consegue fazer agulha relativamente a decisões políticas insensatas ou precipitadas. Espero que o governo ainda esteja a tempo, sem prejuízo de uma solução para o congestionamento do aeroporto da Portela, de alterar o rumo escolhido. Tenho, porém, fundadas dúvidas que tal aconteça. Seria necessária muita humildade democrática. O decisor político teme sempre que a oposição marque pontos à boleia de um recuo desta natureza… Faz mal, pois estou convencido de que, se fosse bem explicado, os cidadãos agradeceriam esta mudança estratégica.
ResponderEliminarCaro Ruy,
ResponderEliminarTem toda a razão, são € 3,1 mil milhões no cenário menos desfavorável.
Peço desculpa pelo lapso.
E agora, perguntando uma coisa que não tem bem a ver com o dinheiro, esse Robert Mugabe não é aquele "grande democrata" que é o Presidente do Zimbabwe e que já passou do prazo de validade assim há algum tempo?
ResponderEliminarQuer dizer, essa ideia fixa de fazer o aeroporto na OTA já é má o suficiente, espero que não tenham a triste ideia de lhe pôr o nome dessa criatura, quer dizer... é que me começa já a faltar o ar.
Exactamente, Caríssimo Antrax, exactamente.
ResponderEliminarAlém disso, o glorioso Mugabe tem a seu crédito o facto de ter transformado o Zimbabwe de há 25 anos - então um dos mais bem organizados e prósperos de Africa -numa terra de famintos, com mais de 80% de desemprego e mais de 60% da população vivendo abaixo do limiar da pobreza (menos de 1 USD/dia).
Acha possível encontrar melhor nome para este projecto grandioso?
Acha que o Governo português poderia escolher melhor padrinho para a Ota?
Caro Dr.Tavares Moreira,
ResponderEliminarCom tantas polémicas e incertezas sobre este Projecto "OTA",
porque o BEI diz que
a construção do novo aeroporto de Lisboa "OTA", com um valor estimado de 3,2 mil milhões de euros, é um projecto elegível para financiamento do Banco Europeu de Investimento (BEI), tendo este sido contactado pelo Governo nesse sentido, segundo disse o presidente do BEI, Philippe Maystadt.
Porque???é para enganar o contribuinte??
Um abraço
Pedro Sérgio (Palmela)
Caro Tavares Moreira,
ResponderEliminarCom essa e a do "Allgarve" é que fiquei arrumado.
Vou emigrar. A sério, não há hipótese...
Agora a sério... onde é que foram buscar a criatura - com necessidades especiais (a.k.a mental impairment)- que teve essa ideia triste?... A sério, eu não quero acreditar...
Caro Pedro Sergio,
ResponderEliminarNão se impressione com o BEI/Philippe Maystadt.
Ao BEI o que interessa é emprestar dinheiro, neste caso com garantia do Estado ou equivalente.
Ao BEI pouco importa que o projecto seja bom ou mau para o País, tem uma visão - obvia - de prestamista.
Se depois o projecto vier a revelar-se um flop, o BEI já lá não estará ou se estiver tem as garantias de reembolso do capital que o colocam a coberto de qualquer insucesso.
O BEI ainda se preocupa menos connosco, contribuintes - não se preocupa mesmo nada, para sermos realistas.